O sentimento da palavra: especialistas explicam como ela interfere na vida das pessoas e é uma ferramenta de edificação

A palavra não precisa ser reprimida, mas saber expressá-la de forma estratégica pode evitar equívocos

por Lilian Monteiro 14/05/2014 08:02

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A ciência comprova. O conteúdo de uma linguagem, aliado ao seu ritmo e entonação, ativa áreas do cérebro como o córtex pré-frontal, responsáveis pela cognição e memória, e o sistema límbico, no hipotálamo, onde os sentimentos são processados. Portanto, a palavra tem força, gera ação e reação. Gera emoção. A psicóloga, escritora, professora universitária e psicoterapeuta humanista com foco nas relações afetivas Renata Feldman lembra que estamos cercados pela palavra escrita ou verbal neste mundo da comunicação afetiva e interpessoal em que vivemos. No universo, há aqueles com dificuldade de ouvir e outros com necessidade de falar. "Nessas interações, muita vezes as palavras vão sair da boca de alguém sem pensar. Quem falou não tem noção ou dimensão de qual efeito as palavras causam no outro. Isso ocorre o tempo todo. E se o emissor não é cuidadoso, pelo contrário, é impulsivo, o efeito é catastrófico."

Beto Magalhaes/EM/D.A Press
A psicóloga Renata Feldman diz que muitas vezes as palavras podem sair da boca das pessoas sem pensar (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Renata lembra que, às vezes, a intenção é boa. O amigo que diz umas verdades para a amiga. O pai que fala do incômodo para o filho. "O importante é o conteúdo. Ele tem de ser compartilhado, mas há uma forma de falar. Às vezes, pode escorregar, o tom não ser adequado, a palavra ser usada equivocadamente e aí o peso, a carga, até a cultural, tem o poder de ferir, assustar e magoar."

A psicoterapeuta diz que um dever de casa acompanhado de forma errada pela mãe que teve um dia ruim corre o risco de ser um desastre na relação com o filho. "Se ela estiver sem paciência, se encarou um dia ruim, se a estrutura psíquica estiver abalada, irritada e ela apagar a lição de forma ríspida e chamar o filho de burro, está feito o desastre. Tenho no consultório homens de terno e mulheres de tailleur, bem-sucedidos até, que sofrem com palavras mal colocadas, desastrosas, ditas num contexto de raiva por causa de um dia difícil. O problema é que vão machucar a vida de quem as ouviu por anos. Afetam a autoestima, a relação pai e filho..." O conselho é: conte até 20, espere a poeira baixar, respire.

Renata lembra que nem sempre as palavras são ditas de maneira impensada. Têm mesmo a intenção de ferir. Outras vezes se perdem na inocência de querer ajudar, mas infelizmente são faladas numa hora imprópria. "Acha que está sendo amigo e na verdade a atitude é inadequada." Ela chama a atenção para a carga das palavras raivosas: "Podem causar tristeza e ser uma facada, um apunhalada em quem escuta. Muitos vão registrá-las e nada vai apagá-las. E isso não é ser rancoroso. Claro, há quem remoa o sentimento, o que o faz virar ressentimento. Mas há quem fique impactado, pessoas mais dóceis, sensíveis, que guardarão aquela palavra e vão adoecer. Por isso, é importante conversar, desabafar, pedir esclarecimento, dizer o quanto tal palavra o afetou."

COBERTOR QUENTE
Renata enfatiza que a vida é repleta de mal-entendidos, falhas de comunicação, mensagens ditas de forma abreviada e, por isso, é preciso discernir, buscar o entendimento. "As palavras mudam a maneira de enxergar o mundo e de agir." Agora, há palavras do bem e para o bem. "É como um cobertor quente no inverno. Têm o poder curativo." E essa palavra pode ser da mais simples à mais rebuscada. Ou ainda uma palavra que leu num livro, ouviu numa palestra, numa letra de música, na homilia do padre, na sessão de terapia... "Palavra também é remédio e dita com sinceridade, com conteúdo e verdade, sem ser uma falsa tentativa de consolo (porque todos nós percebemos, ninguém é tolo), dita com emoção. Digo sempre que não é a boca falando, mas o coração."