Dores nos testículos podem ser sinais de alerta para doenças

Pancadas na região sensível despertam medo da infertilidade, mas homens devem ficar atentos a outras causas para incômodos. Problemas de saúde pouco conhecidos por eles podem causar complicações e até a perda do testículo

por Letícia Orlandi 29/01/2014 08:30

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Zuleika de Souza/CB/D.A Press
Acidentes durante a prática de esportes motivam temores a respeito da infertilidade, mas dano permanente é muito raro. Os incômodos nessa região sensível da anatomia masculina podem indicar outros problemas (foto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press )
Na pelada de fim de semana, naquela manobra mais radical na bike ou no skate e até mesmo na mordida de um cachorro, um trauma na região pélvica costuma provocar, além de dores intensas, especulações sobre prejuízos à fertilidade do homem. O urologista Daniel Xavier Lima, professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, explica que um trauma nessa situação raramente provoca dano testicular permanente e, quando provoca, ele é unilateral. Mas as dores nessa região sensível da anatomia masculina podem indicar também doenças pouco conhecidas, com complicações sérias, a exemplo da torção, da infecção e do câncer.

No caso dos acidentes exemplificados, a infertilidade do cordão espermático - estrutura que contém os vasos sanguíneos destinados à irrigação do testículo – só aconteceria se os dois testículos sofressem o trauma e tivessem um comprometimento sério, o que é muito raro nesse tipo de situação. “E mesmo no caso do trauma unilateral, o dano definitivo é incomum, porque o testículo, apesar de parecer vulnerável, conta com camadas de proteção e estruturas de mobilidade capazes de amortecer boa parte desses impactos”, detalha o especialista.

Já a torção testicular, que tem origem em um problema de fixação do testículo na parede do escroto, pode ter como gatilho um trauma ou mesmo um movimento específico durante o repouso. Ela acontece quando o cordão espermático gira e se dobra, impedindo o fluxo sanguíneo. “O testículo sofre por falta da circulação do sangue, o que pode levar à necrose. Em muitas ocasiões, a torção ocorre durante o período do sono, e este é um dos alertas para identificar o problema em crianças ou adultos – uma dor muito aguda que surge de repente, mesmo quando a pessoa está deitada”, observa o urologista.

O defeito de fixação no testículo é congênito, mas ainda não está definido, na literatura médica, se sua origem é genética. “Uma pessoa pode ter o problema e mesmo assim nunca sofrer uma torção”, acrescenta o professor da UFMG. A condição pode acontecer em qualquer idade e tem como principais sintomas inchaço com dor intensa e contínua.

Arte sobre reprodução / nt.estiga.com/
A torção pode acontecer durante o repouso. Quando não tratada nas primeiras horas, leva à perda do testículo. Principais sintomas são dor intensa e inchaço (foto: Arte sobre reprodução / nt.estiga.com/)
Não há como prevenir, mas existe tratamento. “O diagnóstico clínico é possível, especialmente se o paciente procurar o auxílio médico nas primeiras seis horas, quando o inchaço ainda não está muito grande e temos uma 'janela de ouro' que favorece a recuperação. Em casos de dúvida, podem ser feitos exames complementares, como a ultrassonografia e a cintilografia, método de diagnóstico por imagem”, diz o urologista.

O tratamento definitivo consiste em intervenção cirúrgica para destorção do cordão espermático e fixação interna do testículo na parede escrotal. Se o procedimento não for realizado em tempo, há o risco de perda da função de um dos testículos. “Caso isso ocorra, é indicado que o indivíduo faça a fixação do outro testículo, já que, na maioria dos pacientes, os dois lados têm o defeito congênito de fixação”, recomenda o especialista.

Diagnóstico deve ser preciso
As infecções, apesar de contarem com tratamento mais simples, também podem comprometer o funcionamento dos testículos. A condição pode estar associada a bactérias que causam doenças sexualmente transmissíveis, principalmente nos homens mais jovens. Em homens mais velhos, é comum que a infecção seja provocada por problemas ao urinar.
O principal sintoma é a intensa dor local e aumento do volume do testículo. “O que diferencia a infecção da torção é que, geralmente, a dor infecciosa começa um pouco mais leve e vai piorando em cerca de dois a três dias. A pele do escroto fica mais vermelha, com calor local”, detalha o professor.

O tratamento requer cuidados como o repouso e o uso de antimicrobianos e analgésicos. A demora e a desobediência às recomendações médicas podem levar à necrose do testículo e, consequentemente, causar atrofia.

Lima alerta, no entanto, que todos os incômodos agudos ou persistentes no testículo devem ser investigados. “As causas de dor e inchaço na região são variadas e o diagnóstico preciso é fundamental. Outras doenças, como o tumor testicular, devem ser sempre levadas em consideração, uma vez que atingem inclusive a população mais jovem e os adolescentes”, alerta o especialista.

AFP PHOTO / OKUIZUMO GOVERNMENT
Causas de dor e inchaço na região são variadas e o diagnóstico preciso é fundamental. Outras doenças, como o tumor testicular, devem ser sempre levadas em consideração, uma vez que atingem inclusive a população mais jovem e os adolescentes (foto: AFP PHOTO / OKUIZUMO GOVERNMENT )
O urologista esclarece que os tumores sofrem forte influência genética e podem parecer uma 'simples' inflamação ou infecção, mas têm consequências trágicas quando não tratados. “Quando se forma um tumor dentro do testículo, até mesmo um trauma leve, como uma esbarrão, pode provocar dor. Esse é um dos sinais de alerta. O acompanhamento deve ser frequente para que a causa do desconforto seja esclarecida”, recomenda Lima.

Nova postura
Mas e o fantasma da infertilidade? As estatísticas mundiais indicam que aproximadamente 15% dos casais que desejam engravidar apresentam problemas de fertilidade. Se antes, aos olhos da sociedade, as culpadas geralmente eram as mulheres, nas últimas décadas a questão passou a ser incluída também nos check-ups da saúde masculina. As pesquisas nessa área ainda têm muito a avançar, mas os estudos indicam que, além de fatores genéticos, a varicocele, os processos infecciosos e mesmo o uso de determinadas substâncias como os anabolizantes são possíveis causas de redução da fertilidade no homem.

Ainda assim, cada caso é um caso. “A varicocele, por exemplo, caracterizada pelas varizes na região dos testículos, na maioria dos pacientes não causa a infertilidade. Mas o tratamento pode ajudar a melhorar a qualidade do sêmen”, pondera Daniel Xavier Lima. E sobre aquele estereótipo masculino que resiste em ir ao médico, o especialista diz acreditar que é uma espécie em extinção. “Ainda que muitas vezes eles cheguem ao consultório estimulados pela companheira, o homem tem se preocupado cada vez mais com sua saúde”, observa o urologista. Na dúvida, agende uma consulta, sem deixar para depois.