MMA para crianças divide opiniões, mas conquista adeptos no Brasil

Em alguns países, meninos tornam-se lutadores em miniatura e participam de competições em moldes muito semelhantes aos combates dos adultos. No Brasil, a prática entre os mais jovens ainda não tem fins competitivos e aparece de forma lúdica. Saiba qual é a opinião de praticantes, pais, médicos e professores brasileiros de artes marciais

por Letícia Orlandi 20/11/2013 09:30

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.

O Saúde Plena já trouxe uma matéria sobre atos extremos de lutadores de Mixed Martial Arts (MMA) que poderiam oferecer riscos à saúde. Agora, o debate sobre os riscos que envolvem o MMA evoluiu para a prática do esporte por crianças. Em alguns países, meninos de 5 e 6 anos já disputam lutas 'profissionalmente', em mini-octógonos ou gaiolas. Nas últimas semanas, o trabalho do fotógrafo Sebastián Montalvo Gray (veja galeria abaixo), que percorreu os Estados Unidos e desvendou esse mundo do chamado Baby MMA, alimentou a discussão.

 

Mas será que essas imagens configuram uma exceção? A prática de MMA pode ser saudável entre as crianças? Se elas são matriculadas em outras artes marciais e atividade físicas, muitas vezes a partir dos 3 anos de idade, qual seria o problema? Fomos até uma das poucas academias brasileiras que oferecem aulas de introdução às artes marciais para menores de 6 anos e introdução ao MMA para alunos entre 6 e 12 anos. Buscamos também a opinião de especialistas para avaliar a competição que é considerada a versão masculina dos concursos de pequenas misses. Você confere tudo agora, nesta reportagem dividida em quatro partes:

 

MMA para crianças: academia pioneira

MMA para crianças: opinião de médicos pediatras

MMA para crianças: opinião da Federação Mineira de Judô

 

Sebastián Montalvo Gray / sebastianmontalvog.com
Fotógrafo peruano percorreu os Estados Unidos para mostrar o mundo das lutas competitivas de MMA entre crianças. Tratados como profissionais, com apelidos ameaçadores, músculos e pesagem, os meninos não escondem as lágrimas diante da derrota (foto: Sebastián Montalvo Gray / sebastianmontalvog.com)
O MMA infantil reúne cerca de 3 milhões de participantes nos Estados Unidos. Assim como a modalidade profissional, cujas disputas são televisionadas em todo o mundo por meio do Ultimate Fighting Championship (UFC), este é um dos esportes que mais crescem no país. O trabalho de Montalvo, fotógrafo peruano residente em Nova York, recebeu o nome de 'Cage Rage' (em tradução livre: 'Fúria da Grade') e mostra meninos lutando em ringues especialmente montados para eles.

Veja a galeria de fotos que mostra as disputas de MMA entre crianças norte-americanas e russas


Veja fotos das aulas infantis de MMA no Brasil


Montalvo afirma que o projeto explora as fronteiras da violência infanto-juvenil na sociedade americana após o recente massacre de New Town – em que um jovem de 20 anos entrou atirando em uma escola e matou 26 pessoas, sendo 20 crianças.

Nas fotos, é possível observar que as lutas acontecem sem proteção. As crianças aplicam chutes e técnicas de estrangulamento, acompanhadas de perto por um público empolgado. Os apelidos desses pequenos lutadores variam entre “Viúva Negra”, “Fera” e “Coletor de braços”. É comum que o derrotado caia no choro. Em entrevista à TV americana, o fotógrafo contou que assistiu ao árbitro de uma luta perguntar a um dos pequenos lutadores se ele estava bem e queria continuar. Diante da hesitação da criança, o pai começou a gritar palavras de incentivo para que ele permanecesse no ringue. Outro detalhe: depois de cada combate, as crianças devem se cumprimentar. Quem se recusa, é obrigado pelos pais e juízes.

Montalvo completou que sua impressão sobre o cenário era simples e direta: o espírito ultra-competitivo vem, principalmente, dos pais. “Eles amam seus filhos com todo coração e querem vê-los vencedores sempre. Mas veem a prática também como defesa contra valentões e como futura oportunidade de ganhar milhões. Estima-se que a indústria do UFC movimente 1 bilhão de dólares”, contou o artista.

Sebastián Montalvo Gray / sebastianmontalvog.com
A luta competitiva de MMA entre crianças é condenada por especialistas e atletas do esporte (foto: Sebastián Montalvo Gray / sebastianmontalvog.com)
Embora alguns ex-atletas e professores norte-americanos garantam que as aulas não seguem os padrões das disputas profissionais e são apenas mais uma forma de brincadeira e atividade física; basta fazer uma busca rápida no YouTube para achar vídeos de crianças de 6,7 anos se degladiando sem proteção na cabeça, braços e pernas. Apenas o protetor bucal pode ser observado.

Além do projeto fotográfico, dois vídeos mostram competições de MMA entre crianças. O primeiro é uma reportagem da TV norte-americana sobre o crescimento do esporte, mesmo após ser banido no estado da Califórnia. O repórter conta a história de Regina Awana, uma pequena lutadora apresentada como a Viúva Negra. Segundo o treinador Chris Manzo, ela é uma “linda e pequenina garota que vai arrancar seu braço e levá-lo para casa” e “o que esses meninos (incluindo o próprio filho) fazem dentro do ringue, muitos adultos não têm coragem”.

O segundo mostra a luta de Minas Avagyan, de 6 anos, e Hayk Tashchyan, de 7, no octógono montado pela Armenian Fighting Championship (ArmFC), da Armênia. Este último provocou revolta entre médicos, organizações não governamentais e também entre atletas de MMA, pela falta de proteção e ‘endeusamento’ dos meninos. Minas vence a luta e comemora simulando o ‘enterro’ do adversário. O próprio presidente do UFC, Dana White, criticou a luta. "Nojento para c...! Os pais deles deviam apanhar com uma vara!!!", escreveu White em um fórum especializado, argumentando que esse tipo de coisa denigre a imagem do esporte que luta para vencer preconceitos.