Cuidado na hora de comprar azeite: você pode estar sendo enganado

Pesquisa da Proteste descobriu quatro marcas de azeite que comercializam produto impróprio para consumo humano. Ministério da Agricultura admite que não há fiscalização

por Gabriella Pacheco 13/11/2013 09:00

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Carlos Moura/CB/D.A Press
O Ministério da Agricultura, órgão responsável pela averiguação da qualidade dos produtos, admite que os azeites produzidos ou que entram no Brasil não são fiscalizados. A justificativa é a ausência de laboratórios especializados (foto: Carlos Moura/CB/D.A Press)
Seja para temperar uma salada, fazer um molho ou qualquer outra receita que necessite de algum tipo de óleo cru, o azeite é o ingrediente recomendado pelos nutricionistas. Além de seus benefícios para a saúde, ele também realça o sabor dos pratos que compõe. Seu aroma e textura fazem dele uma delícia para o paladar. Já para a saúde dá para fazer uma lista com os benefícios trazidos por seu consumo. Os azeites podem ser bons para o coração, para a pele, reduzem o colesterol, são anti-inflamatórios e, de acordo com estudos do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa, também podem ajudar a prevenir o câncer de intestino. Mas isso quando o produto oferecido nas prateleiras de supermercados for realmente azeite.

Uma pesquisa feita pela Proteste Associação de Consumidores mostrou que a composição de alguns produtos que levam o nome de azeite no rótulo é tão alterada que, na prática, nem poderiam ser enquadrados nessa categoria. Mais preocupante ainda é o fato de que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não mantém fiscalização dos produtos comercializados no país.

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Os azeites podem ser bons para o coração, para a pele, reduzem o colesterol, são anti-inflamatórios e também podem ajudar a prevenir o câncer de intestino (foto: sxc.hu)
A associação testou 19 marcas de azeites extravirgens e descobriu que quatro delas oferecem produtos que nãpo podem ser destinados ao consumo humano (veja aqui as marcas que não passaram no teste de qualidade). De acordo com a entidade, que testou a qualidade das amostras quanto ao aroma, à textura e ao sabor, os produtos nem deveriam estar na prateleira de azeites.

Teoricamente, todo produto que entra ou é produzido no Brasil deveria ter sua qualidade atestada. Ao menos é isso o que estabelece uma Instrução Normativa do Mapa que entrou em vigência em 2012. Em nota, o Ministério informou ao Saúde Plena que “vem se empenhando em ações que visam à implementação do referido Regulamento Técnico, capacitando classificadores, equipando e credenciando laboratórios para a realização das análises de Azeite de Oliva”. No entanto, os laboratórios necessários para as averiguações ainda não estão prontos.

Devido a esse atraso, é possível que as divergências apontadas pela pesquisa do Proteste permaneçam irremediadas por tempo indeterminado. Por meio de sua assessoria de imprensa, o Mapa informou que o departamento responsável pela fiscalização nem sequer decidiu qual providência tomar diante da denúncia.

A assessora técnica do Conselho Regional de Nutricionistas de Minas Gerais Beatriz Carvalho, alerta que o azeite lampante, nome usado pela Proteste para classificar os produtos oferecidos por essas marcas reprovadas, também é um produto da oliveira, contudo não é destinado para consumo humano. “Tanto é que a Anvisa só regulamenta o azeite virgem e o extravirgem. Chamar esse tipo de produto de azeite é fraude e a rotulagem incorreta deve ser punida. Esse resultado é importante para o consumidor e também preocupante”, afirma.

Outras sete marcas, algumas delas muito conceituadas no mercado nacional, foram rebaixadas de extravirgem para virgem. Beatriz explica que a classificação muda segundo o nível de acidez do produto. Quanto menor o índice de acidez, mais benéfico ele será para a saúde de quem o consumir.

Segundo a classificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) azeites extravirgens devem ter acidez de, no máximo, 0.8, enquanto que a acidez dos virgens pode alcançar 2. Quanto menor esse número, maior será a concentração de ácidos graxos.

“Não é que a pessoa vá desenvolver uma doença caso consuma um azeite fraudado, mas esse consumo é sim um risco na medida que não vai trazer o benefício esperado. Por exemplo, se você estiver em uma dieta para diminuir seu colesterol e conta com o azeite para ajudar nisso, a dieta não vai dar certo”, pontua a nutricionista.

Uma das principais diferenças do azeite para outros óleos é que sua proporção de ácidos graxos insaturados é maior. Esses componentes ajudam a diminuir o colesterol LDL, considerado 'ruim', assim como a elevar os níveis de colesterol HDL, chamado de 'bom'. Outra vantagem é que ele não acumula placas de gordura nos vasos sanguíneos como fazem outros óleos e suas características anti-oxidantes combatem os radicais-livres, prevenindo o envelhecimento.

Vale destacar que o azeite perde suas vantagens para outros tipos de óleo quando o uso for para frituras. “O óleo de cozinha tradicional pode ser submetido a temperaturas altas sem queimar, já o azeite perde suas características mais rápido, então seu uso é aconselhado somente para o consumo cru”, comenta Beatriz.