Pessoas que procuram pelo Doutor Fritz se dizem curadas ou passam a enfrentar melhor a doença

São milhares de histórias que misturam fé, solidariedade e paz. Em todos os casos há uma espécie de gratidão eterna pela mudança alcançada, seja externa ou interna

por Luciane Evans 04/05/2014 07:01

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Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Muitos não abandonaram suas consultas médicas, mas dizem ter encontrado ali algo bem maior do que simplesmente a cura do corpo: a paz na alma (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Cada qual com sua dor. Depressão, artrose, câncer, saudade, síndromes, infertilidade, paralisia. Quem busca a cura do Doutor Fritz, em Sabará, carrega consigo a esperança por um alívio, que pode ser imediato ou não. São muitas as histórias de quem se curou de um tumor ou que continua com ele. Há relatos de quem voltou a andar depois de problemas graves na coluna e outros que passaram a aceitar melhor a própria condição. Em todos os casos há uma espécie de gratidão eterna pela mudança alcançada, seja externa ou interna. Muitos não abandonaram suas consultas médicas, mas dizem ter encontrado ali algo bem maior do que simplesmente a cura do corpo: a paz na alma.

Segundo o espiritismo kardecista, Adolph Fritz é alemão, estudou medicina e foi mandado para o “front” na Primeira Guerra Mundial, como médico-cirurgião. Na época, com poucos recursos, fez diversas cirurgias. Desencarnou durante a guerra e seu espírito foi chamado por seus superiores espirituais a descer à Terra, onde seria mais útil. No Brasil, ele se manifesta há mais de 60 anos. O fenômeno, no qual uma entidade espiritual se comunica por meio da voz e do corpo de um médium, é chamado na doutrina espírita de psicofonia.

E foi em 1998 que o espírito de Adolph Fritz se manifestou pela primeira vez na Instituição Casa de Auxílio e Fraternidade Olhos da Luz, que na época funcionava no Bairro Esplanada, na capital. A psicofonia ocorreu em um jovem médium de Brasília, que acompanhava uma das reuniões espíritas da casa. “Doutor Fritz, então, atendia as pessoas e nos pediu um lugar maior para desenvolver seu trabalho, mas deveria ser às margens do Rio das Velhas, por causa da energia do lugar”, conta a responsável pela casa, Zulmira Maria Dias.

Segundo ela, a fraternidade conseguiu uma casa muito simples no Bairro Arraial Velho, em Sabará. “Depois de um tempo, o jovem médium não quis mais esse trabalho, pois gostaria de ter uma vida ‘normal’, menos regrada”, lembra Zulmira. Desde essa época, a médium Eliane já trabalhava sua mediunidade incorporando uma enfermeira da Segunda Guerra, chamada Irmã Amélia.

MULTIDÕES
Por seis meses, a entidade espiritual de Doutor Fritz não se manifestou. “Em 2003, conseguimos o terreno em que estamos hoje e construímos a casa com madeiras e lonas. Continuávamos com nossas reuniões. Um certo dia, apareceu uma mãe muito desesperada, pois seu filho tinha um tumor na cabeça. Doutor Fritz se manifestou em Eliane e operou a criança com um pedaço de madeira. Hoje, o menino é um rapaz”, orgulha-se Zulmira, que diz que, há 11 anos, o encontro do Doutor Fritz com Eliane atrai multidões, vindas de outras cidades, estados e até países. Há dias em que são 3 mil pacientes para o atendimento, pessoas de todas as religiões e crenças, algumas até mesmo em caravanas.

Preparação do espírito
O tratamento é espiritual e começa antes mesmo de a pessoa chegar ali. “A aura dele tem um alcance enorme”, avisa o tarefeiro, termo utilizado para designar os voluntários da casa, André Luiz Herlis Nunes, de 42 anos. É por isso, que, segundo estudiosos do espiritismo, é possível que, antes de a pessoa sair de casa, a preparação do espirito já ocorra, geralmente, em sonhos. “Ele sabe de tudo que ocorre aqui e fora daqui”, avisa André.

As coisas que acontecem lá, desde o café da manhã servido, a sopa fraterna, as orações, palestras e até o medicamento entregue a cada paciente, tudo gratuitamente, fazem parte do tratamento, como uma forma de preparação do espírito. Na sala de cirurgia, tudo parece inacreditável e fantástico. Há muito calor e energia. São 23 voluntários que o acompanham. O atendimento a cada paciente, na maioria das vezes, não dura mais do que um minuto.

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
A sala de espera sempre lotada: o fenômeno no qual uma entidade espiritual se comunica por meio da voz e do corpo de um médium é chamado na doutrina espírita de psicofonia (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
São seis macas. As pessoas saem da sala de passe, entram na sala de cirurgia e são deitadas nelas. Em pé, ao lado, geralmente, está um enfermeiro voluntário que recomenda ao paciente a pensar em Deus. É tudo muito rápido e forte. Quando Doutor Fritz chega, em alguns casos, pergunta o que a pessoa sente. E, conforme a resposta, usa material cirúrgico, como gazes, agulhas descartáveis, algodão e esparadrapos. São raros os casos em que há cortes, porém, quando eles ocorrem, são superficiais. Sempre, há alguém levando água para que ele lave as mãos. O curativo, com gazes e esparadrapos é feito pelos enfermeiros. Não há anestesia. E ele cobra da equipe rapidez. “Sem demora”, gritou, com sotaque carregado, muitas vezes, enquanto ali estávamos.

A médium, enquanto está em sintonia com a entidade espiritual, não come e não vai ao banheiro. Já houve dias em que o trabalho chegou a 16 horas ininterruptas. Doutor Fritz chama cada um de brasileirinho ou filho. Para alguns, dá lições como: “Se quiser parar, pare sozinho. Mas se quiser caminhar, caminho com você.” Ou: “Mesmo arrastando, nunca desista”. O sotaque alemão é muito forte e, por vezes, não é possível entender muito bem as palavras. Em muitos casos, ele aconselha ao paciente a procura por algum tratamento médico terrestre. Aliás, a espiritualidade recomenda que todos não abandonem seus médicos terrestres e cuidem bem da sua saúde, pois, ali, o tratamento é espiritual.

Há muitos choros pela sala e eles não são de dor por algum procedimento, mas de emoção. Como foi com o paciente Rubens Caetano de Alburquerque, de 43 anos. Em dezembro, ele descobriu um câncer no pâncreas e, em janeiro, passou por uma cirurgia médica. No sábado, quando o Bem Viver acompanhou os procedimentos, Rubens, que sentia muita dor, chorou durante o tratamento. Segundo ele, por emoção. Na terça-feira, três dias depois do atendimento, ele contou ao Estado de Minas que se sentia mais leve e com menos dores e estava tão feliz quanto em tempos atrás. “Desde que faço esse tratamento espiritual, meus valores mudaram. Minha cura tem sido outra”, revela.

NOTA OFICIAL

Procurados pelo Estado de Minas, a Secretaria Municipal de Saúde de Sabará, por meio de nota, informou não haver nenhum registro nas unidades de saúde da cidade de pacientes com sequelas provenientes das cirurgias espirituais feitas pelo Doutor Fritz. O Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais informou que respeita as crenças de cada um.