Células-tronco podem agilizar processo de cicatrização

A descoberta pode reduzir o tempo de hospitalização dos pacientes e também evitar que feridas dolorosas se abram novamente, além de ser utilizada em cirurgias plásticas

por Marinella Castro 25/10/2013 14:00

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Uma espécie de costura cicatrizante, que pode tratar feridas de forma mais rápida e eficaz, foi patenteada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para demonstrar a eficácia da técnica, os especialistas introduziram no intestino de ratos um fio cirúrgico colado com células-tronco. Na primeira etapa da pesquisa, feridas que demorariam até 10 semanas para fecharem, cicatrizaram em três dias. A descoberta pode reduzir o tempo de hospitalização dos pacientes e também evitar que feridas dolorosas se abram novamente, além de ser utilizada em cirurgias plásticas.

Na prática, os animais receberam pontos (sutura) ao redor do local da lesão. O resultado surpreendeu. A regeneração do tecido foi bem mais rápida que a obtida com recursos convencionais e, em alguns casos, não deixou marcas. O método também se mostrou mais eficaz do que um processo semelhante testado por pesquisadores espanhóis. “Em três dias, os fios com células-tronco provocaram uma regeneração das feridas da ordem de 70%. Em 21 dias, as feridas haviam reduzido em 90% ou fechado totalmente”, diz Ângela Cristina Luzo, professora de pós-graduação em ciências da cirurgia na Faculdade de Medicina da Unicamp, que orientou o aluno Bruno Bosch Volpe no estudo, resultado de seu mestrado.

O fio de sutura usado é enriquecido com células mesenquimais. “São células-tronco adultas, encontradas em todos os tecidos do organismo humano, sendo suas principais fontes a medula óssea, o sangue do cordão umbilical e o tecido adiposo”, explica Volpe. De acordo com ele, a adoção do material na terapia celular vem crescendo muito, uma vez que essas células apresentam um cultivo fácil, além de ter crescimento rápido. “Também não enfrentam os problemas éticos que encontramos nas células-tronco embrionárias”, ressalta. O pesquisador conta que o grande desafio foi modificar a concentração dos reagentes da cola de fibrina usada para aderir e prender as células no fio cirúrgico. Foram testadas várias concentrações, até que se chegasse a um resultado ideal. “Com a mudança da concentração, conseguimos que um grande número de células ficasse preso ao fio e, assim, fosse transferido para o local da lesão”, comemora.

De acordo com Ângela Luzo, as células-tronco podem ser obtidas do próprio organismo do paciente em um processo simples, como a lipoaspiração. O próximo passo do estudo será desenvolvido no trabalho de doutorado de Volpe, quando será avaliado o processo de liberação de substâncias pela célula que melhoram a vascularização dos tecidos.

Nessa etapa futura, serão feitos testes com humanos, passo fundamental para que o método seja utilizado no mercado. “Assim que tivermos a liberação do comitê de ética, iniciaremos os testes”, conta o especialista. Como nas feridas intestinais (fístulas) estudadas já houve a aplicação de células-tronco na Espanha, a expectativa é de que a liberação do teste em humanos seja mais rápida.

O que se espera é que, quando estiver acessível, a nova tecnologia permita um tratamento para feridas mais simples e menos doloroso, reduzindo o tempo de recuperação dos pacientes e melhorando a qualidade de vida. Estima-se que, em média, 2% dos pacientes submetidos a cirurgias no intestino desenvolvam fístulas que podem ser tratadas com o método, mas esse número pode chegar a 20% no caso de pacientes de risco, que fazem uso de medicamentos imunossupressores, estão debilitados pelo câncer ou são portadores de doenças específicas.

Costura mágica
Veja como funcionará a técnica quando puder ser aplicada em humanos:

1. Os pesquisadores extraem células-tronco mesenquimais de tecido adiposo. Elas são encontradas em todos os tecidos do organismo humano, sendo as principais fontes a medula óssea, o sangue do cordão umbilical e o tecido adiposo

2. Um fio cirúrgico funciona como carreador das células-tronco

3. Em uma concentração ideal para permitir o transporte de muitas células, cola de fibrina reveste o fio

4. As células-tronco aderem ao fio e, depois da sutura ou dos pontos, são transferidas para a ferida

5. A ferida se fecha mais rapidamente pelo método da sutura com células mesenquimais

Fonte: Bruno Volpe