Gestação e parto podem interferir diretamente no comportamento futuro do bebê

Estudos comprovam que o feto, ainda no útero, está mais suscetível ao que acontece no mundo externo do que se imagina

por Renata Rusky 22/08/2014 10:00

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Há uma lista de respostas convencionais a questões sobre o que nos faz ser quem somos: mais calmos ou ansiosos; medrosos ou corajosos; agressivos ou pacíficos. Geralmente, os protagonistas dessas respostas são os nossos genes, que seriam responsáveis pela maioria das nossas características. Nossa personalidade seria ainda definida pela forma como fomos criados. Nossa saúde dependeria também do estilo de vida que levamos. Aos poucos, no entanto, a ciência associa tudo isso à vivência que se teve antes de nascer, dentro do útero, e no nascimento em si, na hora do parto.


CB/D.A Press
(foto: CB/D.A Press)
Pesquisas indicam que, mesmo dentro do útero, o feto não estaria completamente protegido do que acontece no meio externo. Além disso, as atitudes da gestante e as situações às quais está exposta — perda ou ganho de peso, estresse, qualidade do ar que respira, forma de se alimentar — seriam tão importantes na configuração das características do filho quanto a genética.

Por muito tempo, a ciência concordou com a hipótese de que não havia consciência inata. Bebês nasceriam sem conhecimento anterior. Uma reviravolta nessa teoria ocorreu nos anos 1980, com o lançamento do livro A vida secreta da criança antes de nascer, do psiquiatra tcheco Thomas Verny, especialista em psicologia pré e perinatal. Baseada em pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Canadá, Suécia, Suíça, França, Inglaterra e Nova Zelândia desde os anos 1930, a obra foi recebida com ceticismo por parte de muitos profissionais.

Atualmente, são muitos os estudiosos dessa área tão misteriosa quanto reveladora: o útero materno e a vida do feto dentro dele. O estudo mais recente foi publicado na revista Pnas, da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Pesquisadores da Universidade de Michigan e da Universidade de Nova York identificaram que mesmo dentro do útero a criança já pode começar a desenvolver traumas. Em situações de medo vividas pela gestante, o odor de substâncias químicas secretadas pelo organismo dela é identificado pelo feto, que aprenderá a associar esses cheiros a coisas ruins. Segundo os cientistas, muitas fobias e pavores inexplicáveis podem ter origem na fase intrauterina. Eles investigaram o comportamento de roedores cujas mães aprenderam a temer o cheiro de hortelã. Os cientistas perceberam nos primeiros dias de vida dos filhotes que as ratas ensinaram esse medo à descendência por meio do odor que exalavam em situações de estresse.

 Zuleika de Souza/CB/D.A Press
A gestação de Pétrus, depois do nascimento das filhas gêmeas, pegou Mônica Mulatinho de surpresa. Estressada, chegou a desenvolver síndrome de pânico: medo de afetar o filho (foto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Quando Mônica Mulatinho, 40, pediatra, ficou grávida das filha gêmeas fertilizadas, de 5 anos, foi tudo um sonho. Ela tentava engravidar há muito tempo e foi tudo devidamente planejado. Cerca de dois anos depois, aconteceu o inesperado: ela engravidou naturalmente. “Foi uma grande surpresa, mas foi desesperador também. Teríamos que reorganizar tudo para acolher mais o Pétrus na família e isso incluía esticar a casa para cabê-lo”, conta Mônica. Os problemas começaram desde o dia em que ela descobriu estar grávida: já sentiu uma travada na coluna, precedendo todo o estresse que viria ao longo da gravidez.

Tomava todo cuidado para não ingerir os remédios que fariam mal ao feto, mas se se estressava com o envolvimento com as obras da casa, era “um banho de cortisol”, hormônio do estresse, em seu organismo e também no do bebê que carregava. Cada pico de nervosismo era uma carga energética para Pétrus, mas era difícil para Mônica evitar. Com 35 semanas de gravidez, ela chegou ao clímax de um transtorno ansioso, a síndrome do pânico, com taquicardia, sudorese e outros sintomas. “Foi um malabarismo ficar equilibrada sem tomar remédio. Mas deu certo”, conta aliviada.

