Dificuldades na respiração devem ser avaliadas com um médico

Apesar de haver uma crença popular sobre respirar errado, especialistas garantem ser impossível controlar o movimento involuntário

por Lilian Monteiro 26/05/2013 08:09

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Istockphoto
Ninguém controla a respiração (foto: Istockphoto)
Ninguém aprende a respirar e muito menos controla a respiração. Você pode perceber variações em situações de medo, ansiedade, se leva um susto, prende o ar ou em plena atividade física. Cenas passageiras. Já a dificuldade não é normal. E não é porque você não sabe ou respira errado. Como é um ato involuntário e inconsciente, qualquer sintoma fora do normal é sinal de alerta. Certamente é uma denúncia de alteração no organismo, seja fisiológica ou mental. O que existe são diferentes formas de se respirar que envolvem músculos e vias distintas. Pode ser pela boca; pelo nariz; há a respiração diafragmática (que usa os músculos do diafragma); e a torácica, que demanda atividade da musculatura intercostal (entre as costelas).

O pneumologista Maurício Meireles Góes, presidente da Sociedade Mineira de Pneumologia e Cirurgia Torácica, avisa: ninguém modifica o jeito de respirar e, se tem dificuldade, é porque tem alguma alteração. Seja uma obstrução nasal, um desvio do septo nasal (estrutura que divide o nariz em duas narinas) ou uma doença respiratória como asma, bronquite crônica ou enfisema pulmonar. “Se a pessoa fica mais cansada, tem a sensação de não respirar direito e não sabe porque, procure um médico”.

Góes reforça que respirar pela boca é errado, a não ser diante de uma demanda respiratória maior, no caso de um exercício físico. Assim como definir uma maneira de respirar na caminhada, por exemplo. “Em qualquer atividade física não se preocupe com a respiração, o comando é do organismo. Existe um mecanismo de controle pelo sangue, coração e cérebro da forma de respirar de cada um”. Ele lembra que não há reeducação respiratória, mas sim técnicas para facilitar a respiração naquelas pessoas que já têm alguma dificuldade. Nesses casos, é indicado um tratamento de reabilitação. “O ideal é inspirar pelo nariz e expirar pela boca”, diz ele, enfatizando que “a respiração não trata nenhum tipo de doença”.

O pneumologista ensina que há maneiras de respirar executadas por meio de exercícios respiratórios, possíveis de serem feitas no dia a dia. Medidas que podem melhorar um pouco o ato de respirar de pessoas que têm a dificuldade. “O indicado é inspirar pelo nariz e soltar o ar com a boa semicerrada, criando um grau de resistência à saída. No caso de enfisema ou bronquite, quando se prolonga a expiração, a sensação de cansaço diminui. Outra forma é o relaxamento. No meio do dia, ao expirar e inspirar profundamente renova-se o ar do pulmão e a sensação é de bem-estar”, acrescenta o especialista.

Jair Amaral/EM/DA Press
"O homem tem de 16 a 20 respirações por minuto. Ou seja, respiramos 21 a 24 mil vezes por dia" - Maurício Meireles Góes, pneumologista (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


EMOCIONAL

O médico reconhece a respiração como uma válvula de escape para a ansiedade. Isso porque estados depressivos e de angústia levam a uma dificuldade na respiração. Assim como a claustrofobia. Mas avisa: “São problemas psicológicos. Antes de mais nada, são mais sintomas de ansiedade do que, necessariamente, sintomas de doença como asma, tosse ou gripe”. Maurício Goés acrescenta que inúmeras vezes já ouviu no consultório queixas e frases como: “Tenho a sensação de que o ar não enche meu pulmão”. O diagnóstico? “Não passa de um sintoma emocional”, segundo o médico.

Maurício alerta que muitas vezes o paciente convive com uma dificuldade e acha que não sabe respirar. E na verdade é a manifestação de uma doença que tem de ser investigada. “Todos precisam prestar atenção na sua respiração. Se tem alguma dúvida, há exames para detectar se você respira direito”. Há dois aparelhos. O oximetro mede a oxigenação do sangue e informa se a respiração está boa ou não. E o espirômetro é capaz de medir se a respiração está adequada. “O resultado de normalidade depende da altura, peso, idade e sexo”. Quanto ao tempo que o ser humano consegue ficar sem respirar, sempre uma curiosidade, o pneumologista explica que também varia de acordo com idade, sexo e treinamento (caso da apneia).

