Chip identifica câncer com precisão

Dispositivo criado por cientistas dos Estados Unidos detecta, por meio da análise de um líquido extraído dos pulmões, a presença de tumores malignos. Especialistas ressaltam que a tecnologia não funciona na etapa inicial da doença

por Vilhena Soares 22/11/2013 11:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Rapidez e aperfeiçoamento. Esses foram os objetivos que levaram pesquisadores da Universidade da Califórnia (UCLA), em parceria com a Universidade de Harvard, a desenvolverem uma tecnologia que otimizasse um exame cada vez mais frequente nos consultórios médicos: o de diagnóstico de cânceres. A análise do líquido pleural (fluido extraído do pulmão) é uma estratégia comum nas abordagens oncológicas. Mas ela é feita por um citologista e, quase sempre, precisa ser repetida para a confirmação do resultado. Os cientistas americanos criaram um chip que pode tornar esse processo mais “matemático.”

“A vantagem desse chip é que ele não precisa das etapas habituais para se chegar ao diagnóstico do câncer. Normalmente, a identificação do tumor precisa ‘manchar’ as células (com produtos químicos ou anticorpos ) durante o exame microscópico feito por citologistas treinados. Com esse chip, reduzimos esse trabalho”, explica Ianyu Rao, professor do Departamento de Patologia e Epidemiologia da Universidade da Califórnia. O novo dispositivo, detalhado hoje na revista, Science Translational Medicine, também encontra células cancerígenas que são dificilmente detectados no exame tradicional.

Anderson Araújo / CB/ DA Press
Clique para ampliar e entender como o chip funciona (foto: Anderson Araújo / CB/ DA Press)
O novo dispositivo eletrônico utiliza uma tecnologia que vem sendo bastante explorada em exames oncológicos, a deformability cytometry, que garante uma análise detalhada das células. O chip possui pequenos canais transparentes que deixam as células do câncer, difíceis de serem identificadas, mais evidentes. Uma câmera de alta velocidade também auxilia nesse processo (veja infográfico). “O diagnóstico pode ser utilizado para todos os tipos de câncer. Só precisamos usar o líquido. Nenhum órgão e nenhuma amostra de tecido são necessários”, frisa Rao.

A análise do líquido pleural faz parte de uma série de exames utilizados para detectar o câncer. Fazem parte também do procedimento a biópsia, que retira cirurgicamente o tecido a ser analisado, a endoscopia, a radiografia , o ultrassom, exames de sangue, entre outros.

Distinções
Glauber Moreira Leitão, professor do curso de oncologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explica que o acúmulo de líquido no pulmão é uma complicação decorrente de doenças infecciosas ou inflamatórias, como a cirrose e a pneumonia, e também quando existe câncer. Nesse último caso, para determinar se o paciente tem um tumor maligno, a análise se torna mais cara e mais trabalhosa. “ Fazer com que esse exame fique mais prático e com resultados mais exatos é algo que pode ajudar a diagnosticar uma doença maligna e a distinguir se o derrame pleural é gerado por um câncer ou por problemas de outra natureza”, destaca.

Evyo Abreu de Lima, chefe do Serviço de Oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também acredita que a nova tecnologia poderá ser muito útil na área oncológica, mas lamenta o fato de ela não ajudar no diagnóstico de cânceres em fase inicial. “No estágio do derrame pleural em que é feito o exame, o câncer já está evoluído, mas, ainda assim, o chip pode auxiliar em termos de velocidade no resultado, de exatidão e também de economia”, declara. “Acredito que dispositivos como esse podem evoluir mais ainda e, daqui a alguns anos, trazerem diagnósticos mais precisos e, quem sabe, até mais específicos, mostrando, por exemplo, onde estão as células doentes.”

Rao também aposta na aplicação clínica do dispositivo criado por ele e por sua equipe. O pesquisador, porém, ressalta que outros testes precisam ser feitos para avaliar e garantir ainda mais eficácia ao dispositivo. “Nós vamos precisar validar os métodos com ajuste para fazer com que a exatidão seja melhor ainda do que a que já conseguimos”, complementa.