Especialistas destacam benefícios do sal sem sódio

Aprovado pela Anvisa, sal sem sódio permite temperar a salada de hipertensos sem riscos à saúde. Mas preço de venda pela internet pode salgar o bolso

por Zulmira Furbino 18/11/2014 13:33

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EM/D.A Press
Bio Salgante usa o potássio no lugar do sódio (foto: EM/D.A Press)
O primeiro sal sem sódio produzido no Brasil já está à venda na internet. A notícia é um alívio para os mais de 40 milhões de brasileiros que, por questões de saúde, não podem consumir sal em função da alta quantidade de sódio contida no alimento, como os hipertensos. Isso desde que se tenha condições de comprar o produto: está sendo vendido a R$ 16,90 (preço promocional), só na internet. Para adquirir uma embalagem de 100g, um morador de Belo Horizonte terá de desembolsar de R$ 25,11 a R$ 39,50 em função do frete e das taxas cobradas sobre a venda. Para o bolso, será um desafio substituir o sal, que custa cerca de R$ 2 (100g). E muitas pessoas já se acostumaram, simplesmente, a eliminá-lo da dieta.

Batizado no Brasil de Bio Salgante, numa alusão aos adoçantes, o produto, que usa o potássio no lugar do sódio, tem similares no exterior. A comercialização foi aprovada em março pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a produção iniciada em setembro deste ano, no Paraná. Considerado um alimento biofuncional e produzido pela Matrix Health, o produto permite salgar os alimentos sem oferecer risco para a saúde já que em sua fórmula não há presença de sódio, mas de potássio e iodo. Na lista de ingredientes estão declarados cloreto de potássio, realçador de sabor ácido glutâmico, monocloridrato de L-lisina, antiumectante dióxido de silício e iodato de potássio.

Até o momento, trata-se do único produto dessa natureza registrado no país. O registro está em nome da empresa Sanibras, que tem outras 50 marcas associadas. De acordo com o diretor da Matrix Health, Nilson Capozzi, além das pessoas que sofrem com hipertensão arterial, a redução da ingestão de sódio também é bastante desejada pelos que adotam estilos de vida mais saudáveis, os chamados fitness. “O sódio, entre outros males provoca inchaço e retenção de líquidos. Quem se preocupa com a saúde e a beleza do corpo quer evitar isso”, observa.

De acordo com o farmacêutico e bioquímico Francisco Sandro Menezes Rodrigues, professor do hospital-escola da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que comandou os testes realizados no laboratório da universidade, o produto não reduz a hipertensão, mas é capaz de manter a pressão arterial tanto de quem sofre de pressão alta como de quem não sofre. “Usando o Bio Salgante a pressão tende a ser mantida, ela não aumenta”, explica. De acordo com ele, o produto se assemelha ao sal, tanto no sabor quanto na aparência. A ideia, esclarece, é alterná-lo com o sal, usando-o em saladas e no preparo de outros alimentos em casa. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os adultos consumam menos de 2g de sódio – ou menos de 5g de sal – e pelo menos 3,51g de potássio por dia (menos de uma colher de chá rasa de sal ou cinco pacotinhos servidos em restaurantes, que contém 1g cada um).

Para a dentista Márcia Gonçalves de Paula, de 46 anos e hipertensa há 15, a novidade é bem-vinda. Por causa do trabalho ela tem uma alimentação irregular no dia a dia, mas em casa tudo funciona de forma diferente. “Em minha dieta não uso sal, às vezes só azeite e temperos comprados prontos. Com certeza, gostaria de poder usar o produto sem sódio para dar mais sabor às saladas. Além disso, quase não como carne porque sem sal o sabor fica ruim. Com esse produto eu poderia voltar a consumir”, observa. Por outro lado, Márcia avalia que o preço do sal sem sódio é muito caro. “Já adaptei minha dieta e regularmente não uso sal em casa. Mas para quem não dispensa, é uma boa alternativa”, reconhece.

O cardiologista Paulo Alves de Oliveira acha uma boa ideia substituir parte do sódio presente na dieta. “Nosso problema com a ingestão do sódio está relacionado com o sabor dos alimentos”, lembra. Para outro cardiologista, Estevão Lanna Figueiredo, uma dieta rica em potássio, desde que sem excessos, é muito boa para a saúde. Ele explica que o sal é a causa da hipertensão que, por sua vez, pode desencadear o infarto, a insuficiência cardíaca e os acidentes vasculares cerebrais (veja ao lado). “O sódio é um dos fatores que descompensam a insuficiência cardíaca já existente. A ideia de não usar sal é boa, mas não dá para fazer propaganda do produto porque ele não é um medicamento e não trata a hipertensão. Com ele, a pressão alta apenas não piora”, analisa.

Sabor amargo
Nada menos do que 1,6 milhão de pessoas morrem por ano por problemas cardiovasculares causados pelo excesso do consumo de sódio, segundo levantamento feito este ano pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, que analisou dados de 187 países. De acordo com o relatório, cada pessoa consome, em média, 3,95g de sódio todos os dias.

A porção é quase o dobro do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2g diários. No Brasil, esse índice é de 3,2g. O problema atinge com mais gravidade os países em desenvolvimento e a parcela pobre da população, que concentra quatro entre cada cinco vítimas de doenças cardiovasculares. O Ministério da Saúde anunciou, em 19 de agosto, uma redução de 1,2 mil toneladas de sódio em pães industrializados e macarrões instantâneos. Mais de 28 mil toneladas da substância deverão ser eliminadas das prateleiras até 2020, segundo quatro termos de compromisso firmados entre o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia). O limite estabelecido para massas instantâneas, já em 2012, foi de 1,9g a cada porção de 100g. Agora, em 2014, pães de forma devem ter até 522mg, e as bisnaguinhas, 430mg. O acordo foi criticado à época por entidades de cardiologia.

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