Sentir frio ou calor em excesso não indica patologia específica

Há sensores na pele que são responsáveis por registrar a temperatura e determinar nossa sensação de frio ou calor e isso é individual

por Elian Guimarães 16/10/2013 10:12

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EM/D.A Press
"Muita gente acha que a gordura pode ajudar, mas não é verdade. Alguém mais gordo só pode aguentar um ou dois graus a menos do que um indivíduo magro. Para quem sente frio com muita facilidade, comer não é a solução, mas sim movimentar-se" - Joachim Latsch, especialista em medicina esportiva da Faculdade de Esportes de Colônia, na Alemanha (foto: EM/D.A Press)
Sentir frio em excesso ou calor em demasia pode não indicar uma patologia específica, principalmente porque cada ser humano reage de forma própria às mudanças do tempo. Em uma semana, Belo Horizonte teve temperaturas que foram quase a 13 graus e no início da semana voltou à casa de 25 graus. No caso de sentir muito frio cada um tem a experiência de um jeito diferente, atesta o especialista em medicina esportiva da Faculdade de Esportes de Colônia, na Alemanha, Joachim Latsch. “Há sensores na pele que são responsáveis por registrar a temperatura e determinar nossa sensação de frio ou calor”, diz.

Não se trata de uma patologia específica, explica Breno Figueiredo, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. As pessoas que vivem em países frios estão mais acostumadas a tolerar as baixas temperaturas, e vice-versa. Um frio excessivo, adverte Figueiredo, pode significar febre, que precisa ser confirmada com termômetro e o médico deve ser consultado para que se defina o diagnóstico. No caso de excesso de calor, as pessoas devem usar roupas leves, procurar ambientes mais frescos e se hidratar bem.

Segundo Figueiredo, algumas pessoas, mesmo sem sentir calor demais, apresentam um quadro excessivo de suor – a hiperidrose –, que pode estar associado a momentos de ansiedade e alta carga de estresse: "Em alguns casos, apenas o tratamento cirúrgico (simpatectomia) pode surtir efeito, porém, um médico precisa ser consultado", ensina.

Independentemente de habitar regiões muito frias ou muito quentes, a temperatura corpórea média é praticamente igual para todos: em torno de 36,5 0C. Caso ela ultrapasse 42 0C, o indivíduo corre risco de morrer, o que também pode acontecer se a temperatura corpórea estiver abaixo de 30 0C. Nesses casos, órgãos vitais como o coração e o cérebro passam a funcionar com dificuldade, levando a desmaios e até a morte por hipotermia. É um sintoma de alerta emitido pelo corpo.

Em entrevista à agência alemã Deutsch Weller, Joachjim Latsch disse que mulheres sentem mais frio que os homens: “Para as mulheres, a temperatura corpórea é particularmente importante. No frio, o corpo feminino precisa manter os órgãos internos aquecidos para ser capaz de proteger um feto de baixas temperaturas. A massa muscular também é determinante. Nas mulheres, ela compõe 25% do corpo, e nos homens, 45%. Quanto mais músculos, menos frio se sente.”

Especialista em climatério – a fase da vida em que ocorre a transição do período reprodutivo ou fértil para o não reprodutivo, devido à diminuição dos hormônios sexuais produzidos pelos ovários –, a presidente do Comitê de Climatério da Associação de Médicos e Ginecologistas de Minas Gerais, Ana Lúcia Valadares, ressalta que para a mulher em período pré-menopausa o ambiente pode influenciar causando maior desconforto: "Se a pessoa está num ambiente mais quente pode sentir mais calor. Na verdade, no climatério a mulher tem uma sensação de calor mais intensa, o rosto fica vermelho e logo depois vem a sensação de frio." Existem várias teorias a respeito disso. A mais aceita é de que a baixa produção do estrogênio (principal hormônio feminino) nessa fase da vida. Mas há outras causas que levam a alteração de calor como distúrbios da tireoide. A questão térmica, explica a médica, pode ocorrer por uso de medicamentos também. É o caso de pacientes que usam a terapia antirretroviral para tratar o HIV, e podem ficar mais sensíveis ao calor.

SUOR EM EXCESSO
O excesso de suor nas mãos, pés ou axilas é chamado hiperidrose e não está associado à temperatura ambiente, segundo o cirurgião torácico dos hospitais Felício Rocho e Júlia Kubitschek, em Belo Horizonte, Frederico Lins. Trata-se de uma alteração do sistema nervoso autônomo, em que há um aumento do estímulo do nervo simpático (que compõe o sistema responsável pelo controle das funções viscerais, como pressão arterial, motilidade do trato gastrointestinal, vesical e sudorese). “Atendemos muitas pessoas no inverno que ficam mais incomodadas do que no verão devido ao suor frio. O agasalho piora a sensação de desconforto. Essa situação pode se agravar ainda mais com a ansiedade: a pessoa sabe que vai suar mesmo sem calor e fica ansiosa, potencializando o suor.”

Essa é uma das poucas situações em que o diagnóstico é baseado muito mais nas informações do paciente do que em exames clínicos ou de imagens. Segundo Lins, não foi comprovando nenhum fator genético nos casos de hiperidrose.
“Mas sabemos que sempre estamos tratando pai e filho, irmão e irmã. Um por cento da população mundial está sujeita à hiperhidrose, e curiosamente, na China, esse índice chega a 4%, o que pode indicar um traço de influência genética, mas ainda não comprovada cientificamente.”

Para casos de hiperidrose há medidas de tratamento não cirúrgicas, geralmente feitas por dermatologistas, com cremes. Uma substância que vem sendo aplicada com sucesso nas áreas de sudorese é a toxina botulínica, diminuindo sua intensidade por um período de quatro a oito meses. A toxina bloqueia o nervo periférico, impedido a saída do suor.

Apesar de mais invasiva, a cirurgia é considerada um tratamento definitivo. Entretanto há pequeno risco de retorno ou insucesso, explica Frederico Lins. "Há sucesso em 90% nos casos de suor nas mãos, 95% para axilas e 90% no rosto. Em 1% dos pacientes submetidos à operação, apenas, há melhoras por um tempo e os sintomas retornam", acrescenta