Os dois primeiros anos de vida são cruciais para desenvolvimento físico e psicológico das crianças

Especialistas recomendam que os pais estimulem o desenvolvimento físico e psicológico dos filhos assim que eles nascem. Exercícios físicos, aulas de música e até de circo estão entre as opções indicadas

por Correio Braziliense 26/02/2014 13:30

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 Antonio Maldonado/CB/D.A Press
Yuiti, pai de Yuki, fez questão de que o filho tivesse contato com a água desde bem pequeno: natação com três meses de vida (foto: Antonio Maldonado/CB/D.A Press)
Após o nascimento do filho, boa parte da atenção à progenitora é repassada àquele que acabou de chegar. Assim, cresce nos pais uma preocupação em oferecer ao rebento tudo aquilo considerado necessário para que ele cresça de forma próspera e saudável. Os dois primeiros anos de vida, avisam especialistas, são determinantes para que muitos desses desejos se concretizem.

Graças a vários estudos realizados na última década, hoje é consenso entre médicos que as crianças podem — e devem — ser estimuladas à prática de exercícios desde bem pequenas. Natação, judô, circo, musicalização, aulas de psicomotricidade e de dança são algumas das opções disponíveis especificamente para elas. Todas essas atividades têm em comum o fato de trabalharem tanto aspectos físicos quanto psíquicos, o que ajuda em um desenvolvimento conjunto da mente e do corpo. Os exercícios, segundo especialistas, diminuem, inclusive, a incidência de disfunções neurológicas na idade adulta.

 

Preocupação com desenvolvimento infantil é normal, mas pais devem evitar exageros

 

Veja infografia com os principais marcos de desenvolvimento da criança

 

A psicóloga Mariana Salim Jofily teve a primeira filha quando morava na Austrália. Lá, conheceu um método de desenvolvimento psicomotor para bebês e frequentou as aulas durante todo o primeiro ano da filha. “Eu fiquei muito encantada porque aqui a gente percebe algumas atividades para bebês, como natação, mas há poucas coisas voltadas para o solo. Quando tem, são mais lúdicas, não têm esse embasamento teórico ou uma metodologia de ensino”, compara. De volta ao Brasil, Mariana abriu uma atividade semelhante no Sudoeste.

A kindyroo aceita crianças a partir de 6 semanas de vida. Como ainda não há resposta para estímulos específicos, como comandos de voz, trabalham-se os sentidos. Cores, cheiros, o toque dos pais e, principalmente, o contato com outros bebês dão a oportunidade para que eles cresçam e se desenvolvam de maneira natural, como era feito antes de a tecnologia e de a insegurança tirarem as crianças das ruas. “Hoje, os bebês brincam no computador, no iPad. Há ainda a questão da cadeirinha e dos carrinhos, que fazem com que eles não tenham a oportunidade de se desenvolver de forma natural. Se eles tivessem tendo o contato com esses fatores que sempre foram inerentes ao ser humano, não precisariam desse estímulo extra”, explica Jofily.

Foi justamente em uma família preocupada com esse tipo de desenvolvimento que nasceu Yuki Tanaka Oki Kiyama, de 5 meses. Os pais, Patrícia e Yuiti, ambos com 23 anos, cuidaram do filho, desde o nascimento, de uma forma que ele não perdesse nenhuma oportunidade de estímulo. Um dos fatores que o casal considerou mais importante foi acostumar o bebê com a água. “Antes mesmo de ele nascer, nós compramos um ofurô para bebês, que é um balde simples, mas com o fundo arredondado. Logo nas primeiras semanas de vida, já colocamos o Yuki lá e, desde então, virou uma terapia para ele”, conta a mãe. Os pais creditam ao ofurô o fato de o bebê não ter sofrido com as cólicas intestinais, normais em recém-nascidos.

Com um mês de vida, Yuki tomou o primeiro banho de chuveiro. Sempre com o apoio e a presença dos pais, o garoto se acostumou logo com a água. Em menos de 30 dias, já sabia que tinha que fechar os olhos e a boca quando a água caía. O próximo passo, então, foi levá-lo à piscina. “Quando ele completou três meses, nós o levamos para a primeira aula de natação. Só que, como ele ainda não tinha tido contato com muitas crianças, com tanto barulho, logo que entrou na piscina, começou a chorar. Brincamos um pouco, mas logo saímos. Duas semanas depois, voltamos, ele entrou e ficou a aula toda. Já aprendeu até a bater perna”, orgulha-se o pai.

Despreocupados
O tempo e a rotina, entretanto, são inimigos dos pais preocupados. Trabalhos e compromissos acabam tirando a oportunidade de se passar mais tempo com os filhos e, muitas vezes, de cuidar da prole como desejado. Uma das saídas encontradas é apostar em soluções que unam a vida profissional com o trato familiar. É o caso da psicóloga e matemática Marla Simonini, 38 anos. Envolvida com educação desde a faculdade, quando dava aula de reforço escolar, ela viu na falta de alternativas a oportunidade para oferecer um serviço de complementação curricular específico para o público infantil.

“O modo como a educação é tratada no Brasil faz com que a criança que era apaixonada por matemática no ensino fundamental não suporte a matéria no ensino médio”, exemplifica Simonini.

