Tradicionais guloseimas do cinema são uma ameaça para a boa forma

Saiba como neutralizar essas tentações

por Revista do CB 21/05/2015 09:20

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Minervino Júnior  /  CB / D.A Press
Falta transparência nas informações nutricionais para os consumidores (foto: Minervino Júnior / CB / D.A Press)
Gordura, sal e açúcar. Eles são as estrelas dos lanches para acompanhar os filmes. Enquanto os olhos se distraem com as cenas, as mãos não param de se movimentar entre o pacote de pipoca e o copo de refrigerante. Quase sem perceber, é possível ingerir a mesma quantidade de calorias de um fast food. Uma pipoca tem valor calórico semelhante ao do hambúrguer: cerca de 500kcal. Não é muito, mas a situação piora se tiver a participação de refrigerante, balinhas e chocolates. Uma combo grande com confeitos de chocolate ou alcaçuz chega a ter quase 1.500 kcal. Apesar dessas características, os nutricionistas avisam: é errado culpar o cinema pelos quilos a mais ou outros danos à saúde. Os problemas surgem de maus hábitos e não devido a refeições esporádicas.

A pipoca, sozinha, é um carboidrato rico em fibras, o que ajuda no funcionamento do intestino e na sensação de saciedade. O lado ruim está na forma que ela é produzida, com excesso de óleo e sal (ou açúcar, no caso das doces), e adição de manteiga. A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a Proteste, analisou pipocas oferecidas em nove cinemas de São Paulo, em 2012. Os dados mostram que não existe um padrão e a quantidade de calorias varia bastante, até entre cinemas de uma mesma empresa. O valor calórico de uma pipoca grande variou de 510kcal a 1.110kcal.

A reportagem entrou em contato com as redes Cinemark, Espaço Itaú e Kinoplex, mas elas não tinham dados quanto às calorias dos produtos oferecidos. Falta transparência nas informações nutricionais para os consumidores. Em 2009, uma associação de consumidores americana, a Center for Science in the Public Interest, analisou os alimentos de três redes de cinema nos Estados Unidos. Nos padrões do país (porções maiores do que as brasileiros), um combo médio com pipoca e refrigerante da empresa Regal tinha 1.610 kcal. “É como comer seis ovos mexidos com queijo cheddar, quatro tiras de bacon e quatro salsichas antes de as luzes acenderem”, compara a associação.

As companhias da pipoca não ajudam. O refrigerante tem excesso de açúcar e de acidez e, se consumido com frequência, pode provocar problemas como gastrite. “É uma bebida de caloria vazia, tem poucos nutrientes”, acrescenta a nutricionista Marcelle Vieira. No caso dos doces, eles são fontes de açúcares e gorduras. Resistir às guloseimas não costuma ser tarefa fácil. “Esses sabores viciam o nosso cérebro”, destaca Marcelle. Além de se habituar ao gosto, há a influência do ambiente, com os estímulos provocados por cheiro, som e visão, e incentivos dos colegas. “O meio influencia muito a boicotar a dieta”, afirma a nutricionista.

Ela ressalta, no entanto, que o deslize de um dia não deve ser motivo de preocupação e, sim, o cotidiano. “Eventualidades não vão atrapalhar. Às vezes, a pessoa engorda e põe culpa no chocolate que comeu ontem. Não é assim. O que atrapalha são os hábitos errados”, destaca Marcelle. Ela recomenda que, nos dias de alimentação exagerada, a pessoa aproveite para ter um dia mais ativo e pratique exercícios com intensidade um pouco maior. Ela explica que tão importante quanto o consumo de alimentos é o gasto de energia. Cada pessoa deve se alimentar de acordo com a taxa metabólica, a energia gasta pelo organismo. “Dieta não é escravidão, não é culpa. É mudar a mente e entender o seu metabolismo”, afirma a nutricionista.

A estudante Maitê Kenupp, 18 anos, segue essa linha. Ela se preocupa em fazer exercícios e manter a alimentação equilibrada. Durante a semana, ela acorda cedo, por volta das 5h, para ter tempo de correr cerca de uma hora. Mas, depois de uma semana de provas, ela não deixa de curtir um cinema com os amigos e se permitir algumas guloseimas. No entanto, Maitê e os colegas preferem ir ao supermercado do que às lanchonetes dos cinemas. Eles olham o lado da economia. “O preço da pipoca é absurdo. É só olhar o preço que a fome some”, critica o estudante Rodrigo Azevedo, 18 anos. O ingresso pode sair mais barato que um combo de pipoca, que costuma custar entre R$ 20 e R$ 30, principalmente se a pessoa paga meia-entrada. A substituição por produtos de supermercado sai mais barata para o bolso, porém, para o corpo, o custo é semelhante.

A nutricionista Joana Lucyk destaca que muitos industrializados têm excesso de açúcar, gordura, sódio e aditivos químicos. “Elas podem ser gatilhos para processos inflamatórios, que se relacionam a problemas como pressão alta, obesidade e diabetes”, afirma Joana. A especialista aponta que um dos motivos para o desequilíbrio é a sobrecarga do processo de detoxificação (ou desintoxicação) do organismo. Ele é responsável por eliminar componentes “estranhos”, maléficos ou desnecessários, na maior parte pela atuação do fígado e das bactérias intestinais. “As substâncias começam a se acumular, principalmente no tecido adiposo”, pontua Joana.

A operadora de caixa Etiene Ribeiro, 38 anos, se preocupa com a saúde dela e a dos filhos. Ela conta que tem facilidade para engordar e o filho mais velho, de 13 anos, teve colesterol alto. Para alcançar níveis adequados, ela o colocou em acompanhamento nutricional e evitou oferecer alguns alimentos, principalmente embutidos, como salsicha e miojo. Mas ela libera o refrigerante, a pipoca e o salgadinho quando a família vai ao cinema, geralmente uma vez por mês. O pai, o servidor público Wadas Ribeiro, 40, segue os hábitos dos filhos. “Tudo que eles fazem de errado, eu faço junto”, brinca. A nutricionista Marcelle Vieira destaca que as crianças seguem o comportamento dos pais. A recomendação é ser firme quando preciso, não ceder sempre aos pedidos, e buscar diversificar a alimentação no dia a dia.

Para evitar consequências negativas, o cuidado deve estar presente antes e depois da sessão de cinema. “É a frequência de consumo que faz a resposta do organismo”, enfatiza a nutricionista Joana Lucyk. Ainda assim, ela recomenda tentar minimizar os efeitos de um lanche pouco saudável. “Comprar um porção menor e dividir já significa menos trabalho para o corpo”, pondera.

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Soraia Piva / EM / D.A Press
ARTE: Soraia Piva (foto: Soraia Piva / EM / D.A Press)


Opções mais leves
Experimente levar novos alimentos para o cinema. Veja algumas dicas da nutricionista Marcelle Vieira:

  • Nunca vá ao cinema com fome. Assim, é mais fácil se controlar e comer apenas um pequeno lanche;
  • Faça substituições saudáveis. Não troque a pipoca por fast food ou salgadinhos;
  • Aposte em castanhas, sementes e frutas secas. É bom estar atento ao rótulo das embalagens. Os ingredientes aparecem em ordem decrescente, de acordo com a quantidade. É melhor evitar produtos com açúcar entre os três primeiros componentes;
  • Escolha porções menores;
  • Evite refrigerantes. Uma alternativa saborosa são as águas aromatizadas. Basta deixar rodelas de frutas e temperos imersos na água durante algumas horas na geladeira. Morangos, hortelã, alecrim e limão são algumas sugestões da nutricionista. Chás gelados e sucos de frutas industrializados também podem conter grandes quantidades de açúcar.
  • Prefira o chocolate meio amargo. Ele possui maior quantidade de cacau, que tem propriedades antioxidantes, importantes no combate ao envelhecimento precoce e na prevenção de doenças crônicas. Os sabores ao leite e branco têm mais gordura e menos cacau.
  • Lembre de que as empresas não podem impedir a entrada de produtos similares adquiridos em outros locais. O consumidor tem direito de escolher livremente o local de compra. No entanto, os cinemas podem impedir a entrada de alimentos diferentes dos vendidos na bombonière, a fim de preservar a higiene (como pizzas) e a segurança (garrafas de bebida) dos demais consumidores.

No início, a pipoca não era aceita nos cinemas, voltados para um público mais seletivo. Considerava-se que ela provocava sujeira, barulhos desnecessários e gastos adicionais, como a instalação de exaustores para liberar o cheiro. A depressão econômica iniciada nos anos 1920, nos Estados Unidos, mudou a mentalidade dos empresários americanos. Primeiro, os cinemas fizeram acordos com os vendedores de pipocas em frente aos cinemas e, posteriormente, passaram a fabricar e vender o produto dentro dos estabelecimentos. O petisco, de 5 a 10 centavos na época, era um luxo que a maioria das pessoas podiam pagar. A tendência se espalhou rápido e salvou as salas de cinema da recessão.

Fonte: Site da revista Smithsonian, baseado no livro Popped culture: a social history of popcorn.