Madonna faz discurso emocionante e empoderado ao receber o prêmio de Mulher do Ano da Billboard

''Obrigada por reconhecerem minha habilidade de dar continuidade à minha carreira por 34 anos diante do sexismo e da misoginia gritante, e do bullying e abuso constante'', disse

por Estado de Minas 12/12/2016 13:29
Billboard/Reprodução
Madonna recebe o prêmio de Mulher do Ano pela Billboard. (foto: Billboard/Reprodução)
Madonna foi escolhida pela revista Billboard americana como a Mulher do Ano de 2016. Durante o evento Billboard's Woman In Music 2016, que aconteceu na última sexta-feira, 09, a cantora roubou a cena ao fazer um emocionante discurso de aceitação da homenagem. 

Madonna subiu ao palco e logo quebrou o gelo com uma piada - ''Eu sempre me sinto mais confortável com algo grande entre minhas pernas'' -, depois disso, ela usou toda sua experiência para dar ao público um discurso franco sobre as dificuldades de ser mulher dentro da indústria da música. 
 
''Estou aqui em frente a vocês como um capacho. Quer dizer, como uma artista feminina'', disse. ''Obrigada por reconhecerem minha habilidade de dar continuidade à minha carreira por 34 anos diante do sexismo e da misoginia gritante; do bullyng e do abuso constante'', continuou. 

Madonna nasceu em Michigan, nos Estados Unidos, e se mudou para Nova York em 1977, para tentar uma carreira como dançarina. ''As pessoas estavam morrendo de AIDS em todos os lugares. Não era seguro ser gay, não era legal ser associada à comunidade gay. Era 1979 e Nova York era um lugar assustador. No meu primeiro ano [na cidade] eu fiquei sob a mira de uma arma de fogo, fui estuprada num terraço com uma faca na minha garganta e tive meu apartamento invadido e  roubado tantas vezes que parei de trancar as portas. Com o passar do tempo, perdi para a AIDS ou para as drogas ou para as armas quase todos os amigos que tinha'', contou. ''Como vocês podem imaginar, todos esses acontecimentos inesperados me ajudaram a me tornar a mulher ousada que está aqui, mas também me lembraram que sou vulnerável, e que na vida não há segurança verdadeira exceto sua confiança''. 

Uma garota na música 

Ao relembrar de suas referências, citando Debbie Harry e David Bowie, a cantora - que acumula 13 álbuns de estúdio  em sua discografia -, falou sobre as regras que a indústria impõe ''se você é uma garota''. ''Eu me inspirei, é claro, em Debbie Harry e Chrissie Hynde e Aretha Franklin, mas meu muso verdadeiro era David Bowie. Ele personificava o espírito masculino e feminino e isso me agradava. Ele me fez pensar que não havia regras. Mas eu estava errada. Não há regras se você é um garoto. Há regras se você é uma garota. Se você é uma garota, você tem que jogar o jogo. Você tem permissão para ser bonita, fofa e sexy. Mas não pareça muito esperta. Não aja como você tivesse uma opinião que vá contra o status quo. Você pode ser objetificada pelos homens e pode se vestir como uma prostituta, mas não assuma e se orgulhe da vadia em você. E não, eu repito, não compartilhe suas próprias fantasias sexuais com o mundo. Seja o que homens querem que você seja, e mais importante, seja alguém com quem as mulheres se sintam confortáveis por você estar perto de outros homens. E por fim, não envelheça. Porque envelhecer é um pecado. Você vai ser criticada e humilhada e definitivamente não tocará nas rádios'', declarou. 

''Eventualmente fui deixada em paz porque me casei com Sean Penn e estava fora do mercado. Por um tempo eu não fui considerada uma ameaça. Anos depois, divorciada e solteira, fiz meu álbum ‘Erotica’ e meu livro ‘Sex’ foi lançado. Eu me lembro de ser a manchete de cada jornal e revista. Tudo que lia sobre mim era ruim. Eu era chamada de vagabunda e de bruxa. Uma das manchetes me comparava ao demônio. Eu disse ‘Espera aí, o Prince não está correndo por aí usando meia-calça, salto alto, batom e mostrando a bunda?’ Sim, ele estava. Mas ele era um homem. Essa foi a primeira vez que eu realmente entendi que mulheres não têm a mesma liberdade dos homens''. 

'Feminista má'

Madonna ainda relembrou que, nos momentos mais difíceis, procurou ajuda de outras mulheres, apesar de não obter uma resposta positiva. ''Eu me lembro de desejar ter uma mulher para me apoiar. Camille Paglia, a famosa escritora feminista, disse que eu fiz as mulheres retrocederem ao me objetificar sexualmente. Então eu pensei, ‘Se você é uma feminista, você não tem sexualidade, você a nega’. E eu disse ‘Dane-se. Eu sou um tipo diferente de feminista. Sou uma feminista má’''. 

Ela também relembrou alguns dos ícones da música dos séculos XX e XXI que já partiram. ''Eu acho que a coisa mais controversa que eu já fiz foi ficar aqui. Michael se foi. Tupac se foi. Prince se foi. Whitney se foi. Amy Winehouse se foi. David Bowie se foi. Mas eu continuo aqui. Eu sou uma das sortudas e todo dia eu agradeço por isso'', disse.
 
E ainda falou diretamente para as mulheres. ''O que eu gostaria de dizer para todas as mulheres que estão aqui hoje é: Mulheres têm sido oprimidas por tanto tempo que elas acreditam no que os homens falam sobre elas. Elas acreditam que elas precisam apoiar um homem. E há alguns homens bons e dignos de serem apoiados, mas não por serem homens, mas porque eles valem a pena. Como mulheres, nós temos que começar a apreciar nosso próprio mérito. Procurem mulheres fortes para que sejam amigas, para que sejam aliadas, para aprender com elas, para as inspirem, apoiem e instruam''. 

De mulher para mulher 

Por fim, Madonna agradeceu as mulheres que a apoiaram ao longo do caminho e também à aqueles que duvidaram de sua capacidade como artista. ''Estou aqui mais porque quero agradecer do que para receber esse prêmio. Agradecer não apenas a todas as mulheres que me amaram e me apoiaram ao longo do caminho; vocês não têm ideia de quanto o apoio de vocês significa. Mas para aqueles que duvidam e para todos que me disseram que eu não poderia, que eu não iria e que eu não deveria, sua resistência me fez mais forte, me fez insistir ainda mais, me fez a lutadora que sou hoje. Me fez a mulher que sou hoje. Então, obrigada'', finalizou. 

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