Remoção dos ovários não significa infertilidade

Se algum problema de saúde determina a remoção obrigatória de um ou dois ovários, é importante saber que é possível realizar o tratamento e preservar a capacidade de gerar um filho

por Letícia Orlandi 19/03/2014 08:30

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Christopher Polk/Getty Images/AFP
Embora cercada de controvérsia e desaconselhada por muitos médicos, retirada preventiva dos ovários anunciada por Angelina Jolie ajuda a esclarecer: quando a mulher realmente precisa passar pela remoção, ela pode preservar sua fertilidade? (foto: Christopher Polk/Getty Images/AFP)
A polêmica em torno da retirada preventiva das mamas e dos ovários, anunciada pela atriz Angelina Jolie, está longe de acabar. Na última semana, o Saúde Plena trouxe esse debate acalorado entre os médicos, mas uma outra questão emerge do pano de fundo deste cenário: e quando a retirada de um ou dos dois ovários é uma necessidade urgente? Ou, ainda que não tão urgente, sai do terreno profilático e é indicada para tratar uma doença real? É possível preservar a fertilidade e o equilíbrio hormonal?

Escondidos
De acordo com o médico Selmo Gerber, especialista em reprodução assistida e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as enfermidades que atingem os ovários são muitas vezes silenciosas e, pela localização do órgão, o acesso por meio de exames é mais difícil. É comum que, quando uma alteração é descoberta, o tumor já esteja em estágio avançado. “É uma situação muito diferente das alterações no colo do útero, por exemplo. Com um exame criado na década de 50, o papanicolau, conseguimos facilmente identificar a alteração e colher o material. A detecção e a prevenção são mais simples”, enumera.

Gerber explica que, além de tumores malignos, a retirada de um ou dois ovários pode ser indicada:

- torção: incomum, ela geralmente é causada por um cisto de tamanho considerável no órgão, que altera sua posição, comprime os vasos sanguíneos e leva à necrose de um dos ovários;

- cistos suspeitos de malignidade: caso seja possível identificar, na cirurgia, que o cisto é benigno, o ovário pode ser preservado. Se houver dúvida quanto à natureza do cisto, no entanto, a indicação geralmente é de retirada do órgão.

EM / DA Press
Nos casos em que há necessidade de remoção dos dois ovários, é possível agendar previamente um procedimento para estimular a ovulação e realizar o congelamento dos óvulos, permitindo uma futura gravidez (foto: EM / DA Press)
Mesmo nos casos em que a mulher enfrenta um câncer, é possível avaliar se haverá necessidade de retirar os dois órgãos. “É muito comum que um deles possa ser preservado, e com isso a mulher continuará a produzir óvulos”, explica o professor. Gerber pondera também que o câncer de ovário é, sim, de característica agressiva – desenvolve-se de forma rápida e alcança o estágio de metástase em ritmo acelerado. “Entretanto, o câncer não causa mais tantas mortes quanto causava antigamente. Sendo assim, podemos pensar em preservar a fertilidade da mulher. Aquela que ainda não teve, mas deseja ter filhos, pode conseguir realizar esse sonho depois do tratamento”, aponta.

Alternativas
Existe mais de um caminho para preservar a fertilidade, nos casos citados. Primeiro, é preciso avaliar se é possível preservar um dos ovários. Em caso positivo, há chances de a gravidez futura acontecer naturalmente, uma vez que existe um processo compensatório. Em vez de os ovários se revezarem, um deles vai cumprir a função todos os meses.

Em caso negativo, ainda há duas opções:

-se a cirurgia de retirada dos ovários não for realizada de forma emergencial e houver um prazo de no mínimo quinze dias até o procedimento, é possível estimular a ovulação em qualquer fase do clico menstrual, retirar os óvulos e guardá-los, congelados, em um banco;
-caso, no entanto, não haja tempo, existem técnicas, ainda consideradas experimentais, em que fragmentos do tecido ovariano são preservados. De acordo com Selmo Gerber, os resultados não são tão bons quanto a opção anterior. “Embora haja outros relatos indicados na literatura médica, considero que até hoje só houve um caso de gravidez por meio dessa técnica, até hoje, no mundo todo”, completa o especialista em reprodução assistida.

Se não houver sucesso na preservação dos óvulos da paciente, é possível recorrer ainda à fertilização in vitro com óvulos doados. É importante lembrar que o congelamento pode ser uma opção também para a mulher que passou por tratamento de quimioterapia – em 50% das vezes, há redução drástica dos óvulos, impedindo a fertilização natural; e ainda para as mulheres que adiam a gravidez, mas querem preservar a qualidade dos óvulos. Clique aqui para saber mais sobre essa técnica e conhecer histórias de mulheres que passaram pelo procedimento.

Reposição
Além do medo da infertilidade, outro fantasma ronda a cabeça da mulher que precisa retirar os ovários – a menopausa precoce, e junto com ela vários medos, como a falta de libido. A reposição hormonal deve, no entanto, ser avaliada caso a caso. “Embora a reposição para a mulher que está na menopausa seja assunto controverso e ainda esteja sob discussão, ela pode ser recomendada para as mulheres que passam por uma ooforectomia (retirada do ovário) antes dos 50 anos. O objetivo é minimizar os efeitos da falta de estrogênio, que acontece muito antes da hora em que ocorreria naturalmente”, esclarece o médico.

A terapia, no entanto, pode ser contraindicada para mulheres com histórico de câncer de mama ou endométrio, trombose, distúrbios de coagulação sanguínea, infarto e sangramento genital de causa desconhecida. Embora não haja uma resposta universal, muitas mulheres podem ser beneficiadas pela terapia hormonal após a retirada dos ovários. O segredo é que ela seja feita com critério e acompanhamento médico.