Ortopedistas alertam sobre cuidados para evitar os males dos pés

Lesões podem ser causadas por doenças crônicas, como artrite, ou pelo uso de calçados inadequados

por Márcia Maria Cruz 03/05/2015 14:00

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SXC.hu/Banco de Imagens
(foto: SXC.hu/Banco de Imagens)
Sentir os sapatos apertados e não descalçá-los é improvável, é impossível, como sabiamente cantou o Skank. O desconforto nos pés desestrutura e irrita qualquer pessoa. A letra dos músicos mineiros está em consonância com ortopedistas, que estiveram em Belo Horizonte e chamaram a atenção para os cuidados que as pessoas devem ter visando sempre à sensação de pisar em nuvens. Os problemas nos pés trazem sofrimentos a homens e mulheres em diferentes fases da vida. Cerca de 600 especialistas discutiram tratamentos mais modernos no 17° Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, que se encerrou neste sábado no Minascentro.

As lesões dos pés e tornozelos podem ser causadas por doenças crônicas, como a artrite, ou pelo uso de calçados inadequados. Também podem resultar de deformidades congênitas e traumas. Os problemas podem surgir durante uma caminhada ou ao subir/descer uma escada. “O número de patologias ortopédicas é muito grande”, afirma o ortopedista Wilel Benevides.

Os problemas podem ser classificados em diferentes categorias. Uma delas pode ser causada por desgaste articular, como é o caso das artroses. Há ainda as patologias dos tendões, nos quais se enquadram as doenças inflamatórias, como tendinites e tendinoses. Outro grupo de transtornos é fruto de lesões traumáticas, quando se machucam ou se cortam os tendões. A prática esportiva indevida pode resultar em lesões nos ligamentos e entorses, quando se deslocam as articulações em movimentos bruscos.

As lesões esportivas são mais comuns entre os jovens e cerca de 90% delas atingem os atletas. As degenerativas acometem principalmente os idosos, são desgastes tanto nas articulações quanto nos tendões. São patologias que geram muita dor. Os homens são mais suscetíveis aos traumas relacionados à prática esportiva e as mulheres, até mesmo pelo uso de salto alto, desenvolvem mais joanetes. No entanto, ambos os sexos podem ter a fasciíte plantar. Trata-se de uma banda recoberta por uma camada de gordura, uma espécie de amortecedor, que contribui na absorção dos impactos do pé contra o solo. Entre os fatores que podem levar ao aparecimento das fasciítes estão o excesso de peso, a gravidez, a diabetes e o uso de calçado inadequado.

ESPORÃO

O esporão calcâneo também atinge homens e mulheres. Trata-se de patologia causada por uma pequena projeção de osso que se forma na base do calcanhar. Durante a marcha, cada um dos calcanhares suporta o peso de todo o corpo de forma alternada. Essa carga é aliviada por camadas de tecido situadas sob o calcanhar. Quando se pratica atividade física sem um adequado aquecimento, pode ocorrer sobrecarga para os músculos gêmeos (panturrilha) e para o tendão calcâneo, que se insere no osso calcâneo. Quando esse tendão está sob estresse, essa pressão é transmitida para a planta do pé, causando inflamação ou pequenas rupturas nos tecidos, explica Wilel Benevides. Da mesma forma, os tornozelos estão sujeitos a graves traumas. Eles correspondem a cerca de 25% de todas as lesões desportivas. As crianças não estão livres dos riscos. Elas podem ter lesões principalmente durante a prática de atividade física.

Diagnóstico e tratamentos

O diagnóstico das doenças dos pés pode ser feito em exame clínico e confirmado por meio de exames de imagem, como o raio X, ressonância e ultrassonografia. Os tratamentos dependem do nível das lesões e poderão ser desde uma simples imobilização, prescrição de medicamentos e até intervenções cirúrgicas.

Entre as técnicas de vanguarda estão as abordagens para reconstrução dos ligamentos por artroscopia, procedimento cirúrgico minimamente invasivo que permite, com a ajuda de câmeras, realizar a intervenção cirúrgica. São abertos dois pequenos furos por onde os cirurgiões passam os instrumentos e a câmera. As cirurgias minimamente invasivas têm cortes menores, o período de cicatrização é mais rápido e os riscos de complicações, como infecções hospitalares, são menores.

Para evitar as patologias nos pés, o ortopedista Wilel Benevides diz que é preciso atenção na hora de escolher os calçados, que devem ser macios, confortáveis e adequados à atividade que será realizada. Ele faz um alerta, em especial às mulheres, principalmente pelo uso de saltos altos. “São o principal motivo de lesões entre as mulheres, causando joanetes e neuromas (que são inflamações nos nervos dos pés)”, esclarece o médico.

Segundo ele, não são aconselhados os saltos com mais de 7 centímetros, mas a solução também não é o uso de sandálias muito baixas. As chamadas rasteirinhas podem levar a uma série de problemas nos pés, como a tendinite e à fasciíte plantar, que se caracteriza por dor no calcanhar causada pela inflamação de uma banda espessa de tecido, designada como fáscia plantar, que ocorre ao longo da planta do pé e liga o calcanhar aos dedos. (MMC)

Ilustração
(foto: Ilustração)
Duas perguntas para...

Rodrigo Moura, fisioterapeuta


1 - Os sapatos podem gerar ou agravar problemas nos pés?

Sem dúvida. Para mulheres, os sapatos considerados inofensivos têm saltos de até 3cm. A partir daí eles deslocam o centro de gravidade do corpo para a frente. Os mais usados, com 7 e 10cm, podem concentrar até 90% da descarga do peso na parte anterior do pé (em direção aos dedos, do médio pé para frente). Quando se muda o centro da gravidade na pisada aumenta-se a solicitação de músculos posteriores da perna, a panturrilha. Há um efeito cascata de baixo para cima. O centro de gravidade está alterado e pode afetar o quadril e, principalmente, a coluna. Em homens e mulheres, os problemas dependem da pisada.

2 - O que deve ser observado ao se escolher um calçado?

Temos a pisada pronada, chamada de pé chato. A outra pisada é a supinada, quando o pé é cavo. A escolha do calçado depende desse tipo de pisada. O pé cavo necessita maior amortecimento e calçados mais macios, e o pronado de um calçado mais rígido. Os sapatos têm prazo de validade. Um bom tênis para caminhada suporta de 500 a 700 quilômetros. Os corredores precisam ter atenção e observar se eles não estão com deformidades. Se tiver, está na hora de trocar. Também é importante observar o calçado do dia a dia, olhando a questão do conforto e do desgaste do solado. Dependendo da forma como a pessoa pisa, o solado pode se desgastar de um lado, alterando a pisada, o que afeta a postura.