Joelma grava DVD com participação de Ivete Sangalo e em palco em forma de bota

Apresentação teve 'recados' para Chimbinha, público LGBT derretido pela cantora, participação de seus filhos e oração no final

por Cecília Emiliana 10/11/2016 17:07

Fabio Nunes
Joelma na gravação de seu DVD, em São Paulo (foto: Fabio Nunes)
São Paulo - Quem passou a madrugada desta quinta, 10, na casa de shows Coração Sertanejo, estabelecimento da Zona Sul da capital paulista em que Joelma gravou o DVD Avante – o primeiro de sua carreira solo – assistiu a um espetáculo singular.

O show anunciado aos 1.300 pagantes – que por sinal esgotaram os ingressos dois meses antes da apresentação em menos de uma semana – seria, por si, robusto produto de entretenimento. Trouxe, além da cantora paraense famosa pelo bate-cabelo, outras duas convidadas de peso, que bem sabem como se faz para colocar multidões no bolso: Ivete Sangalo e Solange Almeida, da banda Aviões do Forró.

Mas foi o público em toda sua complexidade quem reinou absoluto no evento.

Fabio Nunes
(foto: Fabio Nunes)
Fervendo na boate suburbana estrategicamente escolhida por Joelma como marco da nova fase de sua carreira, a plateia era o retrato de uma concentração da parada LGBT.  Sua causa, contudo, é tão peculiar quanto fervorosa e estampada em faixas purpurinadas de amarrar na testa: uma cantora evangélica, que há pouco mais de 3 anos chegou a comparar homossexualidade ao vício em drogas, além de dizer que lutaria até a morte para converter um filho gay.

Os mistérios por trás da atração? