Câncer de mama tem até 95% de chance de cura se diagnosticado precocemente

O autoexame mensal das mamas é uma recomendação, mas não substitui a mamografia, que deve ser anual a partir dos 40 anos

por Carolina Cotta 09/10/2014 09:47

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A cura do câncer de mama depende da detecção precoce da doença. Esse diagnóstico em fase inicial, por sua vez, depende da mamografia. A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que ela seja feita anualmente, a partir dos 40 anos, embora no Sistema Único de Saúde ela só seja oferecida a partir dos 50. Segundo a mastologista Carolina Fuschino, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – regional Distrito Federal, estudos mostram como o diagnóstico precoce leva a um índice de cura de até 95% e que, entre os 40 e 50 anos, o ganho de diminuição de mortalidade com a mamografia é menor que entre os 50 e 69 anos. “Mas, mesmo menor, ele existe. Os tratamentos precoces são menos mutilantes e mais curtos, às vezes sem necessidade de quimioterapia”, alerta.

JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS
Ana Nilce Pettinate, de 61 anos, descobriu o câncer de mama em 2012 e hoje está curada (foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS)
A mamografia é o principal exame para o diagnóstico do câncer de mama. “Claro que sempre orientamos para a auto percepção, para que as mulheres se olhem no espelho pelo menos uma vez por mês em busca de alterações, mas o autoexame é mais uma recomendação. Hoje, se sabe que a mamografia é o exame mais preciso para identificar lesões de mamas o mais precocemente possível”, afirma. Ou seja, o autoexame é importante, mas, de forma alguma, substitui a mamografia. “É ela o exame capaz de diagnosticar tumores pequenos, de até 1 milímetro, em um estágio bastante inicial. Já no autoexame, o caroço identificado, geralmente, é perceptível quando está mais desenvolvido”, defende Clécio Lucena, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologista – regional Minas Gerais.

Autoexame, mamografia e exame clínico, como o feito na visita anual ao ginecologista, são essenciais para o diagnóstico. Para pacientes específicas, de um grupo de alto risco – como aquelas que tiveram um câncer em estágio muito inicial, têm mutação genética de gens relacionados ao desenvolvimento do câncer de mama ou com muitas histórias da doença na família –, há ainda outro exame: a ressonância magnética com contraste. Já o ultrassom das mamas é um exame complementar. “Serve para tirar uma dúvida e não para esclarecer o núdulo. Não serve para o rastreamento, portanto”, explica Carolina. Se a mamografia sugerir nódulos suspeitos, a confirmação ocorre por meio de biópsia, por meio de punção.

TRATAMENTO
O exame, feito pelo mastologista, consiste em retirar uma amostra das células, quando feita com a gulha fina, ou uma amostra maior, do tecido, quando feita com agulha grossa. Só a partir dessa confirmação do câncer de mama é programado o tratamento cirúrgico. A porção da mama que será retirada depende muito do estágio em que a doença foi diagnosticada. A psicóloga Ana Nilce Pettinate, de 61 anos, hoje curada do câncer de mama, descobriu a doença em 2012 e precisou retirar as duas mamas. “Fazia a mamografia anualmente. Quando descobriram a alteração, fiz duas cirurgias, uma para retirar uma amostra para biópsia, e outra já para a retirada total das duas mamas, com a reconstrução imediata.” lembra.

Curada e feliz, cuidando da saúde como sempre fez, Ana Nilce hoje celebra a vida, que passou a ver de forma diferente. Ela conta que nunca deixou de acreditar que era só um susto e que logo seria parte do seu passado. Mas mesmo ela, uma mulher tão esclarecida, enfrentou os medos mais primitivos de uma mulher que se descobre com a doença. “A palavra câncer nos leva por um caminho assustador e estigmatizante, porque vem associada ao medo da morte. Além disso, ele é temido por acometer exatamente uma parte tão valorizada do corpo da mulher. As mamas desempanham função significativa na sexualidade, na sensualdiade, na maternidade e na identidade da mulher. O câncer de mama nos atinge física, psicológica e socialmente”, reflete Ana Nilce, que agradece por não ter enfrentado ainda um problema comum, a rejeição dos companheiros, já que é divorciada.

