Vaporização a laser diminui a próstata

Nova técnica menos invasiva tem sido usada nos casos de aumento da glândula masculina, condição comum depois dos 50 anos. A redução do tempo de internação também é uma das vantagens do procedimento

por Augusto Pio 03/07/2014 11:00

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A hiperplasia prostática benigna (HPB) é um transtorno comum em homens com mais de 50 anos, chegando a atingir 80% deles. A doença caracteriza-se pelo aumento da próstata, comprimindo a bexiga e obstruindo parcial ou totalmente a uretra, prejudicando, assim, o fluxo normal da urina. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o problema acomete cerca de 14 milhões de brasileiros. Para tratá-lo, há a tradicional cirurgia com corte, que exige um tempo maior de recuperação. Uma nova técnica minimamente invasiva — ela vaporiza laser na glândula masculina — tem surtido resultados consideráveis.

Trata-se da Greenlight laser therapy — terapia da luz verde a laser, em tradução livre. “Ela reduz o tempo de recuperação quando comparado à cirurgia tradicional. Outra vantagem é a diminuição média do tempo de internação: de três dias do método antigo para, em média, um dia com o laser”, compara Bernardo Pace Silva de Assis, urologista do Pace Hospital e coordenador do Departamento de Endourologia da Sociedade Brasileira de Urologia Regional de Minas Gerais. Segundo Assis, as primeiras gerações de equipamentos de laser empregadas em HBP, como o de neodymium-YAG, coagulavam o tecido iluminado, que nem sempre se desprendia e, por isso, não desobstruía a luz uretral.

EM / DA Press
Clique para ampliar e entender mais sobre a pesquisa (foto: EM / DA Press)
O Greenlight, que usa o laser KTP e o triborato de lítio, produz vaporização imediata e não apenas coagulação das massas glandulares intrauretrais, promovendo ampla cavitação local. Outra vantagem da técnica é a possibilidade de sondagem vesical, a drenagem da urina por meio de sondas. Além disso, a ausência de sangramento permite o uso da técnica em pacientes ingerindo anticoagulantes e a maior proteção da equipe médica contra infecções transmitidas por contato com sangue de pacientes infectados. “Nesse sentido, não deixa de ser significativo que tanto o Food and Drug Administration (FDA), órgão que regula medicamentos e tratamentos nos Estados Unidos, quanto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do Brasil aprovaram o Greenlight para emprego em hiperplasia prostática benigna. Nos EUA, já existem mais de 500 equipamentos em uso clínico”, acrescenta Assis.

O urologista esclarece que a HPB é uma doença silenciosa e que pode provocar infecção urinária e, em casos raros, evoluir para a insuficiência renal. Na maioria das vezes, porém, não requer tratamento. “Aqueles pacientes sintomáticos que procuram o urologista serão tratados conforme a severidade dos sintomas. Os levemente sintomáticos serão acompanhados clinicamente, ficando sob observação. Os moderadamente sintomáticos, tratados com medicamentos que impeçam o crescimento prostático, como o finasteride e a dutasterida, ou que relaxem a próstata”, detalha.

No caso dos homens severamente sintomáticos ou daqueles que, por qualquer razão, não possam tomar os medicamentos, é indicada a cirurgia. A operação pode ser a prostatectomia aberta, na qual é necessária uma incisão no abdômen e retira-se somente a parte central da próstata, onde há a compressão da uretra. “Outro tipo de cirurgia pode ser empregado, como a ressecção transuretral da próstata, um procedimento cirúrgico feito por meio da visualização da glândula via uretra e da remoção do tecido com bisturi elétrico. Ambas são cirurgias desobstrutivas”, explica Assis.

Presidente da regional mineira da SBU, Antonio Peixoto de Lucena Cunha esclarece que o tratamento da HPB não é complicado, pois, normalmente, se limita a intervenções medicamentosas. “Quando há indicação de cirurgia devido a complicações ou a falhas no tratamento clínico, temos várias opções. O padrão ouro, dos quais as demais técnicas procuram atingir resultados semelhantes, é a ressecção transuretral da próstata (RTU). Contudo, é um procedimento cirúrgico não isento de complicações, com limitações do volume da próstata. Com o desenvolvimento dos novos aparelhos, a melhora da técnica e a experiência do cirurgião, essas complicações têm diminuído cada vez mais”, relata.

