A doença que o corpo mostra: veja como fazer o autoexame do câncer de pele

O câncer de pele é o mais frequente no Brasil, correspondendo a 25% de todos os tumores malignos registrados na população

por Silas Scalione 26/11/2014 10:46

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Paulinho Miranda/EM/D.A Press
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De acordo com o Instituto Nacional de Câncer – Inca, estima-se que surjam 520 mil novos casos de câncer por ano no Brasil. As estatísticas não devem alarmar, mas fazer com que as instituições de saúde e a população se voltem para a prevenção. A Rede Mater Dei de Saúde implantou, desde 2013, um serviço de check-up voltado ao rastreamento da doença. O serviço consiste em avaliações e testes de rastreamento periódicos, criteriosamente aplicados com o objetivo de detectar o risco de determinadas doenças, antes do aparecimento de sintomas. O rastreamento funciona por meio do check-up oncológico e do check-up máster. No oncológico, o objetivo é rastrear alguns tipos de câncer, como o de mama, pulmão, cavidade oral, próstata, colo do útero, intestino e de pele. A triagem é feita em um período de cerca de seis horas. Após a coleta de dados do histórico de saúde do paciente, são realizados exames físicos, consultas com especialistas e uma sequência de exames individualizada de acordo com idade, sexo, hábitos de vida, histórico familiar de câncer e características pessoais.

A prevenção ao câncer de pele, que corresponde a 25% dos tumores registrados no país, começa pela dermatologia e, de acordo com Bernardo Gontijo, dermatologista da Rede Mater Dei de Saúde, os tumores malignos da pele são sempre multifatoriais, ou seja, são várias as condições que envolvem seu surgimento, como a cor da pele, a predisposição genética, dermatoses pré-existentes, o estado de imunossupressão e a intensidade e frequência de exposição à radiação ultravioleta do sol. Segundo o médico, os pacientes devem se submeter a um exame dermatológico anual, pois a avaliação é fundamentalmente clínica, que inclui a inspeção visual de toda a superfície cutânea e mucosa, além do exame dermatoscópico de lesões suspeitas, que passam por biópsias e submetidas a exame anatomopatológico para um diagnóstico definitivo.

De acordo com Gontijo, os tumores malignos cutâneos são extremamente polimorfos. Não existe uma aparência clínica que seja comum a todos eles que leva o especialista a diagnosticar a doença de imediato. As suspeitas mais claras recaem sobre as lesões ulceradas que não cicatrizam e as que apresentam sangramento aos mínimos traumas. Entretanto, várias outras características podem estar presentes, o que torna imprescindível a avaliação pelo dermatologista. “Em relação ao melanoma, constituem importantes sinais de alerta as mudanças na forma (assimetria), borda, cor e diâmetro de lesões pigmentadas pré-existentes ou o aparecimento de lesões pigmentadas em áreas anteriormente normais. Como o melanoma é um tumor agressivo, a melhor arma disponível para seu tratamento é o diagnóstico precoce por meio do exame periódico e sistematizado da pele”, garante.
SXC.hu/Banco de Imagens
Técnicas já mostram lesões pré-malignas e até malignas sem que a pessoa tivesse notado nada de diferente. Daí, a importância de procurar o dermatologista anualmente (foto: SXC.hu/Banco de Imagens)

AUTOEXAME
Por isso, os exames dermatológicos para diagnosticar ou prevenir doenças da pele são primordiais. O médico revela algumas dicas podem ajudar no autoexame, como atenção às pintas pigmentadas que surgem no corpo, às feridinhas que não cicatrizam, às casquinhas que desaparecem e aparecem sem motivo, às lesões muito vermelhas ou de aspecto estranho, a caroços que não existiam antes e tudo que chame a atenção no que se refere à cor, relevo e textura cutâneos (veja arte). Porém, antes mesmo disso, há tecnologias especializadas que ajudam o médico a diagnosticar problemas ainda não descobertos. “Algumas técnicas mostram lesões pré-malignas e até malignas sem que a pessoa tivesse notado nada de diferente. Daí, a importância de procurar o dermatologista anualmente.”

O cirurgião geral da Rede Mater Dei de Saúde, Alberto Wainstein, explica que a maioria dos tumores de pele diagnosticada precocemente pode ser curada via cirurgia com margens livres. Apenas no caso do melanoma é que pode ser necessário algum tratamento após a operação para evitar uma recidiva. Assim mesmo, nos casos em que o diagnóstico e cirurgia não ocorram em fase inicial.

