Após acidente que o deixou sem pernas, baterista dá a volta por cima e compartilha história de vida

Além de tocar em três bandas de rock, Túlio Fuzado, de 56 anos, diz que tem uma vida 95% normal

por Augusto Pio 11/11/2014 13:37

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Arquivo pessoal
"A superação vem de uma tomada de decisão num momento em que a pessoa escolhe se vai ficar o resto da vida reclamando, sentada, em uma cadeira de rodas, ou se vai ter uma linha de ação, Túlio Fuzado, de 56 anos, baterista e publicitário (foto: Arquivo pessoal)
Infelizmente, ninguém está livre de sofrer um acidente e se tornar uma pessoa com deficiência física de uma hora para outra. Porém, é preciso estar preparado para superar o trauma e dar continuidade à vida que segue. Muitas pessoas que sofrem algum tipo de amputação acabam se acomodando, passam a viver em sofrimento, angústia e depressão. Por outro lado, muitos também se recuperam e se superam, como é o caso do baterista e publicitário catarinense Túlio Fuzado, que perdeu as duas pernas em um acidente no metrô do Rio de Janeiro, onde mora há 56 anos. Hoje, ele usa próteses, leva uma vida praticamente normal, trabalha, faz palestras motivacionais por todo o Brasil e ainda encontra tempo para tocar em três bandas de rock.

Túlio começou a fazer as palestras em 2005, quando ainda estava na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). “Na época, estava presente em um evento quando resolvi proferir algumas palavras, que fizeram o público chorar. Foi muito emocionante. A partir daquele dia, sempre procuro deixar uma breve mensagem de superação por onde passo. Hoje me sinto muito bem, pois tenho uma vida 95% normal. Tenho um automóvel automático, adaptado, um roadie (ajudante) que leva, monta e desmonta minha bateria nos shows. Assim, as minhas bandas podem fazer apresentações em todo o território nacional. Vivo uma vida simples com Lia, minha mulher, que é minha parceira, pernas, braços e empresária. Amo minha mulher, meus filhos e enteados e meus amigos. Além disso, tenho saúde e força para viver uma vida feliz e tocar e cantar o bom rock and roll.”

Ele explica que suas palestras têm um cunho didático e emotivo. “Isso porque não somos de ferro. Mas, por outro lado, a autopiedade e a acomodação podem botar em risco toda uma vida. Uma carreira, um casamento ou qualquer empreitada, pois o ser humano necessita de inspiração e motivação. Quando estamos motivados podemos ir ao infinito com perna ou sem perna, cego ou paraplégico. Existem milhares de deficientes físicos no mundo e muitos são cientistas, músicos, advogados, escritores e pintores, entre tantas outras profissões. Por isso, digo: sejam fortes, perseverantes e nunca desistam de seus sonhos. Vão aparecer anjos na forma humana em seu caminho. Acredite. Siga trilhando os caminhos do bem e da verdade. Ainda que alguns sumam da sua vida e o reneguem pela falta de amor ou pelo preconceito, crie você mesmo novas circunstâncias. Você tem esse poder.”

BRILHO NOS OLHOS
Bem-humorado, Túlio conta que, no ano passado, retomou um antigo projeto chamado Supera-rock. “São palestras profissionais voltadas para diretores de empresas do mercado corporativo. Mas o grande amor pelas palestras, que são gratuitas, é ver a possibilidade de as pessoas se reerguerem após uma tragédia da qual ninguém está livre. É o brilho nos olhos do ser humano, na esperança do lenitivo para as sua dores e dificuldades humanas. Esse é o trabalho mais prazeroso que pode existir, além de tocar bateria, é claro.”

Para Túlio, existe um abismo entre uma vida dita normal e uma pessoa com deficiência física. “O mundo não está preparado para acolher com dignidade essa parte da sociedade, que ainda assim trabalha, produz e paga impostos, ou seja, são pessoas com vida e com expectativas sociais. A superação vem de uma tomada de decisão num momento em que a pessoa escolhe se vai ficar o resto da vida reclamando, sentada, em uma cadeira de rodas, ou se vai ter uma linha de ação, pelo menos para sair até a frente da casa e jogar uma partida de damas na praça com os amigos. Novamente vem à tona a questão da motivação. É necessário estar motivado para realizar qualquer coisa nesta vida”, garante.

Ele ressalta que existem diversos níveis físicos, mas a superação depende basicamente da motivação da pessoa. “Se ela tem uma depressão instalada, isso pode levar algum tempo e não desaparecer de todo. Mas a tomada de decisão e a ajuda da família e amigos têm um peso importante na superação, além da autoestima. Túlio diz que sua recuperação foi um milagre, pois perdeu muito sangue devido a uma hemorragia. “Tive duas ou três paradas cardiorrespiratória e os exames mostravam morte cerebral. Foram oito meses de internação e várias cirurgias de debridação (retirada do tecido morto) do tecido necrosado”, lembra. “Estava separado de uma união complicada quando ocorreu o acidente. Meus pais, já em idade avançada e doentes, seguraram uma barra, que não tinha mais tamanho. Acolheram-me como se eu fosse um bebê, sendo que já estava com 47 anos. Passei a morar com eles até que surgiu a Lia. Faz oito anos que estamos juntos na mesma batalha e hoje levo uma vida feliz, graças a Deus.”