Ampliação da faixa etária
A Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais ampliou a faixa etária para a realização da mamografia.
As mineiras que dependem do SUS não precisam esperar completar 50 anos. Quem tem entre 40 e 59 anos pode fazer o exame, bastando, para isso, apresentar a carteira de identidade em um posto de saúde, para obter o pedido. Isso levou a um recorde de mamografias em 2013, quando foram realizados 650 mil exames no estado. Desse total, quase 35% foram em mulheres com idade entre 40 e 49 anos.

RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS
A embaixadora do Movimento Mamamiga pela Vida, a cantora Paula Fernandes, com Dilma Rio Verde e o médico Thadeu Provenza, no lançamento do projeto, ontem, em BH (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
Mamamiga “turbinada”
No ano em que comemora 30 anos conscientizando a população para a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama e otimizando a capacidade pública instalada envolvida no tratamento, a Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (Asprecam) ganha o apoio de Paula Fernandes, para alertar a população. A cantora mineira é a embaixadora do Movimento Mamamiga pela Vida, lançado ontem na capital mineira, e composto por duas ações: o Núcleo de Promoção da Saúde da Mulher e os Pontos de Prevenção.

Desenvolvido em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (Sectes), o núcleo é um centro gerador de conhecimento na área da saúde da mulher, por meio da tecnologia de ensino a distância, e fará parte da rede da Universidade Aberta de Minas Gerais (Uaitec). Segundo o mastologista e cirurgião-plástico Thadeu Rezende Provenza, idealizador e superintendente da Asprecam, uma verba de R$ 1,2 milhão para a estruturação do projeto está aprovada desde dezembro do ano passado. “Só falta o governo liberar.”

A ideia é criar o centro no Hospital da Baleia e, de lá, replicar o conteúdo para os mais de 100 municípios que já fazem parte do Uaitec. “Antes, íamos e treinávamos os profissionais de saúde pessoalmente. Agora, poderemos fazer isso de longe, ampliando o número de pessoas atingidas. Vamos conseguir eliminar o gargalo da educação continuada, treinando médicos que não são especialistas. Porque, no Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente passa por um médico generalista antes de chegar ao especialista”, explica. O piloto será em BH, Sabará e Sete Lagoas.

ALTERAÇÕES
Já o Pontos de Prevenção visa mobilizar mulheres para a mamografia, o exame clínico médico e o autoexame. Desenvolvido há 15 anos e com mais de 22 mil unidades espalhadas pelo país, o modelo didático da Mamamiga imita as glândulas mamárias femininas e permite que as mulheres e profissionais de saúde aprendam a detectar as possíveis alterações de uma mama, dando orientações do que fazer em cada caso. Agora, a nova versão do modelo didático estará em locais públicos e banheiros femininos de pontos comerciais e empresas.

“As pessoas poderão interagir com o modelo, que traz, ainda, várias formas de contatar o movimento, por meio do site, fan-page no Facebook e e-mail, pelos quais as mulheres poderão esclarecer dúvidas. Várias empresas estão investindo na instalação e manutenção do modelo por um ano, em suas unidades, para aumentar o acesso das mulheres a esse tipo de informação. O modelo mostra, por exemplo, como é uma mama normal e como é uma mama com um nódulo que precisa ser investigado.

Segundo Paula Fernandes, nem sempre informação é conhecimento, um dos aspectos que a motivaram a apoiar o movimento. “Como dizem no interior, é melhor prevenir do que remediar. Como mulher, não poderia deixar de contribuir com essa iniciativa. É uma oportunidade de usar a minha imagem para algo grandioso: a possibilidade de salvar uma vida. Não levo só a minha música ao meu público. Ele é atento ao que digo e quero alertá-lo para a importância dos exames”, disse.