Saia do sofá porque a ciência comprovou que evita o diabetes

Pesquisadores colocaram jovens sedentários para se exercitar e constataram que as atividades físicas evitam mais a doença metabólica do que a ingestão de remédios. Os voluntários também passaram a assistir menos à tevê

por Vilhena Soares 10/04/2015 15:00

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Passar horas em frente à televisão pode aumentar as chances de desenvolvimento do diabetes, indicam estudos recorrentes. Agora, um consórcio internacional de cientistas mostra que se levantar do sofá e varrer o sedentarismo da rotina afasta mais a doença metabólica do corpo do que recorrer a medicamentos preventivos. A pesquisa foi publicada na edição de hoje da revista especializada Diabetologia. Segundo os autores, trata-se de mais uma constatação de que a mudança de hábitos provoca impactos indiscutíveis ao organismo humano.

Os cientistas analisaram dados de 3.234 americanos que sofriam com excesso de peso e tinham até 25 anos. Uma parcela dos participantes do estudo foi tratada com metformina — droga comumente usada para prevenir a doença metabólica. Outra parte passou a realizar atividades físicas. O tempo usado em frente à tevê serviu como referencial para a condição de sedentário.

“O sedentarismo é descrito como o tempo que se passa em atividades com baixo gasto energético, como assistir à televisão, usar o computador ou ficar sentado durante viagens. Tem sido identificado também como um potencial fator de risco para diabetes e síndrome metabólica”, destacaram os autores no texto publicado na revista científica.

Um dos resultados a que chegaram foi que o aumento de exercícios físicos reduziu mais os riscos de desenvolvimento do diabetes do que a ingestão do remédio. “A mudança do estilo de vida resultou em números mais positivos em indivíduos com alto risco de diabetes em desenvolvimento”, destacaram os autores. A condição dos participantes do estudos era crítica. Em média, tinham o risco aumentado em 3,4% de ter a enfermidade a cada hora dedicada à televisão.

Os pesquisadores também notaram que o tempo dedicado aos programas de televisão foi reduzido nos voluntários que passaram a se exercitar mais. “Esses resultados são particularmente notáveis já que a diminuição do tempo se deu apesar da ausência de metas no programa focadas nessa redução específica”, destacou, em comunicado, Andrea Kriska, uma das autoras e pesquisadora da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.

Valdo Virgo/CB/D.A Press
Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais (foto: Valdo Virgo/CB/D.A Press)


Ação conjunta

Endocrinologista do Hospital Santa Luzia de Brasília, Cristina Blankenburg ressalta que a nova pesquisa faz parte de uma tendência de trabalhos que exploram a importância da atividade física para reduzir os riscos do diabetes. “É algo que temos visto com frequência, muitos estudos têm mostrado que não adianta controlar a alimentação e não realizar atividades físicas porque ambas as atitudes estão ligadas”, diz. “Podemos ver isso com este novo, que mostrou o quanto fazer exercícios rende mais resultados positivos do que o uso de remédios.”

Segundo a médica, o exemplo usado pelos cientistas — o tempo gasto vendo televisão — é um bom parâmetro. Acaba ilustrando as barreiras criadas por alguns indivíduos para não se exercitar. “Mostra que a pessoa relata que não tem tempo de fazer exercícios, mas tem tempo para assistir à televisão”, complementa. “Conseguimos ver diferença nos pacientes que adotam as atividades físicas. O difícil é convencer as pessoas disso. Esses estudos servem como um incentivo, com evidências claras dos resultados positivos obtidos à saúde.”

Sérgio Atalar Dib, endocrinologista e professor associado da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que as atividades físicas conseguem um resultado melhor que os remédios pois agem de forma mais completa no corpo humano. “Elas fazem com que a ‘atualização’ da glicose ocorra no corpo todo e não só em um lugar específico, como acontece com os remédios. Dessa forma, o risco de ficar diabético realmente diminui”, explica.

Dib também acredita que as pessoas que sofrem com o maior risco da doença seriam as mais beneficiadas ao abandonarem o sedentarismo. “Quem possui histórico da doença na família deveria fazer essas atividades pelo menos três vezes por semana, em períodos de 45 minutos. É algo possível de ser feito, basta se organizar e diminuir atividades corriqueiras, como ver televisão.”

O consórcio internacional de cientistas adota o mesmo discurso. Segundo eles, os resultados a que chegaram poderão ajudar em intervenções mais focadas de combate ao diabetes. “É provável que um programa de intervenção de estilo de vida que incorpore uma meta específica de redução do tempo que uma pessoa passa sentada resulte em maiores mudanças. Provavelmente, isso mostraria mais melhorias na saúde do que os resultados que são demonstrados nesse trabalho”, acredita Kriska.

"Quem possui histórico da doença na família deveria fazer essas atividades pelo menos três vezes por semana, em períodos de 45 minutos. É algo possível de ser feito, basta se organizar e diminuir atividades corriqueiras, como ver televisão” - Sérgio Atalar Dib, endocrinologista e professor da Universidade Federal de São Paulo