Técnica pode facilitar a comunicação verbal em pessoas com Alzheimer

Pesquisa do Instituto de Psicologia da USP indica que, se forem estimulados corretamente, idosos com a doença podem ter a capacidade de conversa conservada

por Vilhena Soares 11/10/2013 10:26

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A dificuldade de comunicação é uma das principais complicações do Alzheimer. Pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) indica que, se forem estimulados corretamente, idosos com a doença podem ter a capacidade de conversa conservada. “Estimulando os pacientes com as palavras que eles têm preservadas, eles conseguem se comunicar”, explica Renné Panduro Alegria, autor do estudo.

A pesquisa foi feita no Programa Terceira Idade (Proter), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, com homens e mulheres de em média 81 anos. Vinte e três tinham Alzheimer e 23 não. Cada paciente conversou com o pesquisador durante 20 minutos sobre cidade, família, educação, alimentação, saúde e religião. “A conversação era livre e, com perguntas abertas, eu abordava os seis temas no decorrer da interação”, explica Alegria.

As conversas foram transcritas e as palavras usadas pelos pacientes avaliadas manualmente e por meio de um software, o Stablex, que contabiliza as palavras de um texto e lista as mais frequentes e de maior peso na expressão. O pesquisador constatou um alto uso de substantivos em relação aos verbos. Entre eles, palavras que nomeiam coisas concretas foram mais utilizadas e lembradas. Já os substantivos abstratos praticamente não foram utilizados. Alegria também detectou o emprego alto de interjeições e preposições.

Segundo o pesquisador, ao considerar esses itens lexicais, a comunicação oral com pessoas com Alzheimer pode ser melhorada. “Podemos verificar que as escolhas das palavras pelos indivíduos não são feitas por acaso (…). Ao serem estimulados e receberem dicas, eles (os pacientes) respondem melhor, usam palavras próprias, da região onde vivem. Desejamos criar guias de comunicação entre pacientes e cuidadores com suas palavras mais usadas e preservadas a partir das informações do nosso banco de dados”, detalha Renné.

Ronaldo Maciel, neurologista do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), avalia que o método utilizado por Renné aborda um ponto importante no tratamento do Alzheimer: a dificuldade de comunicação. “O declínio cognitivo provoca a falta de compreensão verbal, que gera uma serie de prejuízos pela impossibilidade de comunicação. Causa sofrimento para o paciente e também para a família. De alguma maneira, essa técnica pode facilitar e trazer, de repente, uma espécie de vocábulo, específica para o paciente”, destaca. A próxima etapa da pesquisa, segundo Alegria, será verificar as áreas cerebrais relacionadas à linguagem que estão preservadas em pacientes com Alzheimer e tentar estimulá-las.