Veja histórias que revelam mudança de vida a partir de diálogos, alertas e conselhos ditos na hora exata

As palavras têm o poder de nos influenciar para o bem e para o mal. Sabendo canalizá-las, é possível contornar situações desastrosas e seguir em frente

por Lilian Monteiro 14/05/2014 08:01

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Beto Novaes/EM/D.A Press
Se não fossem as palavras da amiga Denise Rangel talvez Getúlio Chaves não tivess saído da depressão (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Da forma como é empregada, a palavra pode promover uma ação terapêutica e ter o poder curativo. Palavras de mãe. Palavras de pai. Palavras de amiga. Como três pessoas, com dizeres na hora certa, conseguiram tocar o coração e ser agentes transformadores na vida de quem estava perdido, confuso ou infeliz sem saber qual caminho seguir. Filho único, Getúlio Chaves perdeu o pai e, em seguida, a mãe. Sozinho, de família pobre, com dificuldades financeiras, conseguiu fazer um curso superior e se tornar professor, mas a carga foi pesada demais e ele entrou em depressão. Não soube lidar com a perda e com a pressão de ter que lutar pela vida. Professor dos ensinos fundamental e médio de química e ciências numa escola pública estadual de Bom Despacho, teve de enfrentar ainda o estresse do trabalho. Nesse cenário, ele conta que "não via motivos de ser feliz e a vida não valia a pena". Em constante crise depressiva, Getúlio se trancava num quarto escuro, não queria levantar e, em 2010, "estava no fundo do poço".

Ao saber do estado de Getúlio, Denise Rangel, amiga de infância e colega de escola, quis ajudar. Morando em Belo Horizonte, um dia Denise se encontrou com Getúlio e disse: "Você merece ser feliz". Pronto, foi o que ele precisava ouvir para retomar a vida. "Com essas palavras, a Denise quebrou vários paradigmas. Mexeu muito comigo. Se ela falasse que eu precisava me cuidar, procurar médico, pela minha personalidade, certamente recusaria." Ele conta que Denise o influenciou também a procurar pelo Instituto Você para fazer um programa de treinamento neurolinguístico, onde ele aprendeu que o ser humano é como um computador, ou seja, para funcionar bem os programas têm de estar bem instalados. "Pelo que a Denise falou e pelo que ouvi no curso, aprendi a me reprogramar emocionalmente, descartando o que é obsoleto e inútil por meio de palavras assertivas que nos levam a ser mais felizes."

MUDANÇA
Getúlio se envolveu tanto com o Você que de aluno se tornou professor e hoje também é analista comportamental e professor de eneagrama (sistema de estudo da personalidade). "Minha vida mudou em todos os sentidos, especialmente no que se refere à motivação e à vontade de viver. Encontrei minha missão, que é levar as pessoas a se conhecerem melhor. E a questão é: vivo o que acredito ou é uma teoria?. Muitos não vivem no que creem." Getúlio será sempre grato a Denise: "Ela me fez descobrir que para ser feliz só depende da gente. E se não estou bem comigo mesmo fica difícil ajudar o outro. Também tenho a missão de ser feliz e contribuir com a felicidade do outro, estimulando a superar seus limites e rever seus sistemas de crenças e valores. Por isso procuro o melhor para mim".

Para Getúlio, as palavras têm poder para dar vida e para matar. "Mataram muitos de meus sonhos enquanto permiti, mas passei a usar e a ouvir a palavra de forma positiva e criativa. Hoje, permito escolher a palavra que me faz bem. Às vezes, não posso impedir que profiram a ruim, mas posso impedir que ela entre na minha mente e no meu coração." Ele reforça ainda que, sempre que encontra Denise, lhe diz: "Muito obrigado. Aliás, primeiro agradeço a Deus e, em seguida, a Denise, que foi instrumento de bênção dele para se lembrar de mim. Ela morava longe, já tínhamos pouco contato. Ficou sabendo da minha situação pelo pai e me mandou um recado. Fomos nos ver uns quatro, cinco meses depois. E suas palavras mudaram a minha vida. Elas me resgataram".

Arquivo Pessoal
Charbel : graças à mãe, ele largou a medicina e investiu em estética (foto: Arquivo Pessoal)
Tesoura para a beleza
Charbel Chelala, empresário e hair stylist do salão Charbel Visage, no Bairro de Lourdes, perdeu o pai aos 14 anos. Ficou ao lado da mãe num casarão na cidade de Ghazie, perto de Beirute, no Líbano. Com duas irmãs casadas e o irmão morando no Brasil, o menino vivia triste e quieto. Ao notar a infelicidade do sobrinho, um tio o levou para seu salão. Fez o mesmo nas férias. O garoto gostou. "Estudei nove meses e trabalhei três no salão. Aos 15 anos, fiz meu primeiro corte, o cabelo de uma menina de 9 anos. Nunca tinha feito. Eu me imaginei um escultor diante de uma pedra. Cortei e ela foi para casa. Em seguida, a mãe apareceu procurando por meu tio. Fiquei vermelho. Ela queria cortar o cabelo comigo."