Solte o ar pelas narinas
Arquivo Pessoal
Ortodontista Luciano Carvalho: respirar deve ser sem esforço (foto: Arquivo Pessoal)
O dentista é outro profissional da saúde que lida e trata pessoas com dificuldade de respirar. O incômodo de respirar pela boca é a principal preocupação. Mestre e doutor pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, Luciano da Silva Carvalho, coordenador do curso de especialização em ortodontia da Escola de Aperfeiçoamento Profissional da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD), ensina que a forma correta de respiração é a nasal, realizada por meio das narinas, com vedamento labial suave, sem esforço e com plena utilização da capacidade pulmonar. Já a incorreta é a bucal.

“Essa alteração da respiração pode ocorrer devido à obstrução nasal orgânica, funcional ou por mau hábito. Obstruções orgânicas são as chamadas tonsilas (amígdalas) e adenoides hipertróficas (volumosas), rinites, sinusites, alergias respiratórias e desvio de septo. E as funcionais podem ser atrofias das narinas, inadequação da função da neuromusculatura craniofacial e falta de vedamento labial”, explica Carvalho.

O odontologista comenta que ao respirar pela boca a pessoa desenvolve um rosto mais alongado, podendo apresentar palato alto, mordida aberta, mordida cruzada posterior e dentes tortos. “Esses são alguns dos inúmeros problemas que também têm impacto sobre a forma como falam, deglutem e mastigam.” Essa dificuldade atinge crianças e adultos de formas diferentes. Por isso, é preciso fazer um diagnóstico correto para saber se é um problema orgânico ou funcional associado a quadros alérgicos (como rinite e sinusite) ou um desvio de septo, adenoides hipertróficas ou qualquer outro problema que esteja obstruindo as vias aéreas superiores.

“Essa fase é tratada por um otorrinolaringologista. Depois, é necessário que um cirurgião-dentista (ortodontista) avalie o paciente. Crianças podem recorrer a tratamentos ortodônticos e obter sucesso, conseguindo uma mordida perfeita e dentes saudáveis. Estudos indicam também maior propensão a infecções respiratórias e até mesmo baixo rendimento escolar, com dificuldade de concentração. Se o problema é no adulto com mordida cruzada, por exemplo, a solução é cirúrgica”.

Vale acrescentar que a respiração ruim também é aflorada de acordo com o clima. Luciano Carvalho lembra que no outono e no inverno a incidência é maior por causa das variações climáticas, e na primavera, é o período em que várias pessoas podem ter o desencadeamento de alergias. “Entretanto, a dificuldade de respirar pelo nariz pode ser notada durante todo o ano, em várias fases da vida, inclusive no recém-nascido. Devo lembrar que uma maneira preventiva de contornar problemas respiratórios é evitar ambientes fechados que favoreçam a proliferação de ácaros e fungos, além de pelos de animais, tapetes e pisos acarpetados que favorecem o aparecimento de pó e poeira”.

PERSONAGEM DA NOTÍCIA
GERALDO FREESZ SALOMÃO, 53 ANOS

Crise repentina
O gerente comercial Geraldo Freesz Salomão nunca tinha tido problema de respiração até ter a primeira crise, aos 43 anos, de forma violenta e repentina. “Comecei a sentir falta de ar e achei que teria um infarto. Tentava puxar o ar e não vinha nada. Nunca tinha passado por isso. De carro, desesperado, consegui chegar ao hospital, quase desmaiando, e ao usar o nebulizador o alívio foi imediato.

O diagnóstico foi asma”. Desde então, Geraldo é acompanhado por um pneumologista. “Meu quadro era crítico porque eu tinha apenas 45% da capacidade pulmonar. Nunca fumei. Tenho refluxo, que pode causar inflamação nos brônquios e causar a asma, assim como a sinusite, também proveniente do refluxo. Mas hoje tudo está controlado com medicamento. A respiração está melhorando, oscila entre 45%, 50% e 60% e o tratamento é de longo prazo ou para o resto da vida”, diz.