Dr. Fritz não cobra pelo tratamento; Casa de Auxílio e Fraternidade Olhos da Luz recebe apenas doações

Cerca de 60 voluntários trabalham dando suporte ao Doutor Fritz. Sem ganhar nenhum centavo, essas pessoas se dedicam a ajudar por gratidão pelas curas que alcançaram, físicas ou não

por Luciane Evans 04/05/2014 07:02

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Nada é cobrado para o tratamento espiritual. Até mesmo o café da manhã servido, a sopa fraterna e o medicamento feito com água fluidificada e entregue a cada paciente são gratuitos. Tudo proveniente de doações. Além das entregas materiais , há também outro tipo de doação. É a que move cerca de 60 pessoas, entre elas crianças, todos os fins de semana, a acordar às 3h e ir para a Casa de Auxílio e Fraternidade Olhos da Luz, auxiliando o Doutor Fritz no atendimento, sem saber a hora certa de voltar para casa. Sem ganhar nenhum centavo, essas pessoas se dedicam a ajudar por gratidão pelas curas que alcançaram, físicas ou não. Alguns ficam na cozinha e preparam a sopa, que, segundo dizem, conta com a ajuda de entidades espirituais. Alguns trabalham em projetos sociais da fraternidade. Outros acompanham as cirurgias, e outros comandam as reuniões, ajudando na vibração do ambiente. Cada um tem a sua história e resume o trabalho do Doutor Fritz em uma única palavra: amor.

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Aos sábados e domingos, tarefeiros acordam cedo para ajudar nas ações da fraternidade. A maioria alcançou a cura e diz encarar o trabalho como uma missão divina (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
No sábado, quando o Estado de Minas acompanhou os atendimentos, Márcio Antônio de Miranda, de 52 anos, era um dos dirigentes da reunião espírita, que ocorre em paralelo às cirurgias espirituais. Apesar de ser feita em outra sala, a reunião, com a leitura das obras espíritas, também faz parte do tratamento, assim como tudo que é servido lá. Apesar de muitos chegarem ali achando que o Doutor Fritz é Deus, os espíritas explicam que a entidade espiritual tem seus superiores, os quais respeita profundamente. Quem comanda a equipe para o trabalho do Doutor Fritz é o médico espiritual Bezerra de Menezes. Além dele, há outras espiritualidades que ajudam no trabalho, como a enfermeira Irmã Sheila. Aos sábados, há o doutor Hélio, que em Sabará se manifesta no médium Didi e também ajuda nas cirurgias. Mas a maior permissão ali é a de Deus.

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Em alguns casos, há famílias inteiras trabalhando juntas (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Segundo Márcio, além dos recursos materiais para os tratamentos, como algodão, gazes, agulhas descartáveis, há os recursos espirituais que são conduzidos pela espiritualidade. “Eles emanam das pessoas que frequentam a casa. Elas vêm em busca da cura do corpo e do espírito, e esses recursos vêm da espiritualidade, somados com recursos interiores da pessoa, que são a sua fé e a sua vontade de ser curado. São acrescidos os recursos da flora existentes ao redor, trazidos por meio de emanações fluidas para as medicações dada pela espiritualidade.” Márcio diz que o paciente tem que acreditar, ter fé.

Apesar de todos chegarem em busca da cura, há quem não seja curado. Conforme explica um estudioso do espiritismo, que prefere não se identificar já que o trabalho em Sabará não é consenso dentro da doutrina, algumas pessoas não têm permissão divina para serem curadas. No espiritismo, acredita-se na encarnação como processo de evolução do espírito, por isso muitas vezes “a pessoa precisa passar por aquela doença e não vai conseguir a cura por meio do Doutor Fritz”. “Geralmente, ele fala com o paciente que fará tudo o que lhe é permitido fazer. Para algumas coisas ele não tem liberdade para a cura.”

Os voluntários são chamados pelo Doutor Fritz de tarefeiros e, segundo acreditam os espíritas, todos foram escolhidos pela espiritualidade. Ninguém chega ali e já consegue trabalhar. É preciso ser convidado pelo Doutor Fritz. Geralmente, são pessoas responsáveis, com boa vontade e amor. Em alguns casos, há famílias inteiras que trabalham ali. “Fui uma das primeiras crianças a trabalhar com ele. E vi coisas lindas ocorrendo. Hoje, sou enfermeira, trabalho em um hospital de Belo Horizonte e não deixo de ajudar o Doutor Fritz aqui”, comenta Caroline Cruz, de 23 anos. Essa devoção de jovens é comum, assim como ocorre também entre os adultos. “Lembro que quando cheguei aqui, há 10 anos, deitei na maca, ele me disse que meu problema era falta de trabalho e me pôs para lavar pratos na casa. Trabalhei na livraria e, depois, vim para a Campanha do Quilo. Minha vida se transformou”, conta Tânia Araújo, empresária.

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Os voluntários são chamados pelo Doutor Fritz de tarefeiros e, segundo acreditam os espíritas, todos foram escolhidos pela espiritualidade. Ninguém chega ali e já consegue trabalhar (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
MOMENTOS FINAIS

Um dos momentos mais bonitos e mais aguardados do atendimento é a distribuição da medicação, chamada Vida. Doutor Fritz sai da sala de cirurgia, depois de ter atendido todos os pacientes que esperavam na fila, e, com uma seringa descartável, injeta na boca do paciente a água fluidificada preparada, segundo os espíritas, pela espiritualidade e por Jesus Cristo. A água, na bacia carregada pelo tarefeiro, é retirada com seringa pela entidade espiritual. Depois de jorrar na boca do paciente, com uma rapidez sem explicação, ele enche as seringas e as entrega aos tarefeiros. Ali está o medicamento individual para cada paciente. A água é colocada em pequenos recipientes, sendo um para cada dia do tratamento. Para mim, foram seis. Para o fotógrafo Ramon Lisboa, cinco.

Depois dessa distribuição, ocorre a oração. No sábado, quando a reportagem acompanhou o trabalho, essa etapa foi feita por volta das 17h. Doutor Friz esperou até o último paciente chegar, como se soubesse da chegada de cada um deles. Então, ele foi para o salão principal e andou em círculos, com o sotaque forte e em alemão. Nesse dia, ele pediu: “O plano espiritual implora. Respeitem os alimentos. Não desperdicem os alimentos. Respeitem os espíritos corajosos que desencarnam através da fome”. É quando acaba seu trabalho. Depois disso, entra para a sala de cirurgia, e a médium descansa por alguns minutos. É alimentada, deitada na maca. Quando saiu, por volta das 19h, contou com a ajuda de três tarefeiros. Com o semblante leve e na cadeira de rodas, cumprimentou as pessoas que lhe agradeciam e, com a voz meiga, ela disse: "Fiquem com Deus”.