Ser pai de adolescente é diferente? Como agir com os filhos nessa época? Como lidar com um sujeito que é meio criança e meio adulto? Não precisa de socorro médico para saber que a velha e boa conversa é a principal arma para manter o equilíbrio nessa fase. No próximo domingo é o Dia dos Pais. Para homenageá-los, decidimos compartilhar com os leitores a experiência do engenheiro agrimensor André Luiz Mendonça de Souza com os filhos, Igor, de 19 anos, e Diego, de 17.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência é o período da vida que vai dos 10 aos 20 anos. Tempo em que meninos e meninas começam a ver os pais como “desatualizados” e encontram no grupo de amigos o meio ideal para compartilhar ideias e sentimentos. É o momento da vida em que a parceria com entre pais e filhos é mais complicada, diante de interesses dos mais distintos. Por isso, é uma fase que inspira cuidados extras.
Mas André se diz um felizardo e exalta a parceria com Igor e Diego como a grande sacada para a família passar pela temida fase sem sobressaltos. “Meus filhos são meus amigos. A partir dos 14 anos mudei meu comportamento com eles. Passei a ter atenção extra e sempre fui atrás deles para conversar e saber o que estava ocorrendo. Aliás, aprendi que temos que ir atrás, porque, se deixar, eles não vem. Estou sempre por perto, saio com a turma deles, participo e, desde que fiquem à vontade, estou por perto.”
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MESTRE André conta que Igor e Diego têm personalidades distintas. “O Igor é mais zen, deixa as coisas acontecerem. Totalmente relaxado. Já o Diego é mais focado, presente e quer tudo de imediato. Também é mais vaidoso.” Pelo visto, os irmãos se equilibram e são privilegiados por ter o pai atento e disponível. Sem falar que para superar a adolescência a dupla tem ainda o avô Elahyr, pai de André, que mora com os netos. “Apesar de outros conselhos, o avô também é parceiro e meus filhos dão atenção e o chamam para participar do churrasco com a turma.”
André sabe que os desafios são enormes e muitos novos, já que os jovens de hoje são mais desenvolvidos, conhecem assuntos que seus pais nem sonhavam quando tinham a mesma idade. Daí a necessidade de estar ligado nesse universo de mudanças. Mas tudo anda muito bem nessa família. E é Diego quem dá a palavra final: “Meu pai, meu mestre. Ele é meu guia. É a pessoa que me dá mais liberdade no mundo, converso tudo com ele. Discutimos muito também, mas sou feliz por ele participar da minha vida. Agora, confesso, que ficaria ainda melhor se parasse de pegar tanto no meu pé me mandando fazer de tudo, todas as coisas, lavar carro, arrumar quarto, lavar louça”. É… coisa de adolescente!
Cynthia Dias Pinto Coelho - psicóloga
Papel duplo
“Se pensarmos na origem da família, detectamos uma divisão de papéis, com a mãe assumindo o lado acolhedor, do cuidado e da proteção. Já o pai é o quem lança o filho para a vida, quem impulsiona. É ele quem leva para soltar pipa e andar de bicicleta, ensina a arriscar, enquanto a mãe se preocupa com o cartão de vacinação, o dever de casa ou a alimentação saudável. Quando o pai precisa assumir o lugar da mãe, ele tem que transitar bem pelos dois papéis. E como o homem assume o papel de ser pai e mãe de adolescente? Lidar com o adolescente já é naturalmente mais complicado do que lidar com a criança, porque ele já se sente dono do próprio nariz, é mais desafiador e se mantém um pouco mais distante dos pais para ficar ao lado dos colegas, da turma de amigos.
A situação se torna ainda mais delicada com o excesso de informações às quais o adolescente tem acesso nos dias de hoje. São sites de relacionamento, redes sociais, a vida exposta em fotos, postada a todo momento. O conselho é que esse homem adote um diálogo franco e verdadeiro, que participe da vida digital de seus filhos, acompanhe de perto tudo aquilo que eles postam, com quem se relacionam virtualmente, quais coisas eles curtem. E que a partir disso ofereça a eles a orientação para o enfrentamento da vida, da construção dos valores, da imposição das regras e limites. Vale lembrar que, embora o pai deva ser próximo de seus filhos, ele não pode ser confundido com um colega. Sua função de figura de autoridade e educador precisa ser preservada, ainda que a forma de se relacionar seja mais aberta e próxima nos dias de hoje. Além disso, cabe a ele alertar aos filhos sobre os perigos existentes na internet, do risco da exposição em excesso, das questões ligadas à sexualidade e as drogas.”