Estudo mostra que pais têm dificuldade para enxergar o sobrepeso dos filhos

Muitas vezes, isso acontece por medo de julgamento: reconhecer o problema pode significar que não cuidam bem de suas crianças

por Paloma Oliveto 02/06/2015 11:00

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CB / D.A Press
Segundo a OMS, um terço das crianças e dos adolescentes já está obesa (foto: CB / D.A Press)
Aos olhos dos pais, eles são uma fofura. Pernas roliças, barriga redonda, bochechas boas de apertar. Essas características podem, contudo, ser o sinal de alerta do excesso de peso. A epidemia de obesidade que se espalha por todo o mundo não é um problema exclusivo de adultos: pessoas de todas as idades se encaixam no quadro. Segundo a Organização Mundial da Saúde, um terço das crianças e dos adolescentes já está obesa. No Brasil, 15% dos indivíduos dos 10 aos 19 anos encontram-se acima do peso e, na faixa de 5 a 9, a gordura corporal em demasia chega a atingir 38,8% da população.

Ainda assim, um estudo publicado no jornal médico Childhood obesity indicou que os pais subestimam o sobrepeso e a obesidade nos filhos. Essa é uma tendência que vem piorando ao longo do tempo, afirmaram os pesquisadores. Depois de analisar dados epidemiológicos dos institutos de saúde e nutrição dos Estados Unidos coletados de 1988 a 1994 e 2007 a 2012, a equipe de Dustin T. Duncan, do Departamento de Saúde Populacional da Universidade de Nova York, constatou que, atualmente, 94,9% das famílias avaliam erroneamente o status corporal das crianças em idade pré-escolar (2 a 5 anos), afirmando que estão no peso normal quando, na verdade, se encaixam nos padrões de sobrepeso/obesidade. Esse percentual é 30% maior que o verificado no período anterior.

A pesquisa mostrou que os pais não subestimam apenas um leve excesso de peso. De fato, algumas famílias avaliaram seus filhos já obesos como se estivessem em forma ou mesmo abaixo do peso normal. “Principalmente nessa fase da vida, isso é muito grave. Porque é no estágio pré-escolar que as atitudes e os comportamentos, como preferências e hábitos alimentares, além de atividade física, são moldados”, observa Duncan. “Essa é uma idade crítica para manter um estilo de vida saudável, que a criança provavelmente adotará para o resto da vida. A percepção que os pais têm do peso do filho pode ser um importante fator de prevenção da obesidade, ou de facilitação dessa condição, no caso da percepção ser errada”, diz.

O pesquisador esclarece que essa não é a primeira vez que se constata, estatisticamente, a tendência dos pais de subestimar o peso das crianças. Contudo, diz que, até onde sabe, a análise foi pioneira ao indicar que esse problema está piorando ao longo dos anos. Ele diz que é preciso investigar melhor o motivo por trás desse aumento. Mas Duncan tem um palpite: “É provável que a percepção errada aumente à medida que também cresça a prevalência da obesidade infantil”, afirma.

Diretora do Departamento de Obesidade Infantil da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), a endocrinologista Maria Edna de Melo observa que, no geral, pais obesos de fato tendem a enxergar os filhos como estando com peso normal. Ela ressalta que isso ocorre até nos consultórios médicos. “Muitas vezes, o profissional de saúde também está acima do peso e acaba subestimando a obesidade da criança”, diz. Outro motivo apontado por Dustin T. Duncan na pesquisa da Childhood obesity é o medo do julgamento. “Para alguns pais, reconhecer que os filhos estão com um peso não saudável pode ser o mesmo que dizer que eles não cuidam bem de suas crianças”, diz o pesquisador.

Estereótipo
Há um outro problema, destaca Alyssa Lundahl, psicóloga da Universidade de Nebraska, nos EUA, que realizou um levantamento semelhante ao conduzido por Duncan. “O estereótipo é algo muito forte. Normalmente, o sobrepeso e a obesidade infantil são retratados de forma severa, com imagens de obesos mórbidos, o que pode distorcer a compreensão que os pais têm do que é o sobrepeso e a obesidade”, pondera a especialista americana. No estudo que ela coordenou, publicado na revista Pediatrics, uma das formas de avaliar a percepção sobre o peso das crianças era mostrar aos participantes fotos de meninos e meninas com peso baixo, peso normal, sobrepeso e obesidade. Mais de 50% das imagens foram analisadas de forma incorreta.

A endocrinologista Maria Edna de Melo, que também coordena a liga de obesidade infantil do Hospital das Clínicas da USP, observa que não se deve confiar nos olhos quando o assunto é peso. “Eu mesma, às vezes, olho uma criança e acho que está com peso normal porque algumas são aparentemente magras”, reconhece. Porém, ela jamais deixa de colocar as informações dos pacientes na curva de escore-z de IMC, o método apropriado para calcular a obesidade infantil. A curva indica a posição relativa do índice de massa corporal da criança dentro de sua faixa etária e sexo. Para que os pais possam fazer essa avaliação, a página da Abeso oferece a ferramenta on-line, em www.abeso.org.br/atitude-saudavel/curva-obesidade.

O autor da pesquisa publicada na Childhood obesity defende que os profissionais de saúde se envolvam mais na questão do peso dos pequenos pacientes e passem a orientar melhor os pais. “Precisamos que a comunicação entre pediatras e pais seja mais eficaz. O reconhecimento do status de peso é o primeiro passo para conseguirmos efetivar estratégias bem-sucedidas de combate à obesidade”, afirma.

Quanto mais cedo isso for feito, melhor. Maria Edna de Melo conta que no Hospital das Clínicas da USP, as crianças de até 5 anos são as mais fáceis de trabalhar porque o controle da alimentação e das atividades físicas nessa faixa depende quase exclusivamente dos pais. Dos 5 aos 12, os pequenos passam a questionar mais. Somente entre 14 e 15 anos, é que se mostram dispostas a deixar a obesidade para trás. “Nessa idade, elas já passaram por muito sofrimento, muito bullying”, observa a médica.

38,8%
Percentual das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos com excesso de gordura corporal

Mike Blake / Reuters
Mulheres obesas em parque nos Estados Unidos: epidemia mundial (foto: Mike Blake / Reuters)


Associações médicas alertam sobre dietas que usam de hormônio de gravidez
De acordo com os especialistas, "dieta do hCG" tem efeitos colaterais graves, como trombose e dificuldade para engravidar

Preocupadas com o interesse crescente dos pacientes na chamada “dieta do hCG”, duas importantes associações médicas publicaram, em conjunto, um posicionamento contrário a esse modismo, baseado em um regime hipocalórico e em aplicações do hormônio da gravidez. De acordo com os médicos da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), além de não promover o emagrecimento, o hCG utilizado para esses fins coloca a saúde em risco, com efeitos que vão de trombose a dificuldades para engravidar.

O uso do hormônio em programas de redução de peso não é novo, mas voltou à moda recentemente e com mais força do que nunca. “Houve um aumento assustador de pessoas que começaram a procurar médicos associados da Sbem e da Abeso, dizendo que ouviram falar nessa dieta e que estão pensando em adotá-la. Um volume realmente muito grande”, conta o endocrinologista Alexandre Hohl, presidente da Sbem. “Vários médicos, não só endocrinologistas, começaram a passar essa dieta, e o número de dúvidas foi aumentando também.” De acordo com ele, algo semelhante ocorreu nos Estados Unidos no ano passado, estimulando a sociedade de endocrinologia de lá a condenar publicamente o uso do hormônio para emagrecimento, em dezembro.

A endocrinologita Cintia Cercato, presidente da Abeso, conta que, entre as décadas de 1950 e 1970, um médico americano chamado Albert T.M. Simeons publicou alguns estudos propondo esse tratamento. Ele investigava a ação do hCG em uma síndrome metabólica quando notou que pacientes obesos emagreceram. Contudo, a associação foi meramente observacional: Simeons não se aprofundou no estudo de causa e efeito. “O tratamento virou febre. Por isso, vários institutos começaram a fazer pesquisas bem conduzidas e controladas, comparando o uso de hormônio com placebo. Todas mostraram que o hCG não tem efeito nenhum. São evidências muito consistentes de que ele não funciona para emagrecer”, afirma.

Riscos
Na realidade, pessoas que defendem o sucesso da dieta do hCG emagrecem não por causa do hormônio, mas devido ao corte de calorias. “A pessoa faz a dieta de 500 calorias diárias e 40 nutrientes importantes deixam de ser absorvidos. Obviamente, ela vai emagrecer, ao custo de ter a restrição nutricional. Toma um hormônio caro e com efeitos adversos. É uma loucura. Todo mundo busca mágica. Ninguém quer fazer o caminho das pedras, que é uma dieta equilibrada associada a exercícios regulares”, constata Alexandre Hohl. Ele lembra que regimes restritivos e de emagrecimento muito rápido geralmente são seguidos por um ganho de peso quase imediato, o chamado efeito sanfona.

O hCG é um hormônio produzido naturalmente apenas durante a gravidez. Ele estimula a secreção de estrógeno e progesterona e inibe uma nova ovulação. Em alguns casos, médicos utilizam o hormônio para o tratamento de condições como a criptorquidia, quando o testículo não desce para a bolsa escrotal. Contudo, utilizado para emagrecimento, pode causar trombose, aumento de mamas nos homens, dor nas mamas, infecção no local da aplicação e alteração da fertilidade. “O hCG é uma medicação, a população precisa ser alertada de que não é para emagrecimento”, ressalta a endocrinologista Cintia Cercato.

Para o presidente da Sbem, a febre da dieta do hCG pode ser um dos reflexos da proibição, no Brasil, da venda de derivados das anfetaminas, medicamentos que tiram a fome. Outro remédio usado para esse fim, a sibutramina também teve sua prescrição restrita. “As pessoas acabam sempre procurando muletas para conseguir emagrecer. A mensagem para médicos e pacientes é que não devem fazer uso da dieta do hCG devido à restrição muito grave dos nutrientes e dos riscos de efeitos adversos do hormônio. É ilógico querer emagrecer colocando a saúde em risco”, alerta Hohl.

"É ilógico querer emagrecer colocando a saúde em risco" - Alexandre Hohl, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia