Renata, de 13 anos, espera por um coração no Hospital das Clínicas. Caso reforça importância da doação

A menina sofre de insuficiência cardíaca de último nível. Só o transplante de coração pode devolver-lhe o futuro

por Jefferson da Fonseca Coutinho 26/05/2014 07:53

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Jair Amaral/EM/D.A Press
Renata e a mãe, Juliana, estão há 35 dias no CTI pediátrico: caso mobiliza médicos e parentes de pacientes no hospital, em BH (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Não é caso de novela. É a vida tênue que a melhor ficção não reproduz. Com 32 quilos e olhar profundo, Renata Lara de Oliveira, de 13 anos, espera um novo coração. O sorriso é tímido no corpo-esperança, miúdo, tomado por medicação. A menina quer viver. Outro dia, em momento de fraqueza, abraçou a mãe e disse temer não dar conta. “Fique firme, minha filha. Temos que confiar em Deus. Ele tudo pode!”, disse Juliana Alves, de 31, contendo o choro pelo drama de quem tanto ama.

São 35 dias de mãe e filha no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) pediátrico do Hospital das Clínicas (HC), em Belo Horizonte. Renata sofre de insuficiência cardíaca de último nível. Só o transplante de coração pode devolver-lhe o futuro. Diz que está com saudades das irmãs Maria Cecília, de 7, e Ana Luiza, de 6. Também não esquece o dia em que recebeu o diagnóstico de miocardiopatia dilatada, há três anos, em Leandro Ferreira, munícipio com pouco mais de 3 mil habitantes, na Região Central de Minas.

Aos 10 anos, o cansaço e a falta de disposição já eram indícios da falência no peito de Renata. O quadro crítico e progressivo inclui a fraqueza dos rins – medicados para suportarem a difícil batalha pelo amanhã. O cardiologista Silvio Amadeu de Andrade, empenhado em salvar a bela leandrense, vê “horizonte muito positivo”. “Tem o drama neste momento de espera pelo doador, mas tem o sucesso de casos de jovens como Renata, que, transplantados, evoluem bem e têm de volta a vida”, diz.

O médico cita o caso de Matheus Lucas de Oliveira Leite, que, aos 13, foi o 100º paciente de um transplante de coração do HC, mantido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Três anos depois a equipe médica comemora o sucesso e a vida nova do filho da dona de casa Roseli Aparecida e do comerciante Nionaldo José, de Santa Luzia, na Região Metropolitana.

Esperança
Otimismo e esperança não faltam à equipe do CTI pediátrico do HC. Adrianne Leão Sete e Oliveira sabe bem fortalecer o coração dos que mais precisam naquele andar de agonias. Pediatra intensivista há 25 anos, soma histórias de alegrias e tristezas que ela guarda para a vida. Firme e positiva, Adrianne segura a pequena mão de Juliana, mãe de Renata, e dá força: “Vamos sai dessa, flor”. Contudo, a doutora reconhece que não é fácil acompanhar de perto o drama de tantas mães em frangalhos.

Há poucos dias, instantes depois do óbito de uma jovem de 14 anos, Adrianne ouviu da mãe da menina morta: “O coração da minha filha não pode ir para a Renata?”. Não. Não foi possível. São cenas assim que dão à médica visão muito particular de mundo, do que realmente tem valor na vida de todos os dias. Juliana, a mãe em pedaços juntados pela fé, sabe da importância da filha também como símbolo em favor da doação de órgãos.

“É uma campanha que precisa ser renovada sempre”, ressalta Adrianne. Além da menina Renata Lara, outros 28 pacientes esperam por um coração em Minas Gerais. Da retirada do órgão ao transplante efetivo são apenas 4 horas de conservação. Só o procedimento para fazê-lo voltar a bater são duas horas. O que deixa pouco tempo para o transporte, impondo também limites geográficos à ação. Há ainda a dificuldade de doadores para pacientes com menos de 40 quilos. A média de peso dos doadores é de 70kg.

No entanto, não há barreira, estatística ou fraqueza que apague a fé e a vontade de futuro de Renata, braço direito da mãe Juliana, com as duas irmãs caçulas. “Ela é muito responsável. Desde sempre. Excelente aluna. Nem parece ter 13 anos. Ela quer muito viver. Tem momentos que parece sonho o que a gente está vivendo. Não sei de onde estamos tirando forças. Só Deus”, emociona-se. No leito de número 7, Renata espera.

Soraia Piva / EM / DA Press
(foto: Soraia Piva / EM / DA Press)
Miocardiopatia dilatada

Os primeiros sintomas costumam ser a dificuldade respiratória durante os exercícios e a fadiga, decorrentes do quadro de insuficiência cardíaca. Quando a miocardiopatia dilatada é decorrente de uma infecção, os primeiros sintomas podem ser febre súbita. O termo miocardiopatia dilatada (MCD) indica um grupo de doenças cardíacas progressivas nas quais o ventrículo esquerdo se dilatada – o ventrículo direito também pode dilartar-se –, sendo incapaz de bombear um volume de sangue suficiente para suprir as necessidades metabólicas do organismo, provocando insuficiência cardíaca (IC). A frequência cardíaca aumenta. A dilatação do coração faz com que as válvulas cardíacas abram e fechem inadequadamente. Daí, as válvulas que permitem a passagem do sangue aos ventrículos apresentam a insuficiência. A MCD é a principal causa para o transplante cardíaco.

CONTATOS
>> A doação de órgãos e sua destinação para transplantes é coordenada em Minas Gerais pelo Complexo MG Transplantes.
Veja contatos:

Linha de orientação à população 0800-0283-7183
E-mail: mgtransplantes@saude.mg.gov.br
Endereço:
Avenida Professor Alfredo Balena, 400,1º andar, Santa Efigênia, BH –MG
Telefones:
(31) 3219-9200 e 3219-9211