Especialistas dão dicas sobre como ensinar o bebê a dormir

É normal o recém-nascido acordar várias vezes durante a noite. Especialistas dizem que os pais não precisam se preocupar, mas devem adotar rituais para que eles aprendam a dormir

por Carolina Cotta 16/09/2014 14:00

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Edésio Ferreira/EM/D.A Press
Flávia Fontes e o filho Pedro: ela recorreu a duas técnicas para criar o hábito do sono (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
A associação entre maternidade e sono é universal. Basta os futuros papais contarem a novidade para ouvirem a sentença: “Você nunca mais vai dormir!”. E quando o neném nasce, muda a abordagem, mas não o tema: “Ele dorme a noite toda?”. Não, eles não dormem a noite toda e isso é absolutamente normal. O sono muda à medida que envelhecemos, principalmente a quantidade que dormimos. Um recém-nascido dorme cerca de 18 horas por dia. Mas o sono do bebê tem um ciclo diferente do adulto e é isso que o fará despertar e voltar a dormir várias vezes, dia e noite, sem parar.

Esta reportagem está dividade em duas partes; leia também:
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Segundo o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o ciclo de sono do bebê dura três horas. Isso quer dizer que, a cada três horas, ele vai despertar. Mesmo as fases do sonho são diferentes entre adultos e bebês. Enquanto os pais têm o sono REM e não REM, o recém-nascido tem os equivalentes sono ativo (a fase em que se sonha) e sono calmo. E mais: como viveu nove meses no escuro do útero, ao nascer ele não faz diferença entre dia e noite, o que só muda depois do terceiro mês.

“No inicio, o bebê dorme de duas a três horas, acorda e volta a dormir. É à medida que cresce que começa a reconhecer que o dia é diferente da noite. Essa é a primeira alteração no seu desenvolvimento e assim diminui o tempo que passa dormindo”, explica o especialista em sono, segundo o qual aos seis meses o bebê passa a dormir 14 horas e, com um ano, terá chegado a 12 horas. Nessa fase, ele já vai conseguir concentrar o sono na noite, tendo duas sonecas durante o dia. Isso, contudo, pode variar. “Temos bebês pouco dormidores e muito dormidores, o que é definido por uma variação biológica.”

Os pais não devem se preocupar, portanto, se, nessas 18 horas que passa dormindo, o bebê acordar oito vezes. “É importante que os pais entendam isso, porque às vezes a expectativa é outra. É normal esse despertar, assim como é normal que troque o dia pela noite até os três meses. Não é porque o bebê do vizinho dorme mais que há algo de errado”, desmistifica Gustavo. Há, contudo, uma série de rituais que podem ser adotados para o bebê amadurecer seu sono. Há, inclusive, livros e livros ensinando técnicas mais ou menos eficientes para os bebês aprenderem a dormir sozinhos, emendando um sono no outro.

MANUAIS
O pediatra carioca Daniel Becker, autor do site Pediatria Integral é contra manuais que, em sua opinião, querem que os bebês se adequem a eles. “Podem até ser usados, mas se eles se adequarem às famílias, e não o contrário. Aos poucos, os pais irão entendendo o seu bebê. Também sou contra deixar o bebê chorar. Existem estilos diferentes de criação. Há modelos mais rígidos e outro que chamamos de criação com apego, em que as crianças dormem com os pais até quererem ter sua cama. Não vejo nada de errado nisso e acho que o papel do pediatra é respeitar esses estilos”, diz.

Mas o especialista também defende os rituais de sono e que os bebês aprendam a dormir sozinhos, mas alerta para que isso seja feito de forma gradual e só a partir dos quatro meses. A ideia é que a diferença de iluminação seja marcada, para que o bebê comece a entender que o dia é diferente da noite. Segundo Gustavo Moreira, durante o dia, não deve ser usado o blecaute. “Assim, ele vai entender que a soneca do dia tem um pouco de luz, e o sono da noite é aquele do escuro. E não tem que ninar. Se fizer isso o pai terá que ninar o bebê toda vez que ele acordar”, alerta.

Outra dica: a partir dos seis meses, é dar um banho na criança, escovar seus dentes, ou massagear no caso dos mais novinhos, colocar o pijama e pôr a criança no berço. Para os mais novos, é bom cantar uma música, para os mais crescidos, uma historinha. “É importante colocar a criança no berço ainda acordada, para que ela reconheça que está no lugar de dormir”, explica. Ele também sugere a adoção de um brinquedinho, um bichinho que só fique no berço. “Quando o bebê for colocado no berço e vir seu brinquedinho, vai saber que ele é seu companheiro de dormir, e que está na hora de pegar no sono.”

Agora, quando uma criança com um ano ainda acorda várias vezes durante a noite, é preciso recorrer a um tratamento comportamental, que, segundo Gustavo, tem eficácia comprovada cientificamente. Esses, contudo, devem ser personalizados. De forma geral, eles agem ensinando a criança a dormir no berço, e não no colo, e tirando elementos de associação, como a mamadeira, o colo e a chupeta. “Se o bebê dormir mamando, ele sempre vai querer mamar quando acordar. Não se pode perpetuar esse hábito.” Outras terapias se concentram em adequar os horários de dormir.

TÉCNICAS

Pedro, de um ano e 11 meses, hoje dorme bem, mas, dos três aos 10 meses, ele acordava até cinco vezes na madrugada e sua mãe, Flávia Fontes, de 39 anos, decidiu recorrer a duas técnicas. A “Nana, nenê” consiste em educar o hábito do sono, para que a criança adormeça sozinha e, assim, se despertar durante a noite, saber dormir novamente sem a ajuda de um adulto, mesmo que para isso fique chorando por um tempo. A outra é a “La pause”, desenvolvida por Pamela Druckerman, autora do livro Crianças francesas não fazem manha. Nela, a chave para a criança dormir por períodos longos é ensiná-la a unir os ciclos de sono sozinha. A proposta do método é dar uma pausa antes de ir vê-lo quando o bebê chorar.

“O grande problema que percebo hoje, depois de ler tantos livros, é que muitas vezes ele chora sem mesmo ter acordado. Às vezes, a gente tira o bebê do berço e acaba acordando-o. Foi a pediatra que me sugeriu usar o método do “Nana, nenê”. Eu já tinha lido sobre ele e achava uma crueldade deixar o bebê chorar, mas, com a indicação, tentei fazer. Esperamos um feriado para começar, porque a ideia é deixar ele chorar e ir aumentando o tempo para ir olhar. A primeira noite foi pavorosa, mas na segunda já foi 80% melhor. Com quatro noites, a questão estava resolvida e ele passou a dormir a noite toda”, conta.