Chance de depressão na vida adulta é menor entre jovens sociáveis

Segundo levantamento norte-americano, adolescentes que conseguem fazer bons amigos têm menos chances de sofrer, na idade adulta, de problemas como ansiedade, depressão e estresse

por Vilhena Soares 18/09/2015 15:00

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Amigos na adolescência ajudam a evitar depressão na vida adulta (foto: SXC.hu)
“O seu coração é uma casa de portas abertas. Amigo, você é o mais certo das horas incertas.” A letra de uma das mais famosas músicas interpretadas por Roberto Carlos ressalta o valor e a confiança que uma amizade verdadeira oferece às pessoas. Mas, além de carinho e consolo, os parceiros que estão ao nosso lado, mesmo nos momentos mais difíceis, fazem bem também à saúde, indica um estudo publicado recentemente na revista Psychological Science. No trabalho, os autores analisaram o efeito dos melhores amigos da adolescência e concluíram que contar com esse tipo de apoio nessa fase da vida reduz as chances de problemas como depressão e estresse no começo da idade adulta.

Os pesquisadores já desconfiavam que fazer parte de grupos que oferecem relações de apoio durante a adolescência ajudaria a reduzir esses e outros problemas. Mas, para dar validade a suspeita, eles resolveram realizar um levantamento amplo, que acompanhou 171 homens e mulheres americanos dos 13 aos 27 anos.

Cada voluntário, quando tinha entre 13 e 17 anos, informou aos cientistas quem era seu melhor amigo do mesmo gênero para que ele também participasse do estudo. Nessa idade, os pares preencheram um questionário de avaliação da qualidade da amizade, que incluía questões sobre grau de confiança, comunicação e alienação na relação. A partir dos 25 anos, o grupo teve sua saúde avaliada anualmente até os 27. Nessas entrevistas, eram colhidas informações sobre qualidade de vida, sintomas ligados à ansiedade e à depressão, massa corporal e diagnósticos de doenças recebidos nos anos anteriores.

Proximidade
Os resultados mostraram que amizades íntimas de alta qualidade na adolescência podem ser relacionadas a uma melhor condição de saúde na idade adulta, por volta dos 27 anos, mesmo considerando fatores que podem influenciar a condição geral do indivíduo, como a renda familiar e o uso de drogas. “Estes resultados indicam que permanecer perto, em vez de se separar de seus ‘pares’ na adolescência, possui implicações para a saúde física do adulto”, afirma, em comunicado, Joseph Allen, coautor do estudo e psicólogo da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos.

O investigador explica que mesmo as dificuldades passadas juntas na puberdade, se vividas de forma afetuosa pelos amigos, podem trazer benefícios. “Os relacionamentos fornecem algumas das experiências emocionais mais intensas na vida dos adolescentes, que ocorrem mesmo quando traz custos significativos para o indivíduo. A interação, que coloca os desejos de seus pares à frente de seus próprios objetivos, está ligada à redução do estresse da vida”, destaca Allen.

Para Cristiane Francisco Alves Lorga, psicóloga do Instituto Terapia Sistêmica (ITS), em São Paulo, a pesquisa americana reforça a importância das relações fora do círculo familiar. “Quando falamos de famílias estruturadas, a socialização que temos com nossos parentes é muito diferente da que mantemos com amigos, principalmente quando você é adolescente, um período em que há necessidade de ser diferente dos pais”, avalia a especialista, que não participou do estudo. “É nessa época que você escolhe seus pares, pessoas com as mesmas filosofias e que te dão uma boa base de relacionamentos”, completa.

Lorga destaca que a necessidade de ser compreendido é algo que realmente pode fazer diferença para a saúde psicológica. “Uma coisa é saber que você conta com a família, mas ter um amigo pode elevar seu grau de sinceridade, de lealdade e privacidade, elementos que os amigos compartilham entre si”, destaca.

Prevenção
Segundo os cientistas americanos, saber que a amizade ajuda a reduzir problemas de saúde como depressão e ansiedade auxilia a prevenir esses problemas. “De uma perspectiva de risco e prevenção, a dificuldade em formar relacionamentos íntimos na adolescência pode, agora, ser considerada um marcador de risco para problemas de saúde a longo prazo”, explica Allen. Os pesquisadores acreditam que esforços que o incentivo à formação de vínculos durante a adolescência pode se tornar uma estratégia de promoção da saúde.

Na avaliação de Lorga, ter grandes amigos é uma vantagem em todas as idades. “Tenho prestado muita atenção nisso em meus clientes. Grande parte deles relata que não possui amigos, e isso reflete em desamparo e solidão. É importante valorizar nossos amigos, seja aquele que vai conosco ao bar, ou o outro com quem viajamos. Ter pares reduz o risco de problemas que podem ter reflexos em relacionamentos amorosos e até na profissão. Amigos são fundamentais para a vida inteira, principalmente hoje em dia, quando estamos vivendo mais, e um dos problemas mais recorrentes em pessoas mais velhas é a solidão”, opina a especialista.

"A dificuldade em formar relacionamentos íntimos na adolescência pode, agora, ser considerada um marcador de risco para problemas de saúde a longo prazo” - Joseph Allen, coautor do estudo e psicólogo da Universidade de Virgínia