Especialistas ressaltam importância de reposição hormonal personalizada

A terapia contra as complicações do climatério leva em conta as particularidades da paciente. Entidade norte-americana atualizou três recomendações nesse sentido

Lilian Monteiro 03/10/2013 14:00
O Colégio Norte-Americano de Ginecologia e Obstetrícia (Acog, na sigla em inglês) divulgou recentemente três normativas relacionadas à terapia hormonal. São informações atualizadas internacionalmente sobre o momento da vida da mulher conhecido como climatério: entre os 45 e 55 anos, período de transição da fase reprodutiva para a não reprodutiva, da falência dos ovários com a interrupção da produção de hormônios. Essa etapa é considerada controversa. Para algumas mulheres, não causa desconfortos. Para outras, representa uma batalha diária contra sintomas intensos, como ondas de calor, que comprometem a qualidade de vida e o bem-estar.

O ginecologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ivaldo Silva explica que o primeiro ponto das normativas, anunciadas em junho, é que, depois de mais de 10 anos do estudo Women’s Health Initiative (WHI), viu-se que o uso da dose mais baixa na terapia hormonal (TH) é eficaz. “O que significa, numa analogia com o anticoncepcional, que, a cada ano, mesmo em menor dose, ele ainda evita filhos”, diz. O estudo, divulgado no Journal of the American Medical Association (Jama), contou com a participação de 27 mil voluntárias norte-americanas e avaliou benefícios e riscos do tratamento de reposição hormonal.

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Para algumas mulheres, não causa desconfortos. Para outras, representa uma batalha diária contra sintomas intensos (foto: istockphoto)
De acordo com Silva, a Acog constatou também que “as mulheres que faziam a TH estavam mais protegidas do que as que não usavam e tinham melhor qualidade de vida”. Mas o ginecologista chama a atenção para o fato de que qualquer medicamento causa efeito colateral. “O importante é escolher a melhor terapia para a paciente, que é sempre a decisão individualizada. Por isso, pode ter também aquelas que talvez não precisem dela.”

Outra constatação importante do colégio americano, segundo Silva, é que não existe mais a necessidade de parar o tratamento de TH depois de cinco ou sete anos. A recomendação é suspender só depois de uma avaliação médica, pois foram constatados benefícios em mulheres que fazem o uso contínuo da terapia. “Se há resultado positivo, é importante mantê-la. A análise individualizada do paciente e outro conjunto de fatores vão determinar a continuidade ou não da terapia. Enquanto o benefício for maior que o risco, use-a. É a normativa.”

Efeitos prolongados
A ginecologista Cláudia Teixeira da Costa Lodi ressalta que, com o aumento da expectativa de vida, as mulheres passam um terço da vida no período da pós-menopausa, sem a produção de hormônios esteroides (ovarianos). Depois dos sintomas iniciais, como os fogachos (calores que tendem a desaparecer entre dois e três anos pós-menopausa) e a irritabilidade, com o passar dos anos, a vagina fica menos lubrificada, podendo levar a dificuldade na relação sexual. “Há ainda uma diminuição da libido, do desejo da relação.”

Em um terceiro estágio, no climatério mais tardio, a ginecologista enfatiza o surgimento da osteoporose e de doenças cardiovasculares. “Elas tornam-se mais frequentes porque os hormônios que deixaram de ser produzidos atuavam como protetores. Depois da menopausa, a incidência de doenças cardiovasculares passa a ser maior nas mulheres, igualando-se à taxa em homens.”

Ainda assim, a Acog recomenda que a TH não deve ser utilizada para a prevenção primária ou secundária de doenças cardíacas coronária, pois “existe controvérsia sobre se a terapia hormonal tem um efeito cardioprotetor”. O que o colégio reforça é a necessidade de uma avaliação personalizada da condição da paciente. “Tal como acontece com as mulheres mais jovens , o uso de terapia hormonal e da terapia com estrogênio deve ser individualizado, com base na relação risco-benefício de cada mulher e de avaliação clínica”, defende o texto com as recentes recomendações médicas.

Contraindicações
De uma forma geral, a TH alivia as complicações que surgem a partir do climatério, mas a ginecologista Cláudia Teixeira da Costa Lodi ressalta a importância de uma avaliação especializada para que sejam considerados os fatores contraindicados para a terapêutica. Ela enumera os cinco principais: “Histórico familiar de câncer de mama, doenças tromboembólicas (trombose) recentes, insuficiência renal e hepática grave, tabagismo e infarto agudo do miocárdio recente, além de outras que devem ser avaliadas com exames previamente”, diz a também diretora da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais.

A médica enfatiza ainda que, durante a TH, é imprescindível estar em dia com exames como mamografia, prevenção do câncer do colo do útero, sanguíneos e avaliação do perfil lipídico (colesterol e triglicérides). “Devem também ser discutidos entre médico e paciente os fatores de riscos e os benefícios. Hoje, há no mercado vários medicamentos e formas de administração.”

Lodi explica que as pacientes com contraindicação absoluta ao uso de terapia hormonal vão lançar mão de outros recursos, também importantes por quem faz a reposição. “As medidas são mudança de hábito de vida, atividade física frequente e suplementação de cálcio, se necessário. No caso da osteoporose, vale destacar que há outros tratamentos que não a reposição.”

Personagem da notícia

13 anos de benefícios
“Faço reposição hormonal desde 2000, quando fui orientada pelo meu ginecologista. Antes, tinha infecção urinária a cada dois meses e ressecamento da vagina. Faço acompanhamento constante, vou ao mesmo médico pelo menos uma vez por ano. Ele me atende desde o início da menopausa, que aconteceu quando eu tinha 45 anos. O médico até me disse que, se eu quiser, posso interromper, mas, quando paro uma semana, minha urina fica ácida. Então, continuo, já que não me faz mal. Sem falar que melhora o sono e a pele. Acho importante fazer a reposição, mas cada caso é um caso e é fundamental ter acompanhamento médico. Quando entrei na menopausa, senti um pouco de calor, mas foi tudo muito tranquilo, nada me incomodava. Mas cada pessoa reage de uma forma.”

Ecy Rocha de Azevedo Silva, 77 anos, dona de casa

Fique de olho:
MITOS
» A terapia de reposição hormonal (TH) causa câncer
» A TH aumenta as chances de gravidez
» O tratamento provoca ganha de peso

VERDADES
» Melhora a qualidade de vida das mulheres, como o controle dos calores e da insônia
» Protege contra a osteoporose
» Melhora a libido e a resposta sexual