Apesar de não ser uma doença nova, diabetes é rodeada de mitos

A crença de que 'entrar na linha' é suficiente para acabar com o problema pode ocasionar o que os médicos chamam de lua de mel

por Gláucia Chaves 22/07/2013 09:00

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Janine Moraes/CB/D.A Press
Um em cada 10 brasileiros está no grupo de risco para a doença e metade dos que já desenvolveram o mal não foi diagnosticada. Pesquisa mostra que 41% associam o distúrbio à velhice. É um erro. O número de casos é crescente em jovens, como Luís Eduardo, 23 anos, e em crianças. Entenda. (foto: Janine Moraes/CB/D.A Press)
A doença não é nova, contudo, é rodeada de mitos. Na pesquisa “Conhecimento do diabetes no Brasil”, feita pelo Instituto Ipsos, 59% dos participantes ouvidos acharam que a doença pode desaparecer se a pessoa passar a levar uma vida mais saudável, por exemplo. A crença de que “entrar na linha” é suficiente para acabar com o problema pode ocasionar o que os médicos chamam de lua de mel, período em que, por conta da mudança brusca de vida, a doença recua. Quando percebem as melhoras, é comum os pacientes relaxarem — o que faz com que a doença volte com tudo.

Guilherme Falcão Mendes, nutricionista, especialista em nutrição clínica, mestre em educação física e diretor do programa Doce Desafio, explica que o período de lua de mel acontece geralmente nos primeiros momentos depois do diagnóstico. É nessa fase que o paciente está mais determinado a mudar seu estilo de vida. “Isso tira a sobrecarga de açúcar e o pâncreas volta a produzir insulina residualmente”, detalha Falcão. “O problema é que, em poucos meses, essa fase acaba e o sujeito tem que fazer uso da insulinoterapia intensiva.”

A ideia de que a diabetes “de criança” seria a tipo 1, em que o paciente precisa de insulina injetável, é outro mito. “A prevalência da diabetes tipo 2 em idosos é grande, mas é causada pelo próprio desgaste do organismo”, explica o Guilherme Falcão. O problema é que os casos dessa variação da doença em crianças só aumentam.

O endocrinologista Sérgio Vêncio explica que outra dificuldade no diagnóstico de crianças e adolescentes é a falta de exames específicos para o problema. “Quase 50% dos diagnósticos da diabetes tipo 1 vem por meio do coma”, exemplifica. Para o médico, o fenômeno das crianças com diabetes está intimamente relacionado à obesidade infantil. “Metade dos casos de diabetes tipo 2, que deveriam acontecer com adultos, está acontecendo em adolescentes.”

Patrícia Soares Aguiar teve que aprender todos os detalhes sobre a doença há sete anos. Seus dois filhos, Paloma, 9 anos, e Wellington, 11, manifestaram muito cedo a doença. Quando estava com 2 anos, a menina passou a urinar muito e a beber muita água. Uma visita ao pediatra acusou o problema. Dois anos depois, foi a vez do irmão: “Ele começou a emagrecer demais, a ficar pálido”.

Desta vez, a visita ao pediatra não foi tão proveitosa. “Os médicos acharam que não precisava fazer o exame, porque ele não tinha os sintomas normais”, conta a mãe. De tanto insistir, o exame foi feito. A primeira orientação que recebeu foi cortar os doces em absoluto. “Não aceitei que meus filhos fossem tratados como diferentes, que não poderiam ir a uma festinha de aniversário” Insatisfeita com o tratamento recebido, ela optou por mudar de médico. Além disso, abandonou o emprego.

Desde então, Patrícia conta que sua vida gira em torno do tratamento das crianças. Assim que acordam, os irmãos têm a glicemia medida. O café da manhã é composto apenas por alimentos indicados pela nutricionista, para facilitar a contagem de carboidratos e, consequentemente, a quantidade de insulina necessária. O mesmo acontece após todas as outras seis refeições do dia. “Acordo 1h, 3h e 6h para medir a glicemia deles e ver se está tudo bem”, completa. A mãe também está a postos na escola, para fazer o procedimento da maneira correta. “Às vezes, as pessoas acham que sou meio fanática, mas minha consciência de mãe não me permite sair da vigilância, porque eles são muito pequenos.”

Diabetes: uma visão geral

O que é
Ao serem digeridos pelo intestino, os alimentos se transformam em açúcar. A nova composição é chamada de glicose, que será absorvida para o sangue e usada como energia pelos tecidos. Para que o corpo possa usar a glicose, é preciso ter insulina — substância produzida pelas células pancreáticas. Se não for bem utilizada pelo corpo, a glicose se eleva no sangue, ocasionando a hiperglicemia, ou diabetes.


Classificação

Tipo 1 — A produção de insulina é insuficiente, pois as células sofrem destruição autoimune. Por isso, os pacientes precisam de injeções diárias de insulina mimetizada para suprir essa carência.
Tipo 2 — Relacionada à obesidade, maus hábitos alimentares, sedentarismo e estresse.
Os pacientes produzem insulina, mas a ação da substância é dificultada pela obesidade. Isso causa resistência insulínica, que ocasiona a hiperglicemia.
Gestacional — Presença de glicose elevada no sangue durante a gravidez. Geralmente, se normaliza após o parto, mas a mulher e seus filhos têm maior risco de desenvolverem diabetes tipo 2 posteriormente.

Sintomas
No caso da diabetes tipo 2, os sintomas podem ser muito discretos ou mesmo inexistentes. Porém, alguns sintomas comuns são excesso de urina (inclusive à noite, durante o sono), muita sede, aumento do apetite, perda de peso (mesmo quando o paciente come demais), cansaço, vista embaçada ou turva, infecções comuns, especialmente as de pele.

Tratamentos
Atividade física regular e alimentação saudável são os pilares do tratamento. No caso dos diabéticos tipo 1, é preciso fazer a contagem de carboidratos, para manter a glicemia dentro de limites convenientes.

Bomba de insulina: com o aparelho, há o envio do fluxo contínuo de insulina para a corrente sanguínea. De maneira lenta e contínua, o equipamento visa imitar o funcionamento do pâncreas humano, o que dá mais liberdade para o paciente. São, de maneira geral, do tamanho de um celular e podem ser guardadas no bolso ou atadas ao cinto. O catéter é colado ao corpo do indivíduo, que deve trocá-lo a cada três dias.

Tipos de doses
Basal: microfluxo contínuo de insulina que mantém os níveis de glicose estáveis durante a noite e durante o dia entre as refeições.
Bolus: dose de insulina ministrada pouco antes das refeições ou depois das refeições em crianças pequenas.
Dose Corretiva ou Suplementar

Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)