Espetáculos celebram a obra de Vinicius de Moraes em BH, confira programação

A bossa nova, movimento do qual o artista se tornou ícone, completará 60 anos em 2018

por Ana Clara Brant 07/06/2017 08:00
Kleber Sales/CB/D.A Press
(foto: Kleber Sales/CB/D.A Press)
Surgida no fim dos anos 1950, a bossa nova vem encantando várias gerações com influências do samba, do jazz, do choro e do blues. “Em 2018, a bossa nova vai virar sessentona. E olha que muita gente achava que ela nem iria durar. O mais bacana é que tem muita gente aí fazendo show, na estrada. Só não faz quem já morreu (risos). É uma maravilha”, diz a cantora Wanda Sá, pioneira do gênero. Sexta-feira, ela vai se apresentar em BH ao lado de Roberto Menescal, Marcos Valle, Leila Pinheiro e MPB-4. O show terá participação especial da cantora Patrícia Alvi.

Amanhã, chega a BH um espetáculo dedicado a Vinicius de Moraes, um dos “pais” da bossa nova. Dirigido por Fernando Cardoso, o musical É melhor ser alegre que ser triste remete ao verso de Samba da bênção, parceria do Poetinha com Baden Powell.

Em fevereiro, Bossa nova in concert chegou a reunir três mil pessoas em Brasília. “Um vai passando o bastão para o outro no palco. Subo, toco sozinho, aí chamo a Leila, que depois chama a Wanda e por aí vai. No final, é uma grande celebração entre amigos”, destaca Roberto Menescal.

O repertório traz canções que se tornaram clássicas depois do lançamento do compacto gravado por João Gilberto, em 1958, com as faixas Bim bom, de autoria do baiano, e Chega de saudade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. “Acredito que vou fazer Bye, bye, Brasil (Menescal e Chico Buarque) com a Leila Pinheiro e certamente O barquinho (parceria dele com Ronaldo Bôscoli). É a que mais me pedem. Já tentei não tocar, mas não tem jeito. O Frank Sinatra costumava dizer que já começava o show cantando Strangers in the night pois com certeza iam pedir”, brinca Menescal.

Menescal diz que o segredo de a bossa nova ainda fazer sucesso depois de tanto tempo está na batida e na harmonia. Ressaltando que ela nunca foi um ritmo popularesco e de multidões, ele observa que, vez por outra, ocorrem surpresas. “Isso acontece muito fora do Brasil, principalmente. A bossa está presente no mundo todo. Certa vez, fui à Dinamarca fazer um show com o pessoal do Bossacucanova (grupo que mescla o gênero com eletrônica criado por seu filho, Márcio Menescal). Eram 250 mil pessoas na plateia. E tinha a garotada dançando. É uma loucura tanto na Rússia, no Japão e nos Estados Unidos quanto em lugares que a gente nem imagina, como Austrália e Cingapura”, revela.

ENERGIA


A cantora Jane Duboc compara o musical É melhor ser alegre que ser triste a um bálsamo. “Tem uma energia incrível, tanto a gente quanto quem assiste sente a leveza, o contentamento. Não é muito melhor ser alegre do que ser triste?”, diz. A cantora Célia e o ator Juan Alba também integram o elenco.

A montagem, que estreou em 2014 com Luís Carlos Miele (1938-2015), reúne causos, histórias e a poesia de Vinicius de Moraes. “O repertório faz parte da vida de muitas pessoas. A gente vai entrando no universo dele e fica ainda mais apaixonada por sua obra. Vinicius é uma figura que vamos reverenciar eternamente. Um ser raro e especial”, destaca Jane Duboc.

RENOVAÇÃO


Wanda Sá diz que a bossa nova conseguiu reunir, num mesmo momento, artistas de primeira. “Foi um marco. Juntou a letra do Vinicius com a melodia do Jobim e a batidinha do João Gilberto. Influenciada pelo jazz e pelo samba, ela foi adotada por lugares inimagináveis. No Japão, tem meninas de 17 e 18 anos que aprendem a tocá-la e a cantá-la. É fantástico. Durante um tempo, até achei que fazia mais sucesso lá fora do que no Brasil. Mas isso está mudando. Nos shows por aqui, a gente vê uma moçada também”, comemora a cantora, prestes a lançar disco que celebra os 60 anos da parceria de Tom e Vinicius.

“Fiz esse projeto com o Mauro Senise e o Gilson Peranzzetta, tem arranjos bem modernos. Há muita coisa ainda a ser revista, sempre tem um jeito de fazer algo diferente. A bossa se renova sozinha, mesmo sem muita gente criando canções novas. Meus filhos brincam que eu deveria cantar outras coisas Mas é o que sei fazer. Sou cantora de bossa nova”, destaca.

Roberto Menescal diz que uma das características do estilo, focado nas harmonias, é se autorrenovar. “Quando criei O barquinho, em 1961, ele era um barco com motor a mil, superpotente. Hoje, é mais tranquilo, um barquinho a vela (risos). A música vai se transformando ao longo do tempo. A bossa é assim: um banquinho, um violão. É mais melódica e a gente sempre inova nos arranjos, nas harmonias. A bossa nova está mais viva do que nunca”, defende.

É melhor ser alegre que ser triste aposta no vigor dos clássicos. Com direção musical de Ogair Júnior, traz no repertório Eu sei que vou te amar, Chega de saudade e Pra que chorar, além de  poemas de Vinicius de Moraes interpretados por Juan Alba, como Soneto da separação.

Música e poesia vêm acompanhadas de fragmentos de histórias do “branco mais preto do Brasil” e seus parceiros Tom Jobim, Baden Powell, Carlos Lyra, Adoniran Barbosa e Toquinho. “Um dos pontos bacanas são os bastidores e as curiosidades que muita gente desconhece, como a primeira versão de Aquarela (parceria de Vinicus com Toquinho). É uma singela e bela homenagem”, conclui Jane Duboc.


MENESCAL OITENTÃO
Se a bossa nova está ficando sessentona, Roberto Menescal (foto) completa 80 anos em outubro. O oitentão terá agenda intensa até o fim do ano. São vários planos: documentário, filme, biografia, discos (um em homenagem aos Beatles, outro com Abel Silva) e projeto com Leila Pinheiro e Rodrigo Santos (do Barão Vermelho) mesclando Cazuza e bossa nova. Sem contar apresentações com Andy Summers (ex-Police) e uma série de shows, em setembro, nos CCBBs do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. “Tem mais coisa, mas se for elencar tudo, vamos ficar aqui até o Natal falando (risos). Festa não quero. A minha última festa de aniversário foi aos 15 anos. A melhor maneira de celebrar a vida é fazer o que a gente gosta. No meu caso, é estar no palco”.


É MELHOR SER ALEGRE QUE SER TRISTE
Amanhã e sexta-feira, às 21h. Cine Theatro Brasil Vallourec, Praça Sete, Centro, (31) 3201-5211. Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Informações: www.cinetheatrobrasil.com.br


BOSSA NOVA IN CONCERT
Sexta-feira, às 21h. Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. (31) 3236-7400. Plateia 1: R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia). Plateia 2: R$ 180 (inteira) e R$ 90 (meia). Plateia superior: R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia). Vendas on-line: ingressorapido.com.br

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