Crescimento de casos de câncer em Minas está acima da média nacional

MG deverá ter 61,5 mil casos da doença (terceiro do país) este ano, principalmente de próstata e de mama. A alta de 13,5% sobre 2013 está acima da média brasileira, que é de 11,3%

por Junia Oliveira Valquiria Lopes 05/02/2014 07:41

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Um mal que assombra milhares de brasileiros não dá sinal de trégua. Apenas este ano 576.580 pessoas deverão ter algum tipo de câncer, principalmente de próstata e de mama. A estimativa foi divulgada nessa terça-feira (4), no dia mundial de combate à doença, pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). O crescimento é de 11,3% em relação ao ano passado, quando a expectativa foi de 518 mil novos casos. O aumento acompanha o envelhecimento da população e, em alguns estados, a alta taxa de incidência se aproxima daquelas dos países desenvolvidos, segundo o Inca. Em Minas, o número de pacientes com algum tumor deve aumentar mais que a média nacional (13,5% contra 11,3%), passando de 54,2 mil em 2013 para 61.530. Em Belo Horizonte, a previsão é de 10.030 doentes.

Minas é o terceiro estado com a maior previsão de novos casos, atrás de São Paulo (152.200) e Rio de Janeiro (73.680). O câncer de pele do tipo não melanoma (benigno) será o mais incidente na população brasileira (182 mil casos novos). O mesmo ocorrerá em Minas Gerais (23.300) e em BH (4.010). Na sequência, o de próstata, mama e cólon/reto vão liderar a lista dos tipos da doença que mais vão acometer mineiros e belo-horizontinos, a exemplo do que foi estimado em anos anteriores. Os cálculos do Inca são válidos também para 2015.

EM / DA Press
A expectativa é de que a maioria dos doentes na capital mineira sejam mulheres (54%), contrariando a média brasileira (foto: EM / DA Press)
O coordenador de Prevenção e Vigilância do instituto, Cláudio Noronha, explica que os tipos da doença acompanham o comportamento da população. Assim, intestino, mama e próstata estão sujeitos a ficar no topo da lista por causa da grande quantidade de idosos no país. Já o de estômago apresenta tendência de queda, em razão da melhoria das condições de vida dos brasileiros. O de pulmão tende a diminuir entre as mulheres, mas a aumentar entre os homens, motivado pelo tabagismo. O de colo de útero tem apresentado redução na última década, devido a fatores de prevenção.

Noronha acrescenta que, na comparação com o resto do mundo, os índices do Brasil estão acima da média, mas não são tão altos quanto os de alguns países desenvolvidos, que têm população mais idosa e que fuma mais. No entanto, na análise da situação brasileira, alguns estados apresentam níveis de Primeiro Mundo, principalmente no Sudeste, região com maior estimativa para este ano (299.730). “Temos que avaliar fatores como alimentação, hábitos e cultura. Na Região Norte, por exemplo, cuja previsão é de 20.020 casos, a menor entre as regiões, a população é mais jovem e, por isso, o câncer de estômago é frequente. Ele está associado a questões como conservação dos alimentos e condições sanitárias. O de colo do útero também é maior nessa região”, afirma.

CIGARRO E ÁLCOOL

A doença também está associada a fatores de risco, como tabagismo e álcool. O prognóstico de casos de câncer é maior entre os homens. No Brasil, 52,5% dos pacientes que poderão ser acometidos pela doença são do sexo masculino. Em Minas, são 53%. Belo Horizonte destoa nesse cenário, invertendo as proporções. A expectativa é de que a maioria dos doentes na capital sejam mulheres (54%). “Pulmão, estômago, boca e esôfago são mais afetados pela doença entre homens, que estão mais expostos, por beber e fumar mais e irem menos ao médico. As mulheres são mais atentas à saúde. Já o câncer de intestino não difere sexo, porque está relacionado ao envelhecimento e à obesidade”, relata Cláudio Noronha.

Mais doentes e, consequentemente, mais vítimas de mortalidade. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), a cada 100 mil homens, 90,51 morrerão de câncer este ano. O tipo mais letal é o de próstata, que deverá matar 1.370 mineiros. Entre as mulheres, a taxa de mortalidade é de 72,64 por grupo de 100 mil – o de mama é o que mais matará, podendo fazer 1.140 vítimas. Procurada no meio da tarde de ontem, a Secretaria Municipal de Saúde informou que não teria tempo hábil para responder as perguntas da reportagem.

Quase a metade dos casos são passíveis de prevenção
Não só a esperança faz parte da rotina da família do servidor público aposentado Alexandrino Barbosa Sena, de 63 anos. Se em tempos de saúde, a casa em Novo Cruzeiro, no Vale do Jequitinhonha, era sinônimo de encontros animados, agora, com o surgimento de um câncer no fígado, a solidariedade é que alivia os dias difíceis. Desde setembro morando na casa de um filho em Belo Horizonte, ele recebeu esta semana a maior prova de carinho. Amigos e parentes rasparam a cabeça para demonstrar que, mais do que nunca, Alexandrino não está sozinho. “É um conforto e dá mais força para encarar este momento. É emocionante”, diz o aposentado.

EM/ DA Press
Clique para ampliar e entender o avanço da doença (foto: EM/ DA Press)
O filho dele, o educador físico Thallis Diego Barbosa Rocha, de 33, lembra que o diagnóstico recebido no início de novembro do ano passado foi um baque para a família. Alexandrino passou por uma cirurgia recentemente e aguarda os desdobramentos de um processo judicial para receber do estado o único remédio capaz de curar sua doença. A caixa com 60 comprimidos custa R$ 7 mil. “Eu, meus irmãos e um primo resolvemos juntar uma turma e fazer uma surpresa. Qualquer tipo de coisa que traga força é importante, pois a vida dele está nas mãos da burocracia”, afirma.

CUIDADO

A prevenção para evitar novos casos ainda é a palavra-chave. Segundo estudo feito pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), pelo menos 47% dos novos casos em Minas este ano serão de sete tipos da doença passíveis de serem evitados. Na lista estão câncer de pulmão, mama, próstata, estômago, intestino, colo de útero, cabeça e pescoço. Se adotadas todas as medidas preventivas, as chances de evitar a doença podem ser ainda maiores e chegar a 75%, diz o pesquisador do Hospital das Clínicas e do Centro Avançado de Tratamento Oncológico (Cenantron), André Murad.

Ele explica que hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, atividade física, manutenção do peso ideal e redução do consumo de álcool são fundamentais para evitar pelo menos três tipos da doença: mama, próstata e intestino. “Hoje, a incidência genética dos casos de mama é menor do que 15%. A grande maioria é adquirida”, destaca Murad. O especialista recomenda que tanto homens quanto mulheres mantenham alimentação rica em verduras, frutas, legumes e carnes brancas e pobre em embutidos, produtos industrializados, refrigerantes e carnes vermelhas. “O combate à obesidade e ao sedentarismo também são muito importantes”, destaca.

Vilão nas estatísticas em todo o mundo e responsável por 90% dos casos no pulmão, o cigarro também deve ser combatido. “O consumo já é menor do que anos atrás, como na década de 1970, quando cerca de 40% das pessoas fumavam. Mas ainda há pelo menos 15% da população que é fumante, especialmente nas classes menos escolarizadas e abastadas”, informa Murad. Menos comum, o gás radônio, originário das rochas do solo, também está entre as causas do câncer de pulmão e para quem mora em apartamentos térreos ou casas, a orientação é manter o ambiente ventilado e sem rachaduras.

O cigarro pode estar associado a diversos tipos de câncer, como os de esôfago, estômago, boca, língua, pâncreas, bexiga, rim, garganta e tumor de cabeça e pescoço. Neste último caso, o álcool também potencializa a doença.

Iguaria famosa no Norte de Minas, a carne de sol consumida em excesso também pode provocar câncer. O produto é conservado à base de sal e produz nitrato que deriva para nitrosamina, substância causadora do câncer de estômago. O mesmo serve para conservantes químicos comum nos enlatados, defumados e em conservação da proteína animal. Esse tipo da doença também pode ser provocado pela bactéria Helicobacter pylori, espécie que infecta a mucosa do estômago humano e causa úlceras e cancros estomacais. O combate com antibióticos resulta na cicatrização da úlcera e na potencial redução do risco de câncer.

VACINA

A oferta da vacina para prevenção do vírus HPV para meninas de 11 a 13 anos, a partir de março na rede pública, é vista pelo pesquisador como grande avanço na prevenção do câncer de colo de útero. Ele lembra ainda da importância do uso de preservativos nas relações sexuais e dos exames de papanicolau para detecção e tratamento do vírus. Murad lembra ainda que fundamental fazer exames clínicos anuais como mamografia, PSA para detecção de câncer de próstata, pesquisa de sangue oculto nas fezes e papanicolau, entre outros.