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Túlio começou a fazer as palestras em 2005, quando ainda estava na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). “Na época, estava presente em um evento quando resolvi proferir algumas palavras, que fizeram o público chorar. Foi muito emocionante. A partir daquele dia, sempre procuro deixar uma breve mensagem de superação por onde passo. Hoje me sinto muito bem, pois tenho uma vida 95% normal. Tenho um automóvel automático, adaptado, um roadie (ajudante) que leva, monta e desmonta minha bateria nos shows. Assim, as minhas bandas podem fazer apresentações em todo o território nacional. Vivo uma vida simples com Lia, minha mulher, que é minha parceira, pernas, braços e empresária. Amo minha mulher, meus filhos e enteados e meus amigos. Além disso, tenho saúde e força para viver uma vida feliz e tocar e cantar o bom rock and roll.”
Ele explica que suas palestras têm um cunho didático e emotivo. “Isso porque não somos de ferro. Mas, por outro lado, a autopiedade e a acomodação podem botar em risco toda uma vida. Uma carreira, um casamento ou qualquer empreitada, pois o ser humano necessita de inspiração e motivação. Quando estamos motivados podemos ir ao infinito com perna ou sem perna, cego ou paraplégico. Existem milhares de deficientes físicos no mundo e muitos são cientistas, músicos, advogados, escritores e pintores, entre tantas outras profissões. Por isso, digo: sejam fortes, perseverantes e nunca desistam de seus sonhos. Vão aparecer anjos na forma humana em seu caminho. Acredite. Siga trilhando os caminhos do bem e da verdade. Ainda que alguns sumam da sua vida e o reneguem pela falta de amor ou pelo preconceito, crie você mesmo novas circunstâncias. Você tem esse poder.”
BRILHO NOS OLHOS
Bem-humorado, Túlio conta que, no ano passado, retomou um antigo projeto chamado Supera-rock. “São palestras profissionais voltadas para diretores de empresas do mercado corporativo. Mas o grande amor pelas palestras, que são gratuitas, é ver a possibilidade de as pessoas se reerguerem após uma tragédia da qual ninguém está livre. É o brilho nos olhos do ser humano, na esperança do lenitivo para as sua dores e dificuldades humanas. Esse é o trabalho mais prazeroso que pode existir, além de tocar bateria, é claro.”
Para Túlio, existe um abismo entre uma vida dita normal e uma pessoa com deficiência física. “O mundo não está preparado para acolher com dignidade essa parte da sociedade, que ainda assim trabalha, produz e paga impostos, ou seja, são pessoas com vida e com expectativas sociais. A superação vem de uma tomada de decisão num momento em que a pessoa escolhe se vai ficar o resto da vida reclamando, sentada, em uma cadeira de rodas, ou se vai ter uma linha de ação, pelo menos para sair até a frente da casa e jogar uma partida de damas na praça com os amigos. Novamente vem à tona a questão da motivação. É necessário estar motivado para realizar qualquer coisa nesta vida”, garante.
Ele ressalta que existem diversos níveis físicos, mas a superação depende basicamente da motivação da pessoa. “Se ela tem uma depressão instalada, isso pode levar algum tempo e não desaparecer de todo. Mas a tomada de decisão e a ajuda da família e amigos têm um peso importante na superação, além da autoestima. Túlio diz que sua recuperação foi um milagre, pois perdeu muito sangue devido a uma hemorragia. “Tive duas ou três paradas cardiorrespiratória e os exames mostravam morte cerebral. Foram oito meses de internação e várias cirurgias de debridação (retirada do tecido morto) do tecido necrosado”, lembra. “Estava separado de uma união complicada quando ocorreu o acidente. Meus pais, já em idade avançada e doentes, seguraram uma barra, que não tinha mais tamanho. Acolheram-me como se eu fosse um bebê, sendo que já estava com 47 anos. Passei a morar com eles até que surgiu a Lia. Faz oito anos que estamos juntos na mesma batalha e hoje levo uma vida feliz, graças a Deus.”