Rosácea não é apenas rubor na pele, é doença crônica que deve ser tratada

Doença similar à acne é problema crônico, devendo ser tratado com orientação médica. Exercícios físicos, temperaturas extremas, cosméticos e estresse podem contribuir para sua manifestação

por Márcia Maria Cruz 14/05/2014 14:00

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Valf / EM / DA Press
Clique para ampliar e saber os fatores que desencadeiam a rosácea (foto: Valf / EM / DA Press)
Santiago (Chile) – Uma vermelhidão permanente na face pode indicar um problema crônico. Apesar de muitas pessoas considerarem uma simples irritação, o rubro pode ser sinal da rosácea, uma doença de pele crônica e inflamatória da face. O diagnóstico e tratamento da rosácea foram alguns dos temas discutidos durante a Reunião de Dermatologistas Latinoamericanos (Radla 2014), que ocorreu em Santiago, no início do mês. Estima-se que mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo tenha eritema (vermelhidão) facial de rosácea. “É uma doença que não tem cura, mas que pode ser controlada”, afirma a dermatologista Alessandra Nogueira, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, que participou do congresso.

A doença se manifesta tanto em homens como em mulheres, com maior frequência entre os 30 e 50 anos. Embora seja mais comum em peles claras, acomete pessoas com as mais diferentes tonalidades. “Muitos acreditam que a rosácea não atinge a pele negra, mas não é verdade. O eritema também pode se manifestar em peles mais escuras”, afirma o médico Firas George Hougeir, especialista que também participou do congresso.

Os médicos tentam melhorar a divulgação sobre a doença e as formas de tratamento, porque ainda há uma subnotificação do problema. De acordo com Walter Gubelin, da Universidade dos Andes, apenas 10% dos pacientes são diagnosticados e tratam a rosácea. Muitas pessoas não fazem o tratamento correto, porque confundem a rosácea com quadros inflamatórios ocasionados por acnes. No entanto, são problemas distintos e também com tratamentos diferenciados.

Não se sabe ao certo quais são as causas da rosácea, mas é necessária uma predisposição genética para que ocorra. Alimentos apimentados e bebidas podem potencializar seu aparecimento. A prática de exercícios físicos, temperaturas extremas, cosméticos e o estresse também podem desencadear os eritemas. Para as pessoas com predisposição genética, a mudança em alguns hábitos pode evitar o início de crises. Alimentos apimentados devem ser cortados na dieta, é preciso evitar o estresse, alguns exercícios físicos, cigarros e bebidas alcoólicas não devem ser consumidos.

EM / DA Press
(foto: EM / DA Press)
De acordo com Firas, a vermelhidão aparece porque alguns alimentos, a luz solar e temperaturas extremas contribuem para a dilatação dos vasos sanguíneos da face. A literatura científica descreve quatro tipos de rosácea: a eritematosa, que causa a vermelhidão; a inflamatória pápulo pustulosa que, além da vermelhidão, apresenta inflamações; a ocular, que acomete as vistas; e a granulomatosa, com quadros inflamatórios mais graves. A de maior frequência é a inflamatória pápulo pustulosa.

PESQUISA
Os principais efeitos da rosácea estão relacionados ao desconforto e às dificuldades no convívio social. Cerca de 40% dos pacientes evitam se expor, de acordo com pesquisa da Sociedade Nacional de Rosácea nos Estados Unidos. Cerca de 60% acreditam que a doença afeta negativamente sua vida profissional. Mais de 76% dos entrevistados disseram que a rosácea diminuía sua autoestima. Cerca de 50% já faltaram ao trabalho por conta dos sintomas graves da doença. O desconforto se deve ao fato de a rosácea tornar a pele mais sensível e ‘atacar’ bochechas, nariz, queixo, testa e, às vezes, os olhos.

O tratamento clássico é feito com retinoides (géis e cremes com metronizadol ou ácido azelaico e anti-inflamatório à base de doxiciclina). No entanto, um produto à base do tartarato de brimonidina promete reduzir a vermelhidão em 30 minutos. O medicamento atua diretamente nos vasos sanguíneos dilatados, fazendo com que haja uma vasoconstrição. “Existem cosméticos, mas esse é o primeiro medicamento para o tratamento da vermelhidão com alta efetividade”, afirma Alessandra. O tartarato age nos receptores dos vasos capilares da face e promove uma constrição, em outras palavras, uma redução na dilatação, fazendo com que os vasos voltem à função normal.

O medicamento já foi aprovado pela FDA (Food and Drug Administration), órgão governamental dos Estados Unidos que regula alimentos e medicamentos. Ainda não é comercializado no Brasil, embora já tenha sido iniciado o processo de avaliação para sua liberação. “O tartarato de brimonidina tópico foi bem tolerado mesmo na presença de terapias concomitantes para as lesões inflamatórias das rosáceas”, afirma Firas. Como ele trata apenas a vermelhidão, em casos em que há quadros inflamatórios é preciso um tratamento combinado.
EM/ DA Press
(foto: EM/ DA Press)

CONFUSÃO
A rosácea é um problema de pele diferente da acne, que caracteriza-se por uma aumento na produção de sebo nos poros e a disfunção das células do folículo piloso (estrutura na derme, onde é produzido o pelo). Muitas vezes, as acnes também geram processos inflamatórios, o que faz com que haja confusão com as rosáceas. Mais comum, a acne afeta cerca de 650 milhões de pessoas no mundo. Cerca de 85% dos adolescentes terão acne em algum momento. “As rosáceas inflamatórias podem ser confundidas com acnes, mas são doenças diferentes”, pontua a dermatologista Alessandra Nogueira.

As incômodas espinhas costumam aparecer na adolescência, mas podem se manifestar em outros períodos da vida. Nas mulheres, é comum a acne surgir durante o período pré-menstrual. Diferentemente da rosácea que se manifesta em eritemas, a acne apresenta pontos brancos e negros. Ela pode aparecer em outras partes do corpo, enquanto a rosácea só se manifesta na face.

Durante o Radla, a médica Patrícia Troielli, da Faculdade de Buenos Aires, fez uma alerta para a aplicação excessiva de antibióticos para o tratamento de acnes. Segundo a médica, as bactérias estão se tornando cada vez mais resistentes ao medicamento, o que já preocupa especialistas no mundo todo. “O abuso de antibióticos está se manifestando cada vez mais na dermatologia. Na terapia de acne, o uso generalizado de antibiótico, principalmente os tópicos, provocou maior prevalência de cepas resistentes”, afirmou a médica.

A repórter viajou a convite da Galderma.