Para contar histórias, adultos usam habilidades como paciência e uma entonação própria

Casos inventados fazem sucesso entre as crianças, com boa vontade e imaginação. Vejas as dicas para os pais que querem ter o hábito de contar histórias aos filhos

por Luciane Evans 20/01/2014 09:02

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À noite, antes de dormir, ou em uma tarde qualquer. Lidas ou inventadas, não importa. Para contar histórias não é preciso receitas, requer apenas vontade e imaginação. Segundo especialistas, as crianças querem ouvir entonações e sentir que o adulto também acredita no que conta. “Só são necessárias a voz e a entrega”, ensina a contadora de histórias Rosana Mont'Alverne. Mas, como começar? Há uma idade certa para ouvir os contos, casos e fábulas?

Não. Aquele argumento de que é preciso o menino crescer para entender o que se conta não vale mais. Para os defensores dessa tradição, não existe idade certa para entrar nesse universo encantado, que também não tem hora para ocorrer. Na casa da analista financeira Valéria Morais Ramos, de 35 anos, tudo ocorre naturalmente. Com dois filhos, Mariana, de 15, e Gabriel, de 2, Valéria diz que foi com Mariana que começou as narrativas. “Ela tinha 1 ano quando comecei. Vi que foi muito bom para ela. Com o Gabriel foi desde quando ele estava na barriga”, comenta, orgulhosa. O pequeno gosta tanto que basta Valéria dizer “era uma vez...” que ele larga tudo o que está fazendo. “Mariana cresceu com uma maturidade cultural. Meu sogro lia para ela, todos os domingos, o jornal Estado de Minas”, recorda. Para a primeira filha, ela leu mais do que inventou. “Hoje, temos uma relação de amigas”, ressalta.

Marcos Michelin/EM/D.A Press
Valéria Morais Ramos contava histórias para Gabriel desde quando ele estava na barriga (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Com Gabriel, Valéria inventa mais. Aos 2 anos, ele já é fã de livros e se apaixonou pela história do Coelho Bibico, inventada por ela. “Todas as noites ele pede para eu repeti-la e aí, à medida que conto, vou inventando. Acho que fazendo essas coisas conseguimos mais respostas deles. Quando Gabriel está fazendo alguma pirraça, eu conto algo, e aquela situação que queria impor vem com facilidade. Às vezes, quero que ele pare de ver TV, então, desligo e começo alguma narrativa. É uma forma de prender a atenção dele”, ressalta.

Rosana Mont’Alverne lembra que cresceu nesse ambiente encantado. “Tive um avô, pai, mãe e uma vizinha que contavam casos para mim. Meu avô enrolava um pito e quando a noite começava ele contava uma história, daquelas do interior, com direito a assombração. Era mágico. Meu pai foi combatente na Segunda Guerra Mundial e tinha muito o que contar. Já minha mãe, sempre depois do almoço, descascava laranja serra-d’água lembrando os casos da família. Minha vizinha já contava sobre os contos de fadas”, recorda. Rosana diz que, para começar, os pais devem iniciar pelo básico, como a leitura do livro Os três porquinhos. “Um menino de 4 anos, por exemplo, gosta é do bicho, por isso o Lobo Mau se torna o principal personagem para ele”, afirma.

Outro passo, segundo Rosana, é perder o medo de contar. “Quando você começa, a narração vem. Se você conta a história da Chapeuzinho Vermelho e enxerga a floresta, a vovozinha, você entrou para o bosque e a mágica está posta”, diz, acrescentando que contar é afeto, “é dar o tempo que você não está no celular ou na internet”. No caso de um menino maior, que certamente tem livros a ler a pedido da escola, a contadora aconselha aos pais aproveitarem esse material. “Os pais têm que se interessar e podem dizer, por exemplo: ‘Conheço essa obra, gosto dela. Vamos ler juntos?’. Isso é uma forma.” O repertório de vida, com biografia da família, é outro ponto ressaltado por Rosana. “Crianças gostam disso, assim como adoram as lendas urbanas.”

INVENTAR

Arquivo Pessoal
Segundo a contadora de histórias Rosana Mont'Alverne, os pais podem começar por uma leitura básica, como 'Os três porquinhos' (foto: Arquivo Pessoal)
De acordo com a psicopedagoga Sylvia Flores, meninos e meninas têm preferência por aquelas que são inventadas. “Podem-se contar as tradicionais, mas os pais podem contar como se lembram delas. Até modificá-las. As crianças morrem de rir se, por exemplo, há um cavalo azul no meio do conto. Quando ela percebe que a história é inventada, ela participa mais e isso acaba sendo um exercício de resgate da própria criatividade do adulto”, comenta Sylvia. Outro passo importante, segundo a especialista, é percorrer o setor infantil das livrarias, pois há ali “uma grande viagem, que visa ao prazer, ao amor e à imaginação.”

Ela aconselha que esse universo das palavras ocorra antes de dormir. “É um momento de calma, em que a criança se prepara para o mundo dos sonhos.” Quando contada, a história, segundo Sylvia, precisa ter emoção. “Ela não pode ser apresentada como um enredo, ou da mesma forma que se lê uma notícia de jornal. O contador tem que se envolver emocionalmente, com entonações. Os pais devem estar atentos às reações do pequeno. Se o monstro da história o assusta e o deixa tenso, é hora de falar que o monstro é também um palhaço, um trapalhão. É preciso ter atenção a esse feedback, calibrando, assim, suas próprias histórias.” O resto é magia.


É SÓ COMEÇAR

Vejas as dicas para os pais que querem ter o hábito de contar histórias aos filhos.

» Entonação
Nada é mais entediante para uma criança do que uma leitura monótona. A voz dramatiza a história, dando mais colorido a ela. Mas cuidado com os exageros.

» Ler ou contar
Tanto faz. O improviso exige mais da criatividade de quem conta. Uma dica é colocar os filhos como personagens. A leitura é também uma ótima ferramenta. Cria no filho a ideia de que as histórias moram nos livros.

» Cenário
Não é preciso muita elaboração para criar cenas. Um simples lápis que se transforma em vara de condão ou um lenço que vira uma capa mágica são capazes de encantar a criança.

» Não tem hora
Se quiser, estabeleça um momento do dia para a história, como antes de dormir. Mas não há regras.

» Criando clima
Depois de um dia inteiro fora de casa, não vá direto contando histórias. Converse com seu filho. Esgote as ansiedades infantis. Brinque com ele para entrar no clima e se desprender das preocupações.

» No meio do caminho
Prepare-se para interrupções. Nada mais gostoso que curiosidade de criança e você pode estimular mais devolvendo as perguntas a seu filho.