Especialistas apontam celulares e fones como os maiores riscos para a saúde auditiva

A prevenção é o melhor caminho. Um exame básico de ouvido pode dizer se está tudo bem com o órgão

por Lilian Monteiro 08/09/2013 14:30

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Você tem escutado bem? Como anda sua compreensão das palavras? Assiste à TV com som no último volume? Usa fone em todo tipo de aparelho eletrônico, mas tão alto que as pessoas ao lado ouvem algum tipo de ruído? Anda grudado no celular? Cuidado, pois esses são sinais de alerta e atitudes que podem afetar sua saúde auditiva. Arthur Castilho, otorrinolaringologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp), alerta que os milhares de pessoas "conectadas todos os dias não imaginam os possíveis riscos que as ondas eletromagnéticas dos telefones celulares podem provocar à saúde".

Fábio Cortez/DN/D.A Press
Outro motivo de preocupação é o fato de o celular ser um emissor de ondas eletromagnéticas. "Teoricamente, na frequência em que o celular trabalha, não haveria lesão por esse motivo. Mas sabemos que há celulares 'piratas' que entram no país sem certificação e, possivelmente, podem lesar as células do organismo (não só as da audição). Há indícios de que isso possa estar ocorrendo." - Arthur Castilho, otorrinolaringologista (foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press)
Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que o Brasil tem mais de 250 milhões de linhas ativas de telefonia móvel (1,3 linha por habitante), sendo o aparelho um dos grandes vilões dos problemas de audição. "Usualmente, os aparelhos celulares vêm com calibração de fábrica, que impede exposição acima de 80 ou 85 decibéis, mas os aparelhos hoje são smartphones e o usuário pode assistir a filmes ou escutar música. Nessa situação, é usado fone de ouvido, e a exposição é maior. Isso pode causar lesão da audição por exposição."

A gravidade, enfatiza Castilho, é que "esse tipo de lesão ocorre de maneira lenta e é irreversível". Ele reforça ainda que outro motivo de preocupação é o fato de o celular ser um emissor de ondas eletromagnéticas. "Teoricamente, na frequência em que o celular trabalha, não haveria lesão por esse motivo. Mas sabemos que há celulares 'piratas' que entram no país sem certificação e, possivelmente, podem lesar as células do organismo (não só as da audição). Há indícios de que isso possa estar ocorrendo." Então, se você não vive sem o celular, tente usar torpedo, o viva-voz, outras soluções para reduzir a exposição ou use mais o telefone fixo para chamadas de longa duração. Tente também trocar o aparelho de ouvido a cada 30 segundos para evitar o aquecimento da área e reduzir os riscos ao sistema auditivo.

PREVENÇÃO É MUITO IMPORTANTE
Em exames de checape, geralmente damos atenção ao coração, ao cérebro, ao pulmão, mas quase nunca nos lembramos da orelha (sim, seu nome científico é esse mesmo, e não ouvido). Ou melhor, fazemos isso apenas quando sentimos dor ou não escutamos direito. Segundo o otorrinolaringologista Márcio Fortini, diretor da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), não há uma idade exata para ir ao especialista pela primeira vez, mas ela deve ser norteada por indicação médica e por sintomas que sinalizam alguma doença.

ARTE: EM/D.A Press
Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais (foto: ARTE: EM/D.A Press)
"A prevenção é fundamental. Temos de fazer avaliações médicas periódicas, principalmente quando surgem sintomas clínicos importantes, tanto físico quanto emocional. É essencial acompanhar a criança desde o pré-natal, investigando doenças que podem comprometer o aparelho auditivo dela (toxoplasmose e rubéola, por exemplo) e realizando a triagem auditiva neonatal (teste que não tem valor diagnóstico para perda auditiva, mas pode ser um indicativo de problemas). E, principalmente, o acompanhamento pediátrico regular, vacinação em dia etc.", indica.

No caso dos adultos, Fortini reforça a importância de se proteger da poluição sonora, como a exposição a ruídos intensos por tempo prolongado, tanto no trabalho quanto na vida cotidiana. "É a causa mais comum de perda da audição. Esse fenômeno ocorre devido a lesão irreversível das células sensoriais, que ficam na parte interna da orelha e são as responsáveis pelo processamento do som. Uma vida saudável, com boa alimentação e atividade física regular, também ajuda na prevenção de doenças em todos os aparelhos do corpo humano."

O otorrinolaringologista destaca a necessidade de fazer . o exame básico de ouvido para saber se está tudo bem com o órgão. "O exame é composto de avaliação visual e palpação da orelha, do canal auditivo externo, da região atrás da orelha, conhecida como mastoide, procurando identificar a presença de inchaços, vermelhidão, calor e dor. Outro procedimento importantíssimo é a otoscopia, que permite ver a membrana do tímpano e é essencial para diagnosticar otite, inflamação que pode ser infecciosa", acrescenta.

CERA
Sobre a cera, que tanto incomoda e gera dúvidas, Márcio Fortini explica que sua presença é natural, e alerta: "A tentativa de limpeza inadequada ou o uso de medicamentos inapropriados são fatores de risco e têm de ser evitados. A avaliação médica deve ser feita com regularidade, pelo menos a cada seis meses naquelas pessoas que apresentam grande produção de cerume. A cera é composta por gorduras e enzimas, que protegem o ouvido de infecções por bactérias, fungos e outros micro-organismos. Ela impede que insetos e agentes estranhos penetrem no ouvido, protegendo o tímpano e a audição".

E ele avisa: "A cera produzida sai sozinha, não há necessidade de retirá-la. Por isso, é proibido usar cotonetes ou qualquer outro objeto, como palito, grampo e tampa de caneta". A insistência em removê-la causa sérios acidentes. "Se ela acumular e não sair sozinha, procure atendimento médico. A limpeza excessiva, o uso de cotonetes e de outros artefatos é totalmente contra-indicado e pode causar danos graves, como a perfuração do tímpano, que pode levar até a perda auditiva.

Além da cera, muitas pessoas reclamam de zumbido no ouvido. O médico explica que esse desconforto é um tipo de som geralmente formado dentro do ouvido ou do cérebro e só a pessoa consegue ouvi-lo. Ele diz que o zumbido pode ser parecido com o som de um apito, de uma cachoeira, de uma campainha, de uma cigarra cantando e muitos outros sons. A maioria é causada por problemas do próprio ouvido e quase sempre ocorre quando há perda da audição.

"Temos dentro da orelha a cóclea, que tem as chamadas células ciliadas, responsáveis pela audição. Elas recebem o som e o transformam em um tipo de onda elétrica, que é transmitida para o cérebro, onde essa onda é interpretada, o que faz a gente ouvir e entender o som. Quando as células ciliadas da cóclea estão doentes ou não funcionam bem, perdemos a audição e quase sempre escutamos um zumbido. Ele tem várias causas, que vão desde exposição a sons bem altos, inflamação dos ouvidos por otites, meningites, distúrbios metabólicos e hormonais, tumores, problemas do coração e da circulação do sangue no cérebro", acrescenta. Por isso é tão importante visitar um otorrinolaringologista preventivamente.

ARTE: EM/D.A Press
(foto: ARTE: EM/D.A Press)


Teste de alerta
Este questionário, elaborado pela Laysom Aparelhos Auditivos, pressupõe que você não teve nenhuma situação traumática, doença, tenha se exposto ou tomado medicamentos ototóxicos (que afetam o sistema auditivo) que, de alguma forma, tenha causado uma perda menos natural. A situação típica para a utilidade deste teste é a perda lenta e gradativa que você suspeita que esteja ocorrendo ao longo dos anos. Responda sim ou não às seguintes perguntas:

1) Você escuta as pessoas, mas tem dificuldade em compreender as palavras? Tenta compreender o discurso sem ouvir todas as palavras ou, muitas vezes, você ouve frases que não fazem sentido?

2) Faz um bom tempo que você não ouve sons de pequenos animais, como pássaros ou insetos? Tem estado em situações na qual você não notou algum tipo de som muito baixo que os outros ouviram e que você justificou que não estava prestando atenção?

3) Pede frequentemente para que as pessoas repitam o que disseram?

4) Quando você aumenta o som da TV ou rádio no nível que acha necessário para ouvir, as pessoas reclamam do volume?

5) Você fica desconfortável em ocasiões sociais nas quais antes estava costumado a se divertir?

6) Amigos ou membros da família reclamaram que você está muito desatento ou “desligado”? E outros já sugeriram que você possa estar com alguma dificuldade de audição?


7) Você reclama que, hoje em dia, tem mais pessoas que ficam murmurando ou falando muito baixo? Você procura falar alto ao telefone, mas você acha que tem muito telefone ruim?

8) As dificuldades para ouvir lhe causam cansaço, ansiedade ou embaraço em situações novas?

9) Você sente que, devido às dificuldades para ouvir, você reduziu a frequência de visitas a amigos e parentes?

10) Você sente que as dificuldades para ouvir podem estar prejudicando a sua vida escolar, social, familiar ou profissional?

RESULTADO
Se a resposta para algumas das perguntas for afirmativa, é recomendável procurar um médico especializado, o otorrinolaringologista, para uma avaliação mais detalhada. Se há suspeita de perda auditiva, ele solicitará alguns exames, entre eles a audiometria, que é indolor, cômodo e seguro. Consiste basicamente em responder algumas perguntas sobre a saúde auditiva, reconhecer algumas palavras comuns em diferentes níveis de volume e identificar sons diferentes. Sua capacidade para escutar diferentes tons ou frequências produz uma curva auditiva única, que é registrada em um audiograma. O profissional o utiliza para determinar o tipo e grau da perda auditiva.