Evolução tecnológica
Peixoto acrescenta que há outros métodos para tratar a hiperplasia, como a plasmovaporização (consiste em usar um eletrodo de vaporressecção em forma de cogumelo invertido que, com uma voltagem maior, vaporiza a próstata); a prostatectomia a laser (estando disponível vários tipos de fonte, como KTP laser, Green Light 180-W XPS, Holmium-Yag Laser, Thulium YAG Laser, entre outros; a termoterapia e a ablação transuretral da próstata por agulha, um procedimento ambulatorial para tratar os sintomas urinários causados pela HPB.

Segundo o médico, todas as técnicas endoscópicas apresentam limitações, vantagens e desvantagens. As principais inconveniências são o elevado custo e a falta de comprovação de resultados a longo prazo. “Em próstatas volumosas, a melhor opção é a cirurgia aberta por apresentar uma opção segura e eficaz, permitindo uma completa remoção do adenoma (HPB) e menores taxas de retratamento”, acrescenta o especialista, ressaltando que a videolaparoscopia tem conquistado espaço no acesso das prostatectomias (remoção cirúrgica de parte ou toda a próstata), com limitação do volume, porém com um futuro promissor.

“Nas cirurgias endoscópicas, o tempo de internação varia de um a dois dias, mas existem estudos e publicações com a realização desses procedimentos ambulatorialmente. Contudo, ainda não se definiu a vantagem dessa alta precoce, uma vez que o paciente sai com sonda vesical. Nas prostatectomias abertas retropúbicas (incisão feita no abdômen inferior, com remoção da próstata), a internação é de dois a quatro dias, e nas suprapúbicas (abaixo do umbigo até a raiz do pênis), em torno de cinco a 10 dias”, esclarece Peixoto.

O especialista salienta que a evolução tecnológica possibilitou grandes avanços no tratamento da HPB nos últimos anos, com consequente diminuição dos riscos de transfusão, diminuição no tempo de internação e de cateterismo vesical. “Todos os procedimentos têm vantagens e desvantagens, diferentes fontes de energia podem ser utilizadas para remover ou destruir o tecido prostático que obstruiu a uretra”, avalia. O urologista, segundo ele, é capaz de orientar o paciente sobre qual será o melhor procedimento. “Apesar de termos ainda como padrão ouro a ressecção transuretral da próstata, existem outras alternativas com vantagens e desvantagens, custos e benefícios que devem ser levados em consideração, cabendo ao paciente e seu médico analisar e definir em conjunto qual o melhor procedimento a ser realizado”, conclui.

Possibilidades de diagnóstico
A descoberta da hiperplasia benigna da próstata ocorre geralmente durante o exame retal. Ao introduzir o dedo no reto do paciente, o médico consegue determinar se a glândula apresenta um tamanho considerado normal. A avaliação da função renal pode, segundo o Manual Merck de Informação Médica, ser feita pela análise de uma amostra de sangue. Caso haja dúvida sobre a existência do problema, o médico recorre a uma ecografia, que permite medir o tamanho da próstata e a quantidade de urina que fica na bexiga após a micção. A mensuração do líquido que fica no corpo também pode ser realizada com a introdução de um cateter por meio da uretra do paciente depois de ele ter urinado.

“Outra vantagem é a diminuição média do tempo de internação: de três dias do método antigo para, em média, um dia com o laser”
Bernardo Pace, urologista

Soraia Piva / EM / DA Press
(foto: Soraia Piva / EM / DA Press)
Qualidade de vida retomada

O aposentado Jesus Costa, 72 anos, garante ter sido o primeiro paciente a ser operado em Belo Horizonte com a técnica do GreenLight laser therapy. “Antes da operação, a HPB (hiperplasia prostática benigna) me causava problemas de micção. Levantava várias vezes para urinar. Às vezes, queria fazer e não conseguia ou então não dava conta de segurar o jato. O próprio médico me aconselhou a fazer a operação usando a nova técnica. Como tinha receio dos outros métodos mais tradicionais, aceitei. Tudo foi muito rápido, pois fiz em um dia e, no outro, já estava em casa. Confesso que não senti nada, nenhuma dor. É claro que, durante o período de recuperação, tive que ter alguns cuidados, como não andar de bicicleta, a cavalo ou descer escadas. Às vezes, quando urinava, o canal uretral ardia um pouco, mas, de acordo com o médico, era assim mesmo. Hoje, me sinto completamente normal.”