Medo de férias é fenômeno contemporâneo e afeta boa parte da população

O principal receio é ficar para trás em termos profissionais

por Maria Júlia Lledó 24/07/2013 08:30

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SXC.hu/Banco de Imagens
Não é unanimidade. Por incrível que pareça, muita gente não demonstra qualquer entusiasmo com a proximidade das férias após 11 meses de trabalho (foto: SXC.hu/Banco de Imagens)
Quem não gostaria que o ano caminhasse a passos largos para que logo chegassem as tão sonhadas — e planejadas — férias? Se você pensou em uma resposta unânime, se enganou. Por incrível que pareça, muita gente não demonstra qualquer entusiasmo com a proximidade desse merecido período de descanso após 11 meses de trabalho. Pelo contrário. Há funcionários e empresários que procrastinam as férias e demonstram um certo “medo” de ficar de pernas para o ar. Tal constatação surpreendeu os pesquisadores do International Stress Management Association no Brasil (Isma-Brasil), associação sem fins lucrativos voltada à pesquisa e à prevenção de estresse no mundo.

Quando realizavam uma pesquisa sobre hábitos nas férias, constataram uma alta porcentagem de homens e mulheres receosos em se ausentar do batente mesmo que por poucos dias. “Infelizmente, esse tipo de medo passou a existir nesse contexto atual: um mercado de trabalho extremamente competitivo. Desde que fizemos a pesquisa, em 2011, quando apareceu essa variável, não observamos uma mudança desse quadro”, conta a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-Brasil. O estudo ouviu 745 homens e mulheres ativos no mercado de trabalho — moradores de Porto Alegre e de São Paulo —, na faixa dos 23 aos 62 anos. Desse total, 41% demonstraram resistência em tirar férias.

A gestora e produtora cultural Lívia Frazão, 37 anos, prefere acreditar que não tem medo de férias. Ela diz que, simplesmente, não tem tempo para ficar embaixo de um guarda-sol, na praia, livre de qualquer tarefa. “Não lembro da última vez em que tirei 30 dias de férias. Também acho difícil que isso aconteça, porque amo meu trabalho e sempre aparece algum projeto que me impede de viajar”, confessa. Há 10 anos, Lívia trabalha como produtora cultural e há três, abriu a própria empresa. Como muitos empresários e autônomos, é ela quem assume todas as responsabilidades e demandas.

Talvez por isso, seja tão difícil desplugar-se do serviço. Tanto que, ao criar uma imagem de férias, ela logo se vê em uma espreguiçadeira na piscina da casa onde a mãe mora… Mas, com o notebook sobre o colo. “É quando eu mais produzo”, diz. Parentes e amigos se esforçam para entender como a produtora consegue sempre levar consigo uma papelada referente a editais, captação de recursos etc. “Não à toa, um grande amigo já me disse que tenho ‘trabalhite aguda’”, brinca.

Pelo visto, Lívia não é a única. Segundo a pesquisa Férias Marcadas, realizada pela agência de viagens on-line Expedia com 8 mil viajantes de 22 países, no ano passado, mesmo que os brasileiros tirem todos os 30 dias disponíveis a que têm direito, 2/3 entram em contato com o trabalho regularmente. Enquanto isso, mais da metade dos europeus afirmou nunca manter contato com o emprego durante os dias de recesso.

Para sair um pouco do turbilhão de tarefas a que se propõe, a produtora até cogitou viajar com uma amiga para o México, em outubro, mas logo abandonou a ideia. Outras viagens também foram parar na gaveta. Flanar por Nova York ou percorrer de bicicleta uma rota de vinícolas no Chile são outros sonhos postergados. “Pelo menos, por enquanto”, conta. Para não sofrer pensando nas férias que deixa de tirar, a produtora optou pela criação de um conceito inusitado de recesso. “Para mim, é mudar de contexto e não parar de trabalhar. Ou seja, me enfurnar 15 dias em alguma cidade que gostaria de visitar e poder criar sem me preocupar em conhecer pontos turísticos. Simplesmente estar lá”, almeja.

  • 53% têm medo de que importantes decisões sejam tomadas sem que estejam presentes;

  • 24% têm medo de enxugamento do quadro de empregados da empresa;

  • 17% colocam o trabalho em primeiro lugar e dispensam folgas;

  • 6% têm receio de atritos familiares, já que, nas férias, passam mais tempo juntos.

Janine Moraes/CB/D.A Press
Enquanto trabalha à sombra da árvore de um café da Asa Norte, a produtora cultural Lívia Frazão nem pensa em tirar férias (foto: Janine Moraes/CB/D.A Press)
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( ) Aproveito as férias para tratar de assuntos profissionais
( ) Não saio em férias sem meu notebook e meu celular
( ) Durante as férias, preocupo-me com possíveis mudanças no meu trabalho
( ) No retorno, empenho-me em resolver de imediato as pendências.

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Até 7 pontos: Parabéns! Você está preparado para um período de descanso e de prazer.
De 8 a 12: Seja cauteloso. Reavalie os planos de férias e estabeleça prioridades de acordo com seus objetivos. Lembre-se que o período de férias é importante para recarregar as baterias.
Acima de 12: Agindo dessa forma, você estará perpetuando as pressões e demandas do seu dia a dia. Suas chances de descansar e se beneficiar são mínimas. Procure se desligar dos assuntos do trabalho, ficando disponível apenas para alguma eventual emergência.

Fonte: Ana Maria Rossi, PhD, presidente da International Stress Management Association, Isma-BR.