Depois da onda do cabelo liso, mulheres aposentam químicas e chapinhas e assumem o cabelo crespo ou cacheado

Transformação requer paciência e muita dedicação, mas não resta dúvida de que vale a pena

por Celina Aquino 07/12/2014 09:00

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André Schiliró/Revista Nova
Cachos de Taís Araújo são unanimidade (foto: André Schiliró/Revista Nova)
O sentimento é de libertação. Abandonar secador, chapinha e química para assumir o cabelo natural devolve a liberdade para quem se acostumou a esconder os cachos. E assim não existe mais motivo para fugir da chuva, recusar um convite para ir à praia ou deixar de dançar para não suar. A cada dia mais mulheres desistem de alisar os fios para recuperar o cabelo do jeito que ele é, seja crespo ou cacheado. A transformação requer paciência e muita dedicação, mas não resta dúvida de que vale a pena.

Infelizmente, a maioria das mulheres decidem procurar ajuda quando os fios já estão enfraquecidos e muitas vezes escassos. “Elas misturam tanta química que começam a perder cabelo e ficar carecas, aí vem o desespero. Mesmo assim, existe luz no fim do túnel”, anima a coordenadora técnica do Instituto Beleza Natural, Lúcia Santana. É possível barrar a queda, mas para que os produtos químicos desapareçam de vez deve-se literalmente cortar o mal pela raiz. A cabeleireira sugere as tesouradas para eliminar resíduos e ver o estado natural do cabelo, mas respeita as clientes que não querem uma transformação radical. Nesse caso, ela trata apenas a raiz para não que cresça rebelde e aos poucos vai tirando as pontas que ainda estão esticadas.

É comum ouvir mulheres com cabelo crespo ou cacheado dizerem que partiram para o alisamento porque não conseguiam controlar o volume. Lúcia logo entende o porquê: elas não usam produtos adequados nem hidratam os fios. Segundo a coordenadora do Beleza Natural, a hidratação é fundamental para devolver a oleosidade, além fortalecer, dar brilho e movimento para os fios. “O formato anelado não permite que a oleosidade natural seja distribuída igualmente pelo fio, ela para no meio do caminho. Por isso, a ponta é sempre mais ressecada”, esclarece. O hábito de lavar o cabelo com água quente contribui ainda mais para o ressecamento. A água para enxaguar os fios deve estar em temperatura quase fria. Outra cilada é usar tinta para pintar o cabelo, em vez de tonalizante. Por ser à base de amônia, o produto fragiliza os fios e faz com que eles se quebrem.

Lúcia defende que, quando a mulher aprende a cuidar do seu cabelo, não tem mais sentido alisar os fios. Não há problema em fazer escova algumas vezes, o que está mesmo proibido é usar chapinha, pois o cabelo crespo ou cacheado é muito fino e não tem estrutura para aguentar uma fonte de calor tão intensa. Além disso, a prancha compromete a definição dos cachos. “O melhor é secar os fios naturalmente, mas nada impede que você acelere o processo usando o difusor, que é o secador da cacheada. A peça com vários pontinhos acomoda os cachos e seca o cabelo no seu formato natural”, destaca. O que não vale é ficar escrava do equipamento. Utilize quando necessário.
Jair Amaral/EM/D.A Press
A enfermeira Mayara Alves, 25 anos, abandonou as químicas para assumir os fios cacheados. (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

A enfermeira Mayara Estanislau do Nascimento Alves, de 25 anos, deu adeus ao cabelo liso com uma decisão corajosa: cortou os fios bem curtos para se livrar da química acumulada desde a infância. Três meses depois, ela não está nem um pouco arrependida. “Venho de família de negros e a minha avó brinca que assumi minhas raízes. Apesar de estar na moda, ainda existe muito preconceito com cabelo anelado, mas penso no futuro. Depois que crescer, ele vai ficar ainda mais bonito”, diz. May está na fase de curtir os cachos e até mudou o seu estilo de vestir para deixar surgir uma nova personalidade. “Sou a prova de que os fios voltam, sim, ao natural. O processo de transição é doloroso, mas tem que ter muita paciência e estar decidida. Quero ser eu mesma.” A enfermeira pensa em voltar a ter o cabelo comprido, mas agora cacheado.

TRATAMENTO
No salão Via Gomide, as clientes recebem todo o apoio para dar uma chance ao cabelo natural. “Com a maturidade, as mulheres entendem que precisam se assumir diante da sociedade e acabam abrindo mão do padrão de beleza estereotipado”, avalia a cabeleireira e tricologista Elismare Pereira, que recorre a uma microcâmera para analisar os fios e indicar o melhor tratamento. O diagnóstico também direciona a compra de produtos, pois as mulheres costumam reclamar que têm um arsenal em casa, mas não conseguem dar um tiro certeiro. Elismare alerta que xampu, creme e qualquer outro produto devem ser adequados para o seu tipo de cabelo.

O corte também precisa ser apropriado para cabelos cacheados ou crespos. De acordo com Elismare, o mais indicado é fazer com a tesoura uma espécie de degradê, que pode ser mais ou menos repicado, para valorizar o movimento dos cachos. Não adianta querer usar a mesma técnica de fios alisados porque o resultado não será satisfatório. “É muito mais fácil lidar com a sua realidade do que tentar manter um universo paralelo”, opina a cabeleireira. “Depois que pegar o jeito, você consegue arrumar o seu cabelo em poucos minutos.” Um das dicas da profissional é sempre utilizar o leave in, creme de modelagem com cola que vai sustentar os cachos. O produto tem que ser aplicado nos fios ainda molhados, que devem ser amassados com as mãos.

PARA QUEM NÃO SE IMPORTA COM VOLUME...
As mulheres que preferem o cabelo mais solto e volumoso podem lançar mão de um reparador de pontas, também chamado de fluido de silicone. Pingue umas gotinhas nas mãos, esfregue uma na outra e faça movimentos para amassar os fios da ponta, e não da raiz. O cabelo deve estar seco, já que o produto serve para finalizar os cachos. “Aí você pode mexer à vontade no cabelo, passando as mãos para levantar a raiz, e terá um cabelo cacheado e com volume, porém solto e sem a aparência oleosa”, destaca a coordenadora técnica do Instituto Beleza Natural Lúcia Santana. Fique atento na hora de comprar o reparador de pontas. Ele deve conter mais silicone que outros óleos. Caso contrário, não vai proteger os fios e ainda pode estragá-los.