A vitória faz bem ao torcedor

Torcer por um time é sempre uma caixinha de surpresas, mas não há dúvidas de que a vitória faz muito bem ao ser humano. É nesses momentos que os vínculos com a família e os amigos ficam mais fortes

por Carolina Cotta 22/06/2014 08:36

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ODD ANDERSEN/AFP PHOTO
(foto: ODD ANDERSEN/AFP PHOTO)


Ele existe e traz criatividade, ímpeto, vitalidade e força. O estresse positivo, eustresse ou estresse verdadeiro é uma das sensações possíveis a um torcedor. Que pode, também, ter um estresse negativo, desestresse ou estresse disfuncional, que está relacionado à tristeza, ansiedade, depressão, raiva, medo e angústia. Segundo Ricardo Monezi, pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a base desse último estaria ligado, sobretudo, à frustração. E por causa dessa expectativa não cumprida, outros comportamentos, também disfuncionais, podem ser acionados, caso da agressividade.



Quem torce está sujeito a duas situações: ganhar ou perder junto com seu time. E sim, a vitória faz mais bem que a derrota. Segundo Monezi, eventos esportivos como a Copa do Mundo mexem com a fisiologia, mas também com a psiquê do torcedor e com o aspecto social. Enquanto ser humano, inserido na sociedade e em um contexto maior, ele está submetido a uma série de emoções que só se vivem de quatro em quatro anos. Um exemplo é o patriotismo, o pertencimento. "Todos passamos a ter um objetivo comum. Esse input, essa entrada sensorial, é muito forte, principalmente para o brasileiro. Temos muito afeto, calor no coração, e muitas vezes não temos onde extravasar essas questões", explica.

Por isso a Copa é um verdadeiro laboratório de experimentação para pesquisadores da medicina e da fisiologia do comportamento, como Monezi. "Vemos expectativa, seres integrados. Em poucas ocasiões percebemos a sociedade tão coesa." O efeito também é coletivo. "Se a Seleção joga bem, temos pessoas felizes. Do ponto de vista biológico, a expectativa projetada é cumprida e o corpo negocia a liberação de neurormônios, substâncias relacionadas ao sistema nervoso central que provocam sensação de bem-estar, de alegria, de felicidade, de plenitude. Elas também estão relacionadas à esperança, que é projetar algo de bom à espera."

Um time em boa fase traz altos índices de esperança a um torcedor. Segundo Monezi, o eustresse pode ser tão forte por se estar ali atuando e torcendo que inclusive o sistema imunológico pode ser reforçado. "Isso, por si só, já poderia prevenir a instalação de alguma doença." Mas se o time vai mal... A expectativa por um desfecho negativo pode levar o ser humano a altos níveis de ansiedade e depressão. "Nas copas anteriores, quando o Brasil não foi bem-sucedido, vimos um índice muito forte de descrença e pessimismo no pós-Copa. Um desânimo generalizado na população. Ganhar a Copa, por sua vez, anima, dá uma vontade a mais."

Dani Arruda/ Divulgação
Gal Arruda, consultora de moda, ao lado da sobrinha Marina (foto: Dani Arruda/ Divulgação)


COMEMORAÇÃO DUPLA

É o que espera a consultora de moda Gal Arruda, que reuniu familiares e amigos para ver o último jogo do Brasil, e comemorar o aniversário de 40 anos. "Foi ao saber da partida do dia 17 que resolvi celebrar", conta. Gal viveu intensamente as copas disputadas em outros países e acredita que a disputa, no Brasil, fortaleceu sua relação com o campeonato. "Se não ganharmos, já é um sonho ver a Copa em nossa casa. É algo para ter no coração." E haja coração. A expectativa era tão grande que ela já acordou com os batimentos acelerados. "É emocionante reunir pessoas queridas, todas envolvidas, torcendo, querendo gritar Brasil. É indescritível a emoção de vivenciar a Copa em nosso país, ainda mais fazendo 4.0", brinca.

Para Monezi, as preocupações e o sentimento negativo pré-Copa deram lugar a esse tipo de sentimento, de alegria, de esperança, de celebração. As pessoas ficam felizes até por sair mais cedo e torcer pelo seu país. E, principalmente, por torcer em casa. "O que para muitos podia ser um estresse negativo, para a maioria é questão de orgulho. Existia um sentimento de insatisfação que adormeceu. Acho que o primeiro jogo fez a ficha cair. As pessoas agora acreditam que a Copa está realmente ocorrendo e deve ser celebrada."