O câncer de pele pode ser dividido em dois tipos, os não melanomas e o melanoma. Entre os não melanomas, os principais tipos são o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular. “Esses dois são passíveis de cirurgia e a quase totalidade dos pacientes é curada assim. O melanoma também é tratado com cirurgia, sendo essa a principal e única chance de cura desde que diagnosticado em fase inicial. A grande gravidade e preocupação quanto ao melanoma é que trata-se de um dos tumores mais agressivos e com maior capacidade de se disseminar e estabelecer metástases em diversos órgãos”, afirma Wainstein . O cirurgião esclarece ainda que a maioria das cirurgias para os tumores diagnosticados em fase inicial são realizadas com anestesia local, sem necessidade de internação. Wainstein explica também que o melanoma é um dos cânceres de mais fácil suspeição. “É preciso enfatizar que a grande maioria das lesões não é melanoma, e que a maior parte das pintas e verrugas é benigna. Entretanto, o paciente deve estar atento para todas as mudanças visando um diagnóstico precoce”.

Calculadora de risco
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) disponibiliza gratuitamente, em seu site, uma calculadora de riscos para câncer da pele. Por meio dessa ferramenta, os usuários, respondendo a um questionário desenvolvido por especialistas da associação, recebem informações sobre as chances de virem a desenvolver a doença no futuro. É importante ressaltar que a ferramenta tem apenas caráter informativo. Os dados obtidos a partir dela não constituem diagnóstico e não substituem, em nenhuma hipótese, a consulta a um dermatologista. Para usar, acesse o link. Outra ferramenta preventiva contra o câncer de pele é o teste de risco ao Melanoma, oferecido pelo Centro de Genomas – laboratório de estudos genético, que oferece ao médico, ao lado de outros exames, auxílio na avaliação de risco e, sobretudo, atuar na prevenção do problema.

Tratamento complementar
O oncologista Enaldo Lima confirma que a maioria dos casos de câncer de pele demanda procedimentos cirúrgicos, mas que há outros tratamentos complementares. “O melanoma, por exemplo, requer a ressecção do tumor primário e, em casos selecionados, a utilização de técnica cirúrgica específica, chamada de pesquisa de linfonodo sentinela, que utiliza inclusive a medicina nuclear para detecção de células tumorais nos gânglios linfáticos da região do tumor primário”, diz ele, ressaltando que o tratamento por meio de radioterapia pode ser indicado posteriormente à cirurgia e, em casos muito específicos, podem ser realizados tratamentos paliativos de quimioterapia.

Segundo Lima, existem novas tecnologias de tratamento sistêmico, tanto para o carcinoma basocelular quanto para o melanoma. “Para o primeiro caso, há como utilizar o bloqueio específico de via celular de crescimento tumoral, chamada via de Hedgehog. Esse tipo de tratamento pode ser feito nos casos de tumores irressecáveis ou que haja grande probabilidade de mutilação do paciente. Também no caso do melanoma, há possibilidades de bloqueios específicos de sítios de mutação e sinalização tumoral, como a via BRAF e a via c-Kit. A classe de medicação de bloqueio dessas vias é oral, o que possibilita o tratamento domiciliar”, explica.

O médico acrescenta que a maior inovação recente de tratamento específico de câncer ocorreu no melanoma, com a introdução de uma imunoterapia com estimuladores do sistema imune, que pode alcançar extensa sobrevida e, em até 20% desses pacientes, em longo prazo com sugestão de que parte desses pacientes podem ser curados. Segundo Enaldo Lima, quando operados em fase inicial, os cânceres de pele apresentam altas taxas de cura, com índices acima de 90%, e em alguns casos próximos de 100% de eficácia cirúrgica.

RADIOTERAPIA
Caso seja necessária a aplicação de radioterapia, em geral, se faz de forma local para tratamento de pacientes com margens cirúrgicas acometidas e extensão da doença para os gânglios linfáticos. “Para o melanoma existe a possibilidade de se utilizar a radioterapia associada à imunoterapia, combinada e com efeito em sítios a distância da radioterapia aplicada, efeito conhecido como abscopal”, diz o oncologista. Quanto aos tratamentos sistêmicos, segundo Lima, pode ser utilizado em melanoma o uso de medicamentos alvo celular e de imunoterapia, tanto por via oral quanto venoso. “Cuidados devem ser tomados para a administração dessas medicações, assim como o manejo dos efeitos colaterais”, explica.