Dominar o medo é sinal de amadurecimento

Não importa o motivo para superar o medo, interessa ter confiança diante do desafio

por Lilian Monteiro 20/10/2013 09:10

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Dominar o medo é sinal de amadurecimento. É a possibilidade de crescimento pessoal que tem ligação intrínseca com a autoconfiança. A fé em si mesma. Vocalista e guitarrista da banda Sgt. Pepper’s, Victor Mendes conta que a música e os Beatles sempre fizeram parte da sua vida. Autodidata, começou com o violão, encontrou a afinação com autocrítica e aprendeu a soltar a voz. Há 13 anos se tornou músico profissional e, desde então, lida com o temor de subir ao palco. A sensação não o impede de curtir uma de suas maiores paixões, mas também não o abandona. A tensão é presente a cada apresentação, desde a época da Memories, sua primeira banda de clássicos da década de 1970/1980, como America e Paul Simon. “Tudo que é desconhecido gera medo e ansiedade. Portanto, interfere no comportamento. No entanto, encaro o medo de forma natural e o acho necessário para manter o foco, o empenho, a seriedade e, acima de tudo, o respeito ao público.”


Arquivo Pessoal
Silmara Felipe voltou às aulas de direção depois de ficar oito anos sem praticar, mesmo tendo carteira de habilitação. Com acompanhamento psicológico, ela agora dirige normalmente (foto: Arquivo Pessoal)
 Victor Mendes revela que o temor de subir ao palco e encarar a plateia dura, no máximo, até a segunda música. Depois só curte. Para tudo dar certo, ele tem ritual e põe em prática técnicas de relaxamento. Evita dormir antes dos shows e se concentra no aquecimento da voz. “É o que me faz ficar mais seguro, certo de que a voz vai funcionar. Além, claro, de ensaiar bem. Não gosto de dormir para ficar mais ligado, já que o sono relaxa demais, de forma profunda. Preciso estar ‘vivo’ no palco.” Acostumado a lidar com o medo, o músico revela a receita que o faz ter muitos fãs. “A repetição é fundamental, o faz sentir capaz, que é o primeiro passo. Depois, ter coragem para encarar o palco e dominá-lo depois da primeira, segunda canção, que é quando me situo e consigo fazer o show com segurança.”

Por outro lado, Victor enfatiza que é importante manter o frio na barriga. “Acredito que a ansiedade e o medo são próprios de pessoas responsáveis. Podem ser aliados. Tenho o privilégio de fazer o que gosto, cantar minha paixão pelos Beatles, e isso me leva para frente. Somado ao dom, tudo é mais fácil. Mas não abro mão da persistência.”

Zé Takahashi/Agência Fotosite
Larissa Corrêa é modelo há seis anos e até hoje confessa que fica tensa ao subir na passarela, mas diz que a escolha da profissão foi perfeita (foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite)
TOP MODEL
Aos 23 anos, com 1,80m de altura, 84cm de busto, 61cm de cintura e 88cm de quadril, as medidas da modelo mineira Larissa Corrêa garantem seu sucesso no mundo fashion há seis anos. Contratada da agência Mega Model Brasil, de São Paulo, o sonho de top model sempre a acompanhou, assim como o pavor das passarelas. Incompatíveis? Pelo contrário. Desafio que ela encara diariamente sem borrar a maquiagem. “A tensão é enorme. Sempre tive medo de cair, de o salto quebrar. Fico assustada. A mão fica suada.” Ao mesmo tempo, Larissa tem certeza de que nasceu para ser modelo. “Ao pisar na passarela, com todos me olhando, sendo o centro das atenções, as luzes, tudo muda e me sinto única. É como se ela fosse só minha. Sinto-me flutuando”, diz.

Estudante de psicologia, ela revela que a insegurança veio desde o início, ainda nas aulas de passarela. “Em desfile, é pior. Mesmo depois de seis anos ainda sinto medo. Mas procuro manter a calma e não deixo transparecer. No backstage converso para me distrair e, na hora da fila de entrada, me aquieto, busco a concentração. Assim, vivo meu sonho. É do que gosto de verdade e por isso o enfrento. E não tem satisfação maior do que vencê-lo.”

VOLANTE
Há oito anos ela tirou carteira de motorista e, mesmo com carro na garagem, nunca mais assumiu a direção. Cansada de encarar ônibus, pela necessidade de trabalhar, o desejo de conquistar a liberdade de ir e vir e elevar a autoestima, a pedagoga Silmara Roberta Felipe procurou a escola Dirigindo Bem para voltar a dirigir com segurança e prazer. “Tinha muito medo. Pensava na falta de prática, com receio de ocorrer um acidente, prejudicar alguém. Ele me travava. Na escola, tive acompanhamento psicológico e depois de dois meses recuperei a confiança. Antes me sentia incapaz, mas com força de vontade e sabendo que não era um problema só meu, superei.”

Marcos Michelin/EM/D.A Press
Victor Mendes, músico, revela que o temor de subir ao palco e encarar a plateia dura, no máximo, até a segunda música (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Feliz com a conquista, Silmara conta que agora vai para todo lugar de carro e já encarou até estrada de terra. Engarrafamento, então, é todo dia. E teve ainda a chuva. “A satisfação é enorme, mais ainda por saber do orgulho dos meus pais. Às vezes, ocorre uma situação no trânsito que me deixa em pânico, mas controlo a ansiedade e sigo em frente. Não vou ter uma recaída. Aliás, o lado bom do medo é que a pessoa fica mais cuidadosa, atenta e não passa do limite. Medo não é ruim. O excesso prejudica. Agora, me preparo para encarar a BR-381 para visitar meus pais.”

VOAR
A psicóloga Thailine Moreira Silva nunca teve perfil esportista e radical. Era daquelas que fugiam das aulas de educação física na escola. De altura, então, queria distância. No entanto, ao acompanhar uma amiga num voo duplo de parapente ficou instigada a experimentar. Ao ver a rampa de decolagem, íngreme, teve certeza de que “iria amarelar, não teria coragem”. Mas a chance de poder voar foi maior que o medo. “Fiz o voo duplo e amei. Tanto que decidi fazer o curso para tirar minha carteira. Se fiquei ansiosa e com medo do voo duplo, imagine voar sozinha? Encarei. Difícil explicar a sensação. Sempre pensei que era impossível voar. É incrível.”

Para ela, o medo faz parte e é impossível não temer. “No voo, ao mesmo tempo, sinto medo e prazer. Apesar dos cuidados, da segurança dos equipamentos, sabendo dos limites, até onde posso ir e o que tenho a aprender, também sei dos riscos.” Ela conta que, ao passar por situações apertadas, como um pouso malfeito, com impacto, o medo aflora. “O importante é vencê-lo. Aliás, ele é necessário para sermos cautelosos. E a maior recompensa é superá-lo.”