Mineira também vai enfrentar mesmo procedimento feito por Angelina Jolie

Dois anos depois de se submeter à dupla mastectomia, atriz americana anuncia que removeu ovários e trompas para prevenir câncer. Em Minas, cirurgia será feita por oftalmologista de Juiz de Fora

por Sandra Kiefer 25/03/2015 09:00

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AFP PHOTO / CARL COURT
Em artigo no New York Times, Angelina Jolie escreveu que o objetivo do anúncio é que outras mulheres em risco saibam das opções para vencer a batalha contra o câncer (foto: AFP PHOTO / CARL COURT )
A decisão sobre se submeter a uma cirurgia radical como forma de prevenir câncer é de caráter estritamente pessoal. Nem mesmo os médicos podem recomendar um procedimento desse porte contra a vontade da paciente. Só quem já passou pela experiência de detectar um nódulo maligno no próprio corpo, porém, é capaz de entender a atitude da atriz norte-americana Angelina Jolie. Ela anunciou ontem que vai entrar precocemente na menopausa, aos 39 anos, após a retirada das trompas e ovário, já tendo feito antes a dupla mastectomia preventiva, aos 37 anos de idade. “Minha dor é maior do que a dela, porque cheguei a ter câncer. Se pudesse voltar no tempo, teria me livrado antes dos desgastes da quimioterapia, perda dos cabelos e da angústia de ter enfrentado todo o processo”, diz a oftalmologista Andréa Toledo Bellini, de 43, moradora de Juiz de Fora, que se contabiliza como o oitavo caso na família de surgimento da doença.

Arquivo Pessoal
"Se pudesse voltar no tempo, teria me livrado antes dos desgastes da quimioterapia, perda dos cabelos eda angústia de ter enfrentado todo o processo" Andréa Toledo Bellini, oftalmologista, que teve câncer de mama e vai se submeter à cirurgia para retirada do útero e dos ovários em julho (foto: Arquivo Pessoal )
Pensando principalmente na filha de 7 anos, a médica marcou para julho a cirurgia preventiva de ooforectomia para a retirada do útero e dos ovários. Em setembro passado, já havia se submetido à extração e reconstrução das mamas com próteses, devido ao aparecimento de um nódulo de 2,5 cm na biópsia. Casos como de Angelina e Andréa, que registram a ocorrência de cânceres na família em primeiro grau antes de 40 anos, a operação é tida como altamente recomendável por especialistas. Classificadas como pacientes de alto risco, elas apresentam até 30 vezes mais chance de desenvolver a doença ao longo da vida. Para a atriz norte-americana, a probabilidade era de cerca de 90%.

“Não adianta chegarem ao consultório jovens de 18 anos apavoradas, dizendo que a tia teve câncer e que querem tirar as mamas porque ouviram falar do caso da Angelina Jolie. Não adianta insistir, porque, nesses casos, não é indicado”, alerta Clécio de Lucena, presidente da regional mineira da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Segundo o médico, a cada divulgação dos procedimentos da atriz, dobra a procura nos consultórios em Minas por cirurgias profiláticas contra o câncer. Só há indicação desse tipo de procedimento em pacientes cuja mãe, irmãs ou filhas já manifestaram a doença antes dos 40 anos, em casos próximos de câncer de mama masculinos ou para descendentes de judeus e de europeus da Escandinávia.

Os números comprovam que 85% a 90% das pacientes foram as primeiras da família a desenvolver a doença. Ainda assim, se for enquadrada como sendo de alto risco conforme modelos matemáticos, a paciente será encaminhada a um geneticista para mapeamento cuidadoso. “Se a paciente tiver a mutação no gene, dependendo do histórico familiar, a melhor opção é a retirada dos ovários e posterior reposição hormonal, que é totalmente segura se feita antes dos 50 anos. Se não fizer isso, ela poderá se arrepender depois, como ocorreu com a Angelina Jolie”, defende o oncologista André Murad, professor da faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele lembra que, nem mesmo a retirada total das mamas, ovários, trompas e útero garante 100% de proteção. “Já tive casos em que o mamilo foi preservado na cirurgia e, depois de dois anos, o câncer voltou”, afirma.

SINAIS PRECOCES “Disse a mim mesma para ficar calma, ser forte e que não tinha razões para pensar que não viveria para ver meus filhos crescerem e conhecer meus netos”, escreveu Angelina Jolie, que, ao fazer exame de sangue, detectou um possível sinal precoce da doença. Sua mãe morreu de câncer no ovário e sua avó materna também teve o mesmo tipo de tumor, evidências fortes de um risco genético herdado que levaram a atriz a passar por um mapeamento genético, que detectou o gene defeituoso, conhecido como BRCA1.

O artigo da atriz norte-americana, publicado ontem no New York Times, deixa claro a angústia que os resultados dos exames de sangue trouxeram. Angelina conta que telefonou imediatamente para seu marido, o ator Brad Pitt, que voltou da França em algumas horas. O procedimento coloca a mulher na menopausa e a atriz escreveu que busca medicamentos alternativos e um tratamento de reposição hormonal. “Quero que outras mulheres em risco saibam a respeito das opções. Prometi divulgar qualquer informação que pudesse ser útil, o que inclui minha cirurgia preventiva, a remoção de meus ovários e trompas”.

EM/D.A Press
Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais (foto: EM/D.A Press)