Mesmo quem não tem vocação para esportes deve abandonar a preguiça

Atividade física é fundamental para garantir bem-estar, além de ser a melhor receita para ter o corpo desejado

por Renata Rusky 03/01/2014 09:01

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Zuleika de Souza/CB/D.A Press
Ludmila (direita) e Célia (esquerda) são o exemplo de que, depois que o exercício entra na rotina, difícil é ficar sem ele (foto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Exercício é bom em todas as idades, mas nem todos o praticam de forma regular ao longo da vida, sem idas e vindas. Alguns têm vocação natural para o esporte, outros são criados sem incentivo à atividade ou, simplesmente, não têm jeito para a coisa. O fato é que até aqueles que detestam se movimentar sabem que, cedo ou tarde, a vida vai exigir que eles abandonem a preguiça.


A designer Ludmila Pessoa, 23 anos, ao lembrar da infância, brinca: “A bola vinha pro meu lado, eu ia pro outro”. Sua atitude só mudou há coisa de uma ano e meio. Ela estava descontente com a própria imagem. Depois de diversas matrículas em academias, seguidas de desistências, e de “projetos verão” frustrados, ela tomou coragem. Nunca tomou gosto pelos exercícios aeróbicos, mas se encontrou na musculação.

Agora que a rotina está estabelecida — com frequencia de até seis vezes por semana —, Ludmila sente muita falta quando, por algum motivo, não treina. Há um mês, Ludmila enfrentou crises de enxaqueca e, para sua tristeza, constatou que carregar peso piora as dores. Teve de dar um tempo na musculação. “Eu fiquei mau humorada e tão ansiosa que sentia um desejo quase incontrolável de comer doces, coisa que nem gosto tanto”, admite. “É claro que, entre malhar e assistir a um filme, eu ainda prefiro a segunda opção. Mas, se eu não assistir, não vou sentir falta. Com a malhação é diferente: se não malho, mudo de personalidade. Virou uma necessidade”, confessa.

A solução para a designer foi investir no pilates, prática que prima pelo alongamento e pelo esforço sem impacto. Ela ainda estranha a “leveza” da modalidade, já que não se cansa facilmente, mas consegui equacionar o que mais lhe afligia: a ansiedade e a falta de disposição. Ambos os sentimentos causam um efeito dominó, piorando a alimentação e afetando os relacionamentos pessoais.

Assim como Ludmila, Célia Franca, 47 anos, taquígrafa, considera-se uma “viciada em academia”. Célia, que malha desde 1988, atualmente se exercita de segunda a sábado pela manhã, o que especialistas dizem — e ela confirma — dá mais disposição ao longo do dia. Em suas duas gestações, ela não esmoreceu, apenas migrou para a hidroginástica, que considera mais segura. Por dois anos, ela correu ao ar livre, mas enjoou. Um dos pontos positivos que ela ressalta de frequentar uma academia é a possibilidade de praticar várias modalidades e, assim, manter o interesse em alta.

Quando viaja, sempre dá um jeitinho. “Faço caminhada. Se for na praia, melhor ainda. Ou vejo se tem academia no hotel”. Ela não esconde que estar de bem com o corpo já foi um de seus maiores objetivos, mas concluiu que a forma é consequência da saúde. Para pessoas com um perfil tão ativo quanto o de Célia, o médico homeopata com abordagem ortomolecular Ícaro Alves Alcântara deixa um alerta: o chamado overtraining pode ser tão ruim quanto o sedentarismo. “O excesso de exercício agride o organismo e ele inflama, começa a produzir substâncias tóxicas”, explica.

O overtraining, contudo, não é regra. A preguiça ganha disparado. “Hoje em dia, vemos pessoas de 30 anos que não se exercitam e têm menos saúde e parecem mais velhas que pessoas ativas de 60”, aponta o ortopedista Marcelo Ferrer. O endocrinologista João Roberto Loureiro vai além: embora as pessoas estejam vivendo mais, nem sempre vivem com qualidade. “Com a tecnologia de hoje, sabemos que podemos chegar a idades bem avançadas. A diferença é se vamos chegar até lá bem. A atividade física é importante para isso”, resume.

Janine Moraes/CB/D.A Press
Depois de ser desacreditado pelos médicos, Leibntz Alexandre recuperou os movimentos do corpo graças a um intenso trabalho de fisioterapia (foto: Janine Moraes/CB/D.A Press)
Renascido no esporte
Atravessar o Atlântico até a Europa em um cruzeiro pode ser a viagem dos sonhos, mas para Leibnitz Alexandre Mendes Carneiro, 57, engenheiro civil, o passeio com a esposa e os amigos, em abril de 2009, tornou-se um pesadelo. A primeira parada, pela manhã, foi em Malága, na Espanha, cidade em que Picasso nasceu. À noite, eles voltariam ao navio a fim de seguirem viagem até Barcelona. Um simples e aparentemente inofensivo cadarço foi suficiente para derrubá-lo em um restaurante durante o almoço. Na queda, o pescoço foi para trás e o resultado foram dois pontos na boca e uma lesão na medula.

Leibnitz passou um mês em um hospital na Espanha, onde recebia tantas ligações de amigos que se deparou com uma conta de celular exorbitante quando chegou a Brasília para passar mais seis meses no Hospital Sarah Kubitschek. Depois de bastante fisioterapia e de uma cirurgia para aumentar o canal por onde a medula passa, os médicos chegaram à conclusão que ele ficaria mesmo tetraplégico. “Eu não mexia absolutamente nada, quase só via o mundo pela tevê e pela janela”, recorda. Mas ele não se acomodou.

Uma acupunturista percebeu com suas agulhas que Leibnitz ainda tinha certa sensibilidade e transformou a possibilidade remota de ele voltar a andar em uma chance. Não se contentou apenas com as idas ao Sarah — fazia fisioterapia e ginástica em casa também. Até que, em novembro daquele ano, ele voltou a andar. “Quando fui ao Sarah, a equipe nem acreditavam. Meu cuidador ficou com raiva disso e disse: ‘Mostra pra eles, Alexandre’. E eu mostrei”, orgulha-se. Agora, já é capaz de subir a escada que leva a seu quarto, no andar de cima.

Os médicos, então, disseram que, pelos próximos três anos, Leibnitz apresentaria melhoras significativas e que, depois disso, sua situação se estabilizaria. Subestimaram mais uma vez a garra do engenheiro. Este ano, ele começou também a se agachar e se levantar. Apoiando-se aqui ou ali, a tarefa deixou de ser impossível.

Para ele, o exercício físico ajudou tanto na recuperação dos movimentos quanto no aspecto emocional. “Os médicos não tinham certeza de nada. Não sabiam o quão séria era minha lesão. E eu ficava chateado porque, como engenheiro, sei quanto meus prédios aguentam. O médico retrucava que o prédio eu mesmo tinha feito, já o corpo, tinha sido Deus. Então, só fazendo muito exercício eu conheceria meu limite”. Além disso, ele já tinha participado de uma seleção de vôlei, mesmo tendo estatura baixa para o esporte. “Se eu não fosse atleta antes, talvez me entregasse”, admite. De fato, ele viu muita gente desistir e deu muito conselho. “Tinha um jovem cujos pais davam tudo pra ele: computador, videogame. Um dia, vieram me pedir conselho e eu disse que o menino estava simplesmente se conformando com aquilo, em vez de tentar mais”, conta.

Leibnitz não se deixou traumatizar pela viagem em que se acidentou. A vontade de conhecer novos lugares e culturas continuou. Depois do episódio, ele já foi à Alemanha, à França, à Turquia, à África do Sul e à Grécia, onde fez questão de subir o Monte Olimpo até o Pathernon. “O máximo que podia acontecer era me cansar e ter que ficar sentado até minha esposa voltar lá de cima”, brinca. Mas, com as três vezes por semana que vai à academia, onde tem tratamento diferenciado, ele não se cansa tão fácil.

A academia onde malha tem um programa especial para gestantes, idosos e pessoas com restrições fisiológicas (como asma, hipertensão e diabete) ou físicas, como os portadores de necessidades especias. Zeno Petruccelli, um dos personal trainers responsáveis por esses grupos, garante que é mais fácil trabalhar com aqueles que já têm vivência esportiva, pois a memória motora permanece. Ele enfatiza a importância da orientação, principalmente nesses casos. “Sem instrução, pode-se agravar — e muito — o problema.”

Hoje, Leibnitz compara as três vezes por semana que vai à academia a um momento de renovação. Ele tira de letra a rotina de atividades: “É da nossa natureza se movimentar, desde nossos ancestrais. Isso dá adrenalina, disposição e saúde”.