Cientistas usam impulsos elétricos para produzir neurônios

Equipe acredita que o efeito se repetirá em humanos e poderá ser usado no tratamento do mal de Parkinson

por Correio Braziliense 09/04/2015 13:00

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NTU Singapore/Divulgação
Segundo Lee Wei Lim (esquerda) e Ajai Vyas, a memória das cobaias melhorou após o procedimento (foto: NTU Singapore/Divulgação )
Em todo o mundo, 47 milhões de pessoas sofrem de demência. Um número que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, poderá triplicar até 2050. Na luta por um tratamento eficaz, cientistas da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, saíram à frente e descobriram uma forma de reverter o processo enviando impulsos elétricos para áreas específicas do cérebro, o que estimula o crescimento de novas células no órgão. O resultado da pesquisa, feita com modelos animais, foi publicado na  revista especializada eLife, da Sociedade Max Planck e do Wellcome Trust.

A técnica, conhecida como estimulação cerebral profunda (ECP), é um procedimento terapêutico que já vem sendo usado para tratamento de diversas condições neurológicas, como o mal de Parkinson e a distonia, problema caracterizado por contrações musculares involuntárias e espasmos. Alguns centros de pesquisa também investigam a eficácia dela contra doenças psiquiátricas — depressão e transtorno obsessivo-compulsivo, por exemplo. O método consiste em um implante cirúrgico, semelhante a um marca-passo, no crânio do paciente. O equipamento envia sinais elétricos para o cérebro, estimulando a ativação de circuitos específicos.

Agora, os cientistas asiáticos constataram que a ECP também pode ser usada para fazer nascer novas células cerebrais, mitigando os efeitos da demência e melhorando as memórias de curto e longo prazos. A pesquisa mostrou que os neurônios podem ser formados a partir do estímulo da parte frontal do cérebro, que está envolvida na retenção das lembranças. Além disso, as novas populações celulares reduziram a ansiedade e a depressão, e promoveram melhoras nos testes de aprendizagem. “Cerca de 60% dos pacientes não respondem aos tratamentos antidepressivos, nossa pesquisa abre novas portas para opções mais efetivas”, diz Lee Wei Lim, professor da Universidade de Sunway, na Malásia, e coautor do estudo.

A pesquisa foi conduzida com ratos de meia-idade. Os cientistas implantaram eletrodos que mandavam impulsos microelétricos a cada minuto para o cérebro dos animais. Os roedores passaram por testes de memória antes e depois da estimulação, alcançando bons resultados em relação à retenção de informações mesmo passadas 24 horas da sessão de ECP.

De acordo com Ajai Vyas, professor de ciências biológicas da Universidade Tecnológica de Cingapura e coautor do estudo, é possível que esses resultados sejam replicados em humanos. “O cérebro dos ratos e seu sistema de memória são muito similares aos nossos”, diz. Além disso, não houve complicações — os animais viveram normalmente, atingindo a expectativa de vida média de 22 meses. “Em outros estudos com humanos, também não foram reportados efeitos colaterais quando se estimula a região frontal do córtex cerebral”, esclarece.

Traumatismos

Por décadas, os cientistas tentam encontrar meios de gerar neurônios e, assim, incrementar a memória e a aprendizagem. Outra possibilidade terapêutica da criação de células cerebrais é o tratamento de traumatismos e danos nesse órgão. Como parte do ciclo natural da vida, os neurônios constantemente morrem e são repostos por novas células, mas, assim como ocorre em todo o organismo, à medida que se envelhece, a taxa de reposição celular vai diminuindo.

A área do cérebro responsável pela geração dos neurônios é conhecida como hipocampo, também envolvida no processo de formação, organização e retenção de memória. “Ao estimularmos a parte frontal do cérebro, novas células cerebrais são formadas no hipocampo, mesmo que ele não seja diretamente estimulado”, conta Lee Wei Lim.

"Cerca de 60% dos pacientes não respondem aos tratamentos antidepressivos, nossa pesquisa abre novas portas para opções mais efetivas” - Lee Wei Lim, professor da Universidade de Sunway