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Renata lembra que, às vezes, a intenção é boa. O amigo que diz umas verdades para a amiga. O pai que fala do incômodo para o filho. "O importante é o conteúdo. Ele tem de ser compartilhado, mas há uma forma de falar. Às vezes, pode escorregar, o tom não ser adequado, a palavra ser usada equivocadamente e aí o peso, a carga, até a cultural, tem o poder de ferir, assustar e magoar."
A psicoterapeuta diz que um dever de casa acompanhado de forma errada pela mãe que teve um dia ruim corre o risco de ser um desastre na relação com o filho. "Se ela estiver sem paciência, se encarou um dia ruim, se a estrutura psíquica estiver abalada, irritada e ela apagar a lição de forma ríspida e chamar o filho de burro, está feito o desastre. Tenho no consultório homens de terno e mulheres de tailleur, bem-sucedidos até, que sofrem com palavras mal colocadas, desastrosas, ditas num contexto de raiva por causa de um dia difícil. O problema é que vão machucar a vida de quem as ouviu por anos. Afetam a autoestima, a relação pai e filho..." O conselho é: conte até 20, espere a poeira baixar, respire.
Renata lembra que nem sempre as palavras são ditas de maneira impensada. Têm mesmo a intenção de ferir. Outras vezes se perdem na inocência de querer ajudar, mas infelizmente são faladas numa hora imprópria. "Acha que está sendo amigo e na verdade a atitude é inadequada." Ela chama a atenção para a carga das palavras raivosas: "Podem causar tristeza e ser uma facada, um apunhalada em quem escuta. Muitos vão registrá-las e nada vai apagá-las. E isso não é ser rancoroso. Claro, há quem remoa o sentimento, o que o faz virar ressentimento. Mas há quem fique impactado, pessoas mais dóceis, sensíveis, que guardarão aquela palavra e vão adoecer. Por isso, é importante conversar, desabafar, pedir esclarecimento, dizer o quanto tal palavra o afetou."
COBERTOR QUENTE
Renata enfatiza que a vida é repleta de mal-entendidos, falhas de comunicação, mensagens ditas de forma abreviada e, por isso, é preciso discernir, buscar o entendimento. "As palavras mudam a maneira de enxergar o mundo e de agir." Agora, há palavras do bem e para o bem. "É como um cobertor quente no inverno. Têm o poder curativo." E essa palavra pode ser da mais simples à mais rebuscada. Ou ainda uma palavra que leu num livro, ouviu numa palestra, numa letra de música, na homilia do padre, na sessão de terapia... "Palavra também é remédio e dita com sinceridade, com conteúdo e verdade, sem ser uma falsa tentativa de consolo (porque todos nós percebemos, ninguém é tolo), dita com emoção. Digo sempre que não é a boca falando, mas o coração."