Mas veio o vestibular e Charbel largou a clientela do salão para estudar. Escolheu medicina, já que tinha melhores notas nas matérias científicas. "No Líbano, são poucos médicos e o vestibular é o mais difícil. Emagreci oito quilos. Dormia às 2h e acordava às 5h. Passei ao lado de duas amigas, os únicos da cidade. Fomos parabenizados pela escola. Estava com 18 anos e desisti do salão, já que ficava na faculdade das 8h às 18h. Dedicação exclusiva."

Depois de um ano, Charbel passou a fazer pontos em hospitais e foi relacionado para o CTI. "Um dia, uma menina de 14 anos foi subir no ônibus, o motorista arrancou, ela bateu a cabeça no meio-fio, entrou no CTI e teve morte cerebral. Nunca mais tirei essa imagem da cabeça. A visão me consumia. Um dia, às 4h da madrugada, minha mãe, Assine, passou pela sala e me viu sentado no quarto. Voltou e me perguntou se eu era sonâmbulo. Começamos a conversar e falei da menina." E o filho ouviu da mãe: "A pior coisa do mundo é fazer qualquer coisa sem amor, sem gostar, porque nunca alcançará o sucesso". Uma semana depois, Charbel estava em Paris fazendo seu primeiro curso profissional de cabeleireiro. "Minha mãe me deu força e, apesar do espanto de todos, não tinha coração para a medicina. Decidi visitar meus tios no Brasil. Estou há 26 anos no Brasil e feliz com minha escolha, porque amo o que faço, que é trabalhar com beleza e estética." Ele reforça que a mãe foi responsável por sua transformação. "Ela falou o que eu precisava ouvir. Vivia um momento delicado, estava numa encruzilhada, sem rumo e, se não fosse ela, seria um médico fracassado. Tem um provérbio chinês que diz: 'A palavra certa na hora certa é mais forte do que a lâmina de uma espada'. Na vida, temos de escolher quem anda ao nosso lado para saber quem somos e quem vai nos falar a palavra que precisamos escutar."

Casado com Érika e pai de Rebeca, de 8 anos, e Faouzi, de 6, dois brasileirinhos, Charbel conta que um dia, ainda menino, andava com seu pai e criticou um homem que pedia dinheiro. "Ele me olhou e disse: 'Filho, nunca faça isso. Você não sabe o motivo de ele estar nessa situação. Na vida, temos altos e baixos’. Essa é outra lição que levo para minha vida."

Leandro Couri/EM/D.A Press
Débora Guerra trocou a fonoaudiologia pela educação depois de uma conversa com seu pai (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Educação no destino
Filha de um educador, Antônio Lisboa Guerra Neto, da Faceb/Unipac Bom Despacho, Débora Guerra, atual diretora geral da faculdade, sonhava em ser médica. Nada de seguir os passos do pai. Mas o vestibular para medicina foi uma barreira grande demais e ela optou por outra área da saúde, a fonoaudiologia, se especializando em audiologia para bebês (audição para bebês). "Apesar de sempre ter me dado força e dito para acreditar nos meus sonhos, confiar em mim, que tudo ia dar certo para conquistar meus objetivos, um dia meu pai me chamou para trabalhar com ele na faculdade. Disse para continuar atendendo no consultório, mas que dividisse meu tempo com a faculdade para conhecer a logística do ensino superior."

Débora aceitou o convite e as primeiras palavras que ouviu do pai foram: "A área de educação é muito bonita porque transformamos a vida das pessoas". Ela fez especialização em gestão universitária, passou por todas as áreas da faculdade, o pai sugeriu que colocasse na grade o curso de fonoaudiologia, do qual foi coordenadora e professora, e hoje seu mundo é a educação. "Perdi meu pai em 2005, mas nunca esqueço de sua paixão pela educação. Ele, que era da área pública, realizou-se dentro da universidade. Ele me falava com carinho que dentro dela é onde nos conhecemos e aprendemos mais, porque estamos ao lado de mestres, doutores e especialistas. Tinha razão. É um universo encantador, onde sempre crescemos e nunca ficamos no mesmo."

De todas as palavras que ouviu do seu pai, Débora revela que a mais marcante foi a última. Alerta que não foram dizeres tristes, mas sábios, cheios de amor e carinho: "Ele fez uma cirurgia cardíaca e não resistiu. Mas antes, disse para mim, minha mãe, Izabel, e minhas irmãs, Nízia e Sandra, ‘fiquem unidas vocês quatro’. E ainda ‘a educação transforma o mundo’. E aqui estamos com o sonho dele, que se tornou o de todas nós. E quanto à medicina, posso falar que me realizo na caçula Sandra, que é médica. Está tudo certo".