Cachorro não gosta de ficar sozinho: entenda o que é a síndrome da ansiedade de separação

Por vezes, os cães sentem tanta falta do dono que desenvolvem a síndrome da ansiedade de separação

por Revista do CB 17/01/2015 14:00

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Zuleika de Souza/CB/D.A Press
Paula Americano adotou Doug, que, por ter sido abandonado antes, tem muito medo de ficar só (foto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Deixar o pet sozinho em casa sempre dá um aperto no coração. É normal os bichos sentirem falta do dono, mas, às vezes, a carência extrapola e vira a chamada síndrome da ansiedade de separação. O transtorno ocorre quando a mascote se encontra em situação de isolamento e encara isso de forma negativa. Podemos dizer que é uma forma de pânico, cujas manifestações são variadas. Por isso, fique atento se o totó mudar de temperamento e destruir objetos, defecar em locais inadequados ou se automutilar.

De um modo geral, a síndrome é reflexo da dependência extrema dos pets, que ficam desesperados quando se veem sem companhia. Em alguns casos, eles tentam até romper portas e janelas, o que é perigoso. “Por isso, são mais comuns ataques de cães perto desses locais, que são chamados de ‘rotas de fuga’”, explica a veterinária Joana Barros. Quando o nível de estresse é alto, eles também latem muito, como se fosse um pedido de socorro.

Não se trata apenas de pirraça ou vingança do animal. “O dono tende a acreditar que é birra, mas não é. Os pets com a síndrome ficam ansiosos, depressivos e deixam de ter hábitos saudáveis. A depressão vem acompanhada da falta de atividade física”, afirma a veterinária.

Um dos prováveis motivos para o animal desenvolver a doença é o excesso de mimos por parte dos donos. “Mimar demais atrapalha. O animal que acompanha por todos os lados da casa, por exemplo, se apega demais e sofre com a partida depois”, diz Joana Barros.

“O cachorro é um bicho muito social. Ele tem uma dependência familiar acima da média dos outros animais”, explica o comportamentalista canino Renato Buani. De acordo com o especialista, deve-se evitar chamar a atenção do cachorro nas ocasiões de saída ou de chegada. “Nada de fazer uma apreciação maior do que deveria. Assim, o cachorro superestima aquele momento”, afirma. Para o adestrador, o correto é esperar o cão se acalmar e, só depois, cumprimentá-lo, sem muita festinha.

Não existe raça com pré-disposição para a doença, porém, os cães pequenos, que costumam ficar dentro de casa e sempre na companhia de alguém, estão mais vulneráveis. Bichos que são resgatados da rua também podem ter muita dependência dos novos tutores. Esses cães criam um vínculo muito forte com a nova família e sentem medo de serem abandonados novamente. Esse é o caso de Doug, um cãozinho sem raça definida de 4 anos.

Há 4 meses, ele chegou à casa da professora Paula Americano, 49 anos. Muito machucado e doente, o vira-lata se afeiçoou muito ao novo lar. “Ele apareceu na varanda daqui de casa mais morto do que vivo. Muito magro, cheio de bichos, quase sem pelos. Eu achei que ele estava morrendo e o resgatei. Dei banho, levei para o veterinário e cuidei dele. Durante esse tempo, a gente se apegou muito”, conta a professora.

De uns tempos para cá, Doug tem apresentado os sintomas da síndrome. “Mesmo passeando com ele diariamente, Doug sofre quando eu saio e fica muito estressado”, afirma a professora. Em breve, o pet entrará em tratamento para superar a doença. O tratamento consistirá em sessões de contracondicionamento e exercícios para que o cão fique mais independente (por exemplo, simulações de chegadas e despedidas). Na casa, moram outros dois cachorros, que não desenvolveram sintomas da síndrome.

Atitudes de prevenção
Prevenção é sempre o melhor remédio. O cão, ainda filhote, deve ser inserido em uma rotina. Deve-se proporcionar o “enriquecimento ambiental”, ou seja, um local interativo, com muitos brinquedos, ossos e petiscos. “Esses elementos são usados para deixar o ambiente estimulante. O cachorro deve encarar a solidão como algo positivo. Devemos fazer com que ele aprenda a tolerar a solidão quando ainda é novinho”, explica a adestradora Paula Emmert. Ainda de acordo com Emmert, são três pontos básicos para prevenir o animal: adestramento, enriquecimento ambiental e atividade física.
Não há evidências que a síndrome em si possa levar o animal à morte. Mas, as consequências da doença podem ser graves. O cachorro pode ficar estressado a ponto de derrubar objetos e tentar atravessar janelas. A dica é procurar um treinador com uma metodologia positiva. Atitude preventiva é sempre louvável. Portanto, se perceber algo estranho no comportamento do melhor amigo, procure ajuda de um profissional.

Dois é melhor do que um. Será?

Cães são animais puramente sociais. Realmente, a interação com outro cachorro pode ser benéfica e entreter ambos os bichos. Ao perceber a tristeza e a dependência do cachorro, muitos apostam em comprar outro para fazer companhia. Nem sempre, porém, é uma boa solução. “A síndrome de ansiedade está ligada à falta de interação com humanos. Desse modo, ao comprar outro cachorro, estamos correndo o risco de termos dois cães ansiosos. É o pânico que gera a ansiedade e a depressão”, explica a adestradora Paula Emmert, que também é bióloga.
Paula indica que os cães precisam fazer uma associação positiva com os instantes de solidão. “Devemos estimular o cão a criar esse link. Pode deixá-lo sozinho, mas sempre com algum brinquedo, algum ossinho. Isso tudo para o bicho gostar daquele momento”, afirma. É importante ressaltar, também, que a síndrome da ansiedade de separação não pode ser confundida com o tédio, que não é uma condição patológica.

Possibilidades de tratamento
O pet deve ser observado longamente antes de se fechar um diagnóstico de síndrome da ansiedade de separação. Quando o cão, de fato, tem a doença, o primeiro passo é procurar a ajuda de um adestrador. O profissional deve usar a técnica do contracondionamento para reeducar o animal. O tratamento deve ser em conjunto com o dono para um resultado positivo. É importante ressaltar que tudo deve ser feito sem punições.
É um processo moroso. O cãozinho deve se readaptar à rotina. Se, ainda sim, não houver evolução, costuma-se tentar uma abordagem medicamentosa, sob orientação de um veterinário. Além disso, a mascote precisará de adestramento, ajuda, protocolo de treinamento, dessensibilização, enriquecimento ambiental e atividade física.