Livro conta história de jovem que usou as perucas para superar o câncer aos 21 anos

Holandesa Sophie van der Stap escreveu 'A garota das nove perucas' após ser diagnosticada com câncer de pulmão, quando tinha apenas 21 anos. O relato em forma de diário descreve de uma forma leve, entremeada de humor e lições de superação, o trajeto do tratamento

25/11/2013 09:00

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Daisy, Pam, Uma, Sue, Blondie, Platina, Stella, Bebé e Lydia. Nove mulheres com uma semelhança. Juntas, elas dão vida e força à personagem original que as criou, a holandesa Sophie van der Stap, de 30 anos, autora do livro A garota das nove perucas. Diagnosticada com câncer de pulmão no início de 2005, quando tinha apenas 21 anos, Sophie encontra nas perucas – antes consideradas ridículas por ela – grandes aliadas na superação da doença. O relato em forma de diário descreve de uma forma leve, entremeada de humor e lições de superação, o trajeto do tratamento realizado entre 2005 e 2006.

 

Conheça todas as personagens do livro de Sophie

 

Divulgacao/ Editora Virgiliae
"É mais sobre a luta do que sobre a enfermidade", resume Sophie em entrevista (foto: Divulgacao/ Editora Virgiliae )
“É mais sobre a luta do que sobre a enfermidade”, resume Sophie em entrevista ao Estado de Minas. A escritora não se atém à letalidade da doença, da qual apenas 13% a 21% das pessoas sobrevivem em países desenvolvidos e entre 7% e 10% nos países em desenvolvimento, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCa). Concentra suas histórias e peripécias na admiração que desenvolve pelo médico que a atende, nos passeios com os amigos, na possibilidade de novos romances, na relação com a família e na descoberta de diferentes personalidades que surgem à medida em que troca a cor e o comprimento dos cabelos que substituem os fios naturais já perdidos ao longo da quimioterapia.

“Minha história é muito mais sobre o amadurecimento do amor e da vida, sobre a transformação em mulher e a descoberta da sexualidade. É um relato muito humano em que o câncer se torna secundário, mais uma batalha que eu estava travando”, afirma. Batalha que foi vencida com a ajuda da sonhadora Daisy, da audaciosa Sue, da insegura e amedrontada Stella, da sensual Uma, da introvertida Blondie, da aventureira Platina e outras três personalidades que expressam todas as faces de uma mesma Sophie. “Por trás de cada qual se oculta um pouquinho da Sophie”, descreve em trecho do livro.

Cada uma delas tem um comportamento próprio e permite Sophie encarar a vida com diferentes olhares. “Ter a Daisy posta na cabeça muda tudo. Cachos compridos. Meus sapatos italianos de salto de repente se transformam em botas pesadas de uma prostituta, meu jeans justinho se transforma em uma legging, e meu decote inocente numa grande atração”, conta no best-seller. Hoje Sophie está curada, não sendo necessário mais tratamento, apenas exames periódicos. Sua história virou filme dirigido por Marc Rothemund. O longa está sendo exibido durante a programação da mostra Panorama Alemão, que passa pelas cidades de Brasília, Fortaleza e Porto Alegre até quinta-feira.

Quatro perguntas para...Sophie Van der Stap - Autora do livro A garota das nove perucas

Mesmo diante da gravidade da doença, você mantém o humor e uma certa leveza no relato dos acontecimentos. Acha que essa postura ajudou a enfrentar o tratamento?
Acho que sim. O engraçado é que durante o tratamento da doença nunca pensei em uma estratégia. Apenas reagi e vivi uma hora após a outra. Mas claro que precisamos de uma estratégia para enfrentar o inimigo, neste caso, minha doença. Olhando para trás, acredito que encontrei – inconscientemente – na leveza das coisas. Procurava essa leveza em todos os lugares: no sorriso das enfermeiras do hospital, nos meus amigos, e mesmo na morte. Precisava dar humor a tudo. Foi a minha maneira de lidar com a gravidade de ter 21 anos e talvez estar morrendo.

Quando percebeu que várias versões da Sophie teriam mais força para encarar o tratamento que apenas uma?
Eu me diverti sendo todas essas garotas, vivendo todas essas vidas. Essas personagens surgiram da doença. Transformaram algo ruim em algo bom. E sim, elas se tornaram minhas parceiras. Fizeram com que eu me sentisse mais forte, enquanto a doença me tornava mais fraca. Acho que elas me ensinaram tudo que precisava saber sobre manter as aparências. Isso pode nos ajudar a encontrar a distância necessária para entender a realidade. Mas não devemos nos perder nisso. É como um feriado, mas você sempre precisa voltar para a realidade. O que é bom, desde que você possa tirar uma folga.

Por que resolveu colocar no papel suas sensações e rotina de tratamento? Acha que isso funcionou como uma forma de catarse?
Isso nunca foi uma decisão, apenas fiz. Escrevendo por horas, fui capaz de criar meu próprio mundo dentro de outro que eu não conseguia aceitar ou aguentar. Às vezes é muito difícil lidar com a realidade. Precisava escapar e fui capaz de fazer isso por meio das minhas anotações e perucas.

Acredita que pessoas que estão em situação parecida também devem buscar uma alternativa para encarar o processo da forma menos dolorosa possível?
Acredito que todos precisamos de uma forma de escape, ser capazes de sair e respirar. Não conseguimos lidar com a realidade o tempo todo. Seja uma bebida no bar com os amigos, lendo um livro, ou criando um mundo particular com suas próprias palavras, pintura, perucas ou qualquer outra ferramenta. Não importa. Precisamos encontrar um lugar onde ficamos bem e estamos no controle. Onde podemos dizer: “Agora é minha vez”. Mesmo que seja apenas por cinco minutos no dia. O câncer tomou conta do meu mundo, mas com a ajuda da minha imaginação fui capaz de aproveitar uma parte dele em que a doença não existia.