'Solteirice' não é mais vista como desvantagem

Mulheres estão mais decididas na hora da conquista e os homens já se sentem confortáveis com essa mudança de comportamento

por Juliana Contaifer 29/03/2014 10:02

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Para o psicólogo Ailton Amélio, a internet é uma boa opção para o encontro de novos casais. “O Facebook, por exemplo, tem bastante potencial para quem está sempre fazendo contato e é bom ver quem está aprovando o que você fala”, explica. Mas, apesar do potencial das redes sociais para a paquera, os melhores lugares para procurar um namorado, sugere o psicólogo, são aqueles onde estão as pessoas conhecidas e nos quais há convivência. Nesse sentido, o ambiente de trabalho e de estudos são ideais.

Janine Moraes/CB/D.A Press
Daniela Leite e Maria Rafael: Não serve qualquer um (foto: Janine Moraes/CB/D.A Press)
Outra dica parte da economista Maria Rafael, 38 anos: os parques da cidade. “Paquerar no esporte funciona bem melhor do que na balada. Eles aparecem para correr junto e o pior é quando são melhores que a gente. Eu sempre passo por esses apertos; tenho de correr bem mais rápido, morrendo, mas fazendo cara de feliz e bonita”, diverte-se.

Solteira, Maria vê a balada também como cenário para perceber como muitas mulheres paqueram hoje em dia. “Se você olha um cara na balada e demora um pouco para olhar de novo, pode ter certeza que vai aparecer alguém para conversar com ele. A mulherada está sem freios e sem limites.” Para quem não está acostumada com o panorama, é, de fato, um choque. “Passei 10 anos casada e estou divorciada há dois. Se, em um ano, as coisas mudam muito, imagina em 12. Na época da minha mãe, as pessoas piscavam o olho; na minha, mexiam no cabelo. E, agora, qual é a dica? Posso estar sendo paquerada e eu nem percebo”, questiona-se a administradora Nilde da Nóbrega, 34 anos.

A psicóloga Tamara Santos confirma que as mulheres agora são muito mais agressivas na hora da conquista e que os homens estão muito mais confortáveis. “É uma postura muito nova, que causa um baque nas recém-solteiras, que já não sabem como agir”, explica. “Saímos de uma postura passiva para entrar em um polo ativo. Com a mudança do lugar da mulher na sociedade, a gente adquiriu uma certa liberdade de escolha: ele só senta na mesa se eu quiser, só conversa se eu quiser e eu só vou ficar se eu quiser. Conseguimos essa independência a duras penas. O problema é que isso assusta”, explica a advogada Jose Alencar, 33 anos.

Diante disso, cria-se um certo vácuo. “Eles não sabem como agir e nós também não. Eu quero me sustentar, ter meu dinheiro, e eles não querem ter de arcar com todas as despesas e lidar com uma mulher em casa o dia todo. Tudo ótimo. Aí, de repente, ele fica com medo, assusta-se. Acha que aquela mulher é demais para ele, mas o contrário eles também não querem”, afirma a servidora pública Daniela Leite, 34 anos, que está separada há seis anos e admite que foi difícil voltar a sair e paquerar.

Além disso, a solterice já não é vista como uma desvantagem. Antigamente passar dos 30 anos e continuar solteira era um problema. “Não é mais um motivo de sofrimento, não é um fardo”, resume Jose. Até por isso na hora da conquista elas estão mais exigentes. “Não rio de qualquer piada sem graça para agradar aos outros, mas não quer dizer que eu seja mal-humorada ou que tenha uma cartelinha com todos os pontos que um homem tem de preencher. Só não serve qualquer um”, afirma Nilde.

A economista Maria Rafael explica que as mulheres de hoje querem mesmo é uma companhia de qualidade. “Alguém equilibrado, um relacionamento tranquilo e sem drama, com cumplicidade. Não quero ser babá de ninguém, procuro um parceiro. E, pelo que meus amigos me contam, eles querem a mesma coisa”, afirma.

Janine Moraes/CB/D.A Press
Nilde, Jose e Trícia: dificuldade em engatar um relacionamento sério (foto: Janine Moraes/CB/D.A Press)
O que atrai o outro
O que todos procuram em qualquer idade é alguém que faça a vida parecer mais leve. Bom humor e um sorriso no rosto sempre são o melhor cartão de visitas.

Aceitar a situação atual, como a volta à vida de solteira, também é importante. Só assim é possível perder a vergonha de paquerar.

Encontrar uma companhia legal para sair e aceitar convites ajuda bastante, mas o principal é estar bem resolvida.

Acredite: eles procuram relacionamentos sérios
Segundo uma pesquisa com 35 mil usuários do site de relacionamento ParPerfeito, quase a maioria dos homens depois dos 36 anos (46%) pensa em relacionamentos que sejam “eternos enquanto durarem” e 61,64% dos homens da mesma faixa etária acreditam que “sexo só se for com amor”.

E os filhos nessa história?
“Costumo preservar meus filhos da minha vida amorosa, mas resolvi começar a prepará-los. Comecei perguntando à mais velha, de 8 anos, o que ela achava de eu namorar. Ela só respondeu que eu não sabia nada sobre o amor e resolveu começar uma lista de características que meu futuro namorado deveria ter”, conta Rafaela Alvim. Feita a lista, o próximo passo foi procurar entre os conhecidos da mãe alguém que se encaixasse bem no perfil, e Raquel orientou que Rafaela deveria conhecer e conversar com a pessoa antes de sair e começar a namorar. “O menor pediu um irmãozinho um dia desses, e eu disse que, para isso, eu preciso de um marido. Ele só respondeu: ‘então casa!’”

Para a psicóloga Tamara, o ideal para filhos pequenos é, de fato, poupá-los enquanto o relacionamento não for sério. “Crianças precisam de rotina para se sentirem confortáveis, e ver a mãe com vários homens diferentes pode trazer uma ansiedade desnecessária. É melhor esperar a estabilidade”, afirma.

Ao mesmo tempo, sair de casa com filhos pequenos não é fácil. Mesmo com o apoio da família ou de uma babá para cuidar, a presença da mãe ainda é importante. “A gente trabalha, tem filho, tem de ser professora particular, dar atenção para a família, sair com os amigos e ainda tem que ter nosso tempo como mulher. Se eu saio para uma boate, no dia seguinte minha filha está às 6h da manhã batendo à minha porta me chamando para brincar. Eu tenho que acordar linda, feliz e animada — ela também precisa de mim no fim de semana”, explica a enfermeira Trícia Quixadá, 32 anos. Mesmo com as dificuldades, ela conta que, como mulher moderna, uma das atribuições importantes é justamente dar um jeito de encaixar todas suas facetas na rotina e, por isso, precisa sair e se dividir em mil.

A filha de Trícia, de apenas 4 anos, percebe que a mãe precisa de um companheiro. Ela já aprendeu na escola que sua família não é como a dos contos de fadas e que é suficiente ter a companhia apenas da mãe. “Um dia desses, estávamos em um consultório médico esperando atendimento e ela foi falar com um homem que achou bonito. Perguntou logo se era solteiro e veio gritando me contar que sim. Morri de vergonha, mas é legal ver que ela entende”, conta.

Os filhos mais velhos podem não ser tão compreensivos quanto os jovens. As duas filhas de Dalete, uma de 23 e outra de 28, não ficam muito felizes quando a mãe sai de casa. “Saímos juntas para jantar, ir ao cinema, mas quando eu vou sair elas perguntam onde eu vou com tal roupa. Eu brinco: já que querem cuidar da minha vida, podem pagar minhas contas, então. Ficam de cara feia, e eu acho que é medo de eu resolver namorar com um cara estranho. Eu procuro uma pessoa bacana, só teria um relacionamento se fosse mais light”, explica a servidora pública.

“Passei 10 anos casada e estou divorciada há dois. Se, em um ano, as coisas mudam muito, imagina em 12. Na época da minha mãe, as pessoas piscavam o olho; na minha, mexiam no cabelo. E, agora, qual é a dica? Posso estar sendo paquerada e eu nem percebo.” - Nilde da Nóbrega

“Com a mudança do lugar da mulher na sociedade, a gente adquiriu uma certa liberdade de escolha: ele só senta na mesa se eu quiser, só conversa se eu quiser e eu só vou ficar se eu quiser. Conseguimos essa independência a duras penas. O problema é que isso assusta.” - Jose Alencar

"Se eu saio para uma boate, no dia seguinte minha filha está às 6h da manhã batendo à minha porta me chamando para brincar. Eu tenho que acordar linda, feliz e animada — ela também precisa de mim no fim de semana.” - Trícia Quixadá