 Antonio Maldonado/CB/D.A Press
Fernanda leva Manuela a aulas de desenvolvimento psicomotor: "Morando em apartamento, ela ficava muito fechada" (foto: Antonio Maldonado/CB/D.A Press)
Na última colônia de férias organizada na MS Educação, surgiu a ideia de abrir uma turma para os menores de 2 anos. Alguns pais levaram os filhos mais novos para acompanhar os mais velhos, já matriculados no curso. Marla, que é mãe de duas filhas, Marina e Heloísa, com 2 anos e meio e 1 ano e 9 meses, respectivamente, já tinha o costume de levar a filha mais nova à escola e, diante da oportunidade, abriu a turma.

“O interessante é ver como podemos estimular a criança. Os pequenos têm aula de psicomotricidade, aprendem a fabricar os próprios brinquedos, a lidar com dinheiro na aula de educação financeira e até a brincar no tecido nas aulas de circo. Isso sempre com a liberdade de fazer o que querem e dentro dos limites saudáveis impostos e acompanhados, a todo momento, pelos instrutores”, relata.

Com 1 ano e 8 meses, Manuela é aluna da MS Educação. A mãe Fernanda Rego Santos, 33 anos, procurava uma opção que fizesse bem à filha e a deixasse despreocupada no trabalho. “Estava difícil de encontrar algum lugar em que ela pudesse ser estimulada. Morando em apartamento, ela ficava muito fechada e não se comunicava muito. Achei que precisava conviver mais com outras crianças. Além disso, vi que seria importante ajudá-la a desenvolver melhor a habilidade motora, levando em consideração o fato de que, hoje, as crianças, por conta da (falta de) segurança, mal brincam na rua ou convivem entre si”, explica.

Indicado para os prematuros
Estimular as crianças desde cedo também pode ser uma ferramenta para amenizar problemas que tenham surgido durante a gravidez. No caso da família Oleskovicz, os pais, Carlos Henrique e Patrícia, ambos com 35 anos, começaram a procurar locais que estimulassem o desenvolvimento psicomotor do filho logo quando a criança nasceu. João Pedro, 1 ano e 4 meses, veio ao mundo no sexto mês de gestação, pesando menos de 1kg. “Logo depois do nascimento, o pediatra recomendou que começássemos o quanto antes a fazer algumas atividades com ele. Sugeriu, então, alguns exercícios com luzes e cores”, conta a mãe.

João Pedro começou a frequentar as aulas na kindyroo quando tinha 4 meses. Até então, ele havia ficado os três primeiros meses em recuperação no hospital e somente um em casa. Não tem sequelas, física ou motora, em consequência do nascimento prematuro. “Acho que isso se deve ao fato de a gente ter sempre se preocupado em como ele iria se desenvolver. Ele ter sido estimulado sempre — também com uma técnica que respeita tanto as limitações de cada criança e que, principalmente, pode ser empregada em casa — foi fator determinante para que tivesse a saúde que tem hoje, sem dúvida alguma”, conta, emocionada, a mãe.

Patrícia chama a atenção para o fato de que o bebê precisa, nessas situações, de um trabalho continuado. E é justamente a esse acompanhamento que ela credita o sucesso no desenvolvimento de João Pedro.

Movimento integrado
A psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem por meio do corpo em movimento e em relação ao mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, no qual o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante da individualidade, da linguagem e da socialização.

Faça em casa
Confira como você pode estimular o desenvolvimento psicológico e físico do seu filho de até 2 anos


» Ao fazer uma pergunta para a criança, deixe realmente que ela responda e acolha o que foi dito. Sempre será válido o raciocínio, mesmo que não seja a resposta esperada

» Na interação com a criança, jamais coloque uma sanção que não dará conta de cumprir. É nessa incoerência da fala do adulto que a criança encontra espaço para desrespeitar os limites

» Incentivar a criatividade é fornecer condições necessárias e suficientes para as pessoas gerarem as próprias opções, não apenas escolher entre alternativas apresentadas pelos outros

» Seja sempre parceiro dos professores de seus filhos. Quando perceber alguma dificuldade por parte do profissional, ajude-o com informações, materiais e dicas para melhor exercer o papel dele. Afinal, educadores também precisam de cuidados

» Limites não precisam ser impostos, basta apresentá-los. As crianças os compreendem

» Educar crianças consiste na arte de despertar a alegria e o prazer na apropriação do conhecimento. A liberdade para aprender se manifesta na decisão de transformar a informação em conhecimento

Soraia Piva / EM / DA Press
(foto: Soraia Piva / EM / DA Press)
Sinais de desenvolvimento

Até completar 18 meses, as crianças se encontram em uma fase de aquisição de habilidades. Nesse período, os aspectos sensoriais e de linguagem ainda estão se aperfeiçoando. Com dois anos, completa-se o desenvolvimento sensório-motor. Nessa fase, conseguem correr bem, sem cair; subir e descer escadas em passos alternados e sozinhas; virar páginas de livros; realizar atividades diárias, como tentar comer ou desamarrar os sapatos sozinhas; expressar-se por meio de frases curtas, de duas ou três palavras, e nomear três ou mais figuras.