Com uma mistura de ioga, acupuntura e outras técnicas alternativas, Mônica conseguiu levar a gravidez até o fim sem outros problemas. Como culpa é sentimento intrínseco de mãe, ela temia que Pétrus nascesse nervoso ou com dificuldades para dormir. Felizmente, até hoje, ele não deu sinais de ter sido afetado negativamente. “Ele é até mais calmo que as gêmeas, mas talvez ele não seja tão calmo quanto poderia ser. O exercício físico, o sexo, tudo isso é um banho de serotonina, que, ao contrário do cortisol, é o hormônio da serenidade, então, é muito importante para a gestante. E é uma forma de cuidar bem de seu bebê quando ele ainda está na barriga”, sugere. A preocupação procede, pois a qualidade da gestação pode ter consequências de longo prazo, apontam alguns estudos.

Em 2011, outra pesquisa relacionada ao estresse de gestantes e os efeitos sobre o feto foi realizada. A equipe da Universidade de Kontanz, na Alemanha, responsável pelo estudo, pôde observar que houve alterações biológicas em um receptor de hormônios associados ao estresse em fetos cujas mães estavam sob tensão intensa. O resultado do estudo em 25 mulheres e seus filhos — hoje com idades entre 13 e 21 anos — foram publicados na revista científica Translational Psychiatry. As famílias foram acompanhadas e, cerca de 10 a 20 anos depois, os adolescentes passaram por avaliação, constatando que alguns deles apresentavam alterações em um gene em particular — o receptor de glucocorticoide (GR), responsável por regular a resposta hormonal do organismo ao estresse. A alteração identificada parece tornar o indivíduo mais sensível ao estresse, fazendo com que ele reaja à emoção mais rapidamente, dos pontos de vista mental e hormonal.

Os pesquisadores, no entanto, fazem ressalvas: as circunstâncias das mulheres que participaram desse estudo eram excepcionais. A maioria das grávidas não seria exposta a graus tão altos de estresse durante um período tão longo. Eles enfatizaram também que o ambiente social em que as crianças cresceram pode ter interferido nos resultados.

Sentidos semana a semana

  • Semana 7:

Os ouvidos do feto ainda estão crescendo e, a partir daí, começam a afinar a capacidade auditiva. Já dá para conversar um pouco e colocar músicas tranquilas para ele ouvir.


  • Semana 11:

Os dedos já estão separados, então, ele deve começar a abrir e fechar a mão em breve.


  • Semana 14:

O futuro bebê já consegue perceber a diferença entre os sabores do açúcar e do sal, suas papilas gustativas começaram a funcionar.


  • Semana 15:

Os olhos ainda estão fechados, mas ele já percebe alterações na luz externa.


  • Semana 21:

As pálpebras começam lentamente a se abrir.


  • Semana 23:

A partir de agora, ele percebe com mais exatidão os sons, principalmente os mais graves, já difere os ritmos de fala e distingue melodias.


  • Semana 26:

Ele está aprimorando os sentidos. A audição já estava boa na semana passada, mas ficará ainda melhor no término desta, com o surgimento de novas terminações nervosas no ouvido.


  • Semana 30:

O bebê percebe a diferença de luz quando você sai de um lugar iluminado para um escuro ou vice-versa. As retinas estão bem evoluídas e o bebê, mais sensível a todos os sentidos. Aproveite e acaricie a barriga, que ele vai sentir o tato e pode até retribuir o carinho, esticando pés e braços em direção à barriga. Quanto ao paladar, o único sabor que ele já experimentou foi o do líquido amniótico, que ele engole e inala continuamente. De acordo com pesquisadores, essa substância é adocicada.


  • Semana 32:

O feto está conectado com tudo o que acontece do lado de fora. Percebe os ruídos — embora o som seja abafado pelo líquido amniótico — e continua percebendo a mudança na luminosidade dos ambientes.