Protetor solar tem que ser no mínimo 30

Sociedade Brasileira de Dermatologia é unânime sobre fotoproteção e promove amanhã, em todo o país, campanha de prevenção contra o câncer da pele

Sara Lira 29/11/2013 10:11
EM/D.A Press
(foto: EM/D.A Press)
 O verão está próximo e nesta época do ano muita gente aproveita as altas temperaturas e o sol para ir à praia ou à piscina e pegar aquele bronzeado. Para esses momentos a aplicação do protetor solar é indispensável e a partir de hoje a recomendação da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) é que seja usado um produto com fator de proteção solar (FPS) de no mínimo 30. O número pode aumentar dependendo da cor da pele, histórico ou não de câncer, tempo de exposição ao sol, entre outras variáveis. A indicação é uma entre várias outras presentes no Consenso Brasileiro de Fotoproteção, documento lançado ontem pela SBD que tem o objetivo de padronizar as recomendações de proteção à exposição solar para médicos, mídia e sociedade em geral. Segundo o coordenador do Departamento de Fotobiologia do órgão e do estudo, Sérgio Schalka, a pesquisa é a primeira realizada no país voltada para a realidade brasileira. “Normalmente quando fazíamos recomendações sobre fotoproteção utilizávamos material do exterior e a realidade de moradores de outros países é diferente da nossa”, diz.

Feita em conjunto com 24 dermatologistas, a pesquisa compilou recomendações, questionamentos e sugestões para futuros estudos, abordando diferentes formas de fotoproteção. Uma parte é direcionada para dermatologistas e a outra para o público leigo. Uma terceira será lançada no ano que vem em uma revista científica. De acordo com Schalka, os documentos ainda mostram que em determinadas épocas do ano a proteção solar varia em diferentes regiões do país devido à intensidade da radiação solar. “No Nordeste, por exemplo, a radiação é mais intensa a partir das 9h, então os cuidados devem começar antes do que normalmente se fala, que é às 10h”, afirma. Outra sugestão de destaque é não se expor obrigatoriamente ao sol para absorver vitamina D. “O sol que tomamos no dia a dia já é essencial para suprir essa vitamina no organismo”, explica.

Seguindo as recomendações adequadas de fotoproteção, é possível diminuir os riscos de ter o câncer da pele. Uma pinta na pele que muda de cor e tamanho merece toda a atenção quando o assunto é esse. A doença surge de maneira silenciosa, normalmente sem dores, mas por meio dessas manchas é possível identificar o problema. O cirurgião oncológico do Hospital Mater Dei e da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Alberto Wainstein, ressalta a importância de o paciente ficar atento a qualquer mancha que esteja mudando ao decorrer do tempo. “O mais importante é o diagnóstico precoce. O paciente tem que se examinar e, se tiver uma pinta que está mudando de cor, de aspecto, crescendo, ele deve ir ao médico. Muitos pacientes não fazem esse autoexame por falta de informação”, diz.

Arte: EM/D.A Press
(foto: Arte: EM/D.A Press)
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o não melanoma, tipo menos agressivo de câncer da pele, é o mais frequente no Brasil, correspondendo a 25% dos tumores malignos registrados no país. O melanoma, menos frequente, mas mais violento no organismo, atinge cerca de 4% das neoplasias malignas da pele. Para conscientizar a população sobre a importância de se proteger do sol de forma mais eficaz, a Sociedade Brasileira de Dermatologia promove amanhã, Dia Nacional de Combate ao Câncer da Pele, ampla campanha em todo o país.

De acordo com o vice-presidente da SBD, Gabriel Gontijo, entre os não melanomas, os mais comuns são o carcinoma basocelular (CBC) e o carcinoma espinocelular (CEC). O primeiro ocorre nas células da camada superior da pele e costuma surgir em regiões mais expostas ao sol como rosto, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. Já o segundo se manifesta nas células escamosas e pode se desenvolver em todas as partes do corpo, sendo mais comuns também nas regiões mais expostas.

O melanoma se manifesta por meio de uma pinta que geralmente muda de cor, formato ou tamanho e pode até sangrar. Nos estágios iniciais ele se desenvolve na camada superficial da pele, mas em níveis mais avançados atinge camadas mais profundas, o que aumenta a chance de metástase (quando as células cancerígenas atingem os órgãos internos), podendo levar à morte.

Gontijo explica que o paciente deve ficar atento à evolução de pintas pelo corpo. Se ela for assimétrica, com borda irregular, apresentar variação de cor e está crescendo, pode ser um indício de melanoma. Se a pinta for simétrica, regular e tiver cor que não varia, pode ser um indicativo de tumor benigno. Segundo o Inca, em 2013 devem surgir 3.170 casos de melanoma no país, além de 62.680 de não melanoma.

Pessoas de pele, olhos e cabelos claros ou que têm histórico familiar da doença; quem tem muitas pintas pelo corpo; pessoa que já teve a doença e albinos fazem parte do grupo de risco. “Quem pertence a esse grupo deve se consultar com um dermatologista pelo menos uma vez por ano”, frisa Gontijo. O diagnóstico é feito por meio de exame clínico e de biópsia. Quanto antes o câncer for descoberto, mais rapidamente ocorrerá a cura. O tratamento varia para cada tipo de lesão, mas normalmente é feito por meio de processos cirúrgicos para a retirada do tumor.

Radiação ultravioleta B é a mais maléfica
A maioria dos cânceres da pele são provocados pela exposição excessiva ao sol, cuja radiação ultravioleta B altera o DNA das células. O coordenador do Programa Nacional de Controle do Câncer da Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Marcus Maia, alerta que a melhor forma de prevenir a doença é atentar para uma exposição solar segura. Segundo ele, essa proteção é um conjunto de ações como evitar se expor ao sol no horário de maior ensolação, entre as 10h e as 16h, usar chapéu e roupas que protejam dos raios e também o protetor solar. Quem vai para praia ou piscina deve retocar o protetor a cada duas horas. “Temos que impedir que o câncer ocorra e educar ss pessoas no sentido de evitar o câncer da pele, pois ele é um problema de saúde pública no Brasil. Prevenir é mais fácil”, destaca.

O professor-adjunto de dermatologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Claudemir Aguilar ainda destaca sobre a importância de seguir as regras de fotoproteção. “A ideia não é dizer que o sol é maléfico para a saúde, porque ele traz benefícios, como a sintetização da vitamina D, muito importante para nosso organismo. Mas a exposição solar deve ser feita com inteligência, seguindo todas as recomendações de proteção”, afirma.

Testes gratuitos
Neste sábado, entre as 9h e as 15h, dermatologistas associados à Sociedade Brasileira de Dermatologia vão realizar em todo o país um mutirão para fazer exames em pessoas com suspeita de câncer da pele e distribuir orientações para a sociedade em geral sobre prevenção. Em Belo Horizonte, o evento vai ocorrer na Clínica Dermatológica da Santa Casa (Rua Domingos Vieira, 416, Santa Efigênia) e no serviço de dermatologia do Hospital das Clínicas da UFMG (Alameda Álvaro Celso, 55, Santa Efigênia). Em todo o estado as mesmas ações ocorrerão nos municípios de Alfenas, Barbacena, Ituiutaba, Juiz de Fora, Pedro Leopoldo e Uberlândia. Segundo o vice-presidente da SBD, Gabriel Gontijo, o objetivo é detectar precocemente a doença. “Vamos ensinar, mostrar figuras sobre o câncer da pele e mostrar para a população como ela deve se comportar para prevenir”, pontua.

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Audrei Costa, de 40 anos, comerciante


Mancha na planta do pé
O melanoma não necessariamente surge em áreas expostas do corpo, mas também nas mais escondidas, como palma da mão ou planta do pé. E foi por meio de uma mancha no pé que a comerciante Audrei Costa descobriu um melanoma há três anos. Quando a mancha apareceu, ela não suspeitava que pudesse ser um câncer e começou a tratar como se fosse uma calosidade, e depois como verruga, já que o sinal só crescia. Audrei chegou a ir a uma podóloga. Como fazia acompanhamento com dermatologista devido a manchas no rosto que surgiram depois da gravidez, em uma das consultas questionou o médico a respeito da mancha. “Lembro que quando ele viu constatou que poderia ser melanoma”, conta. Em quase três anos de tratamento, a doença avançou para o pulmão e para o cérebro. Recentemente, a comerciante fez uma quimioterapia biológica que ativa o sistema imunológico para reconhecer e destruir o tumor. As sessões terminaram este mês e agora ela vai aguardar para realizar outro exame para avaliar como está a doença. Confiante no resultado negativo para melanoma, Audrei alerta as pessoas que se atentem para qualquer sinal que surja no corpo. “Estou na expectativa de que estarei curada. Mas diria para todos ficarem atentos às pintas no corpo. Sempre associei o câncer da pele às áreas nas quais se toma mais sol e nunca à planta do pé. Então, qualquer mancha suspeita tem que ser observada por um dermatologista”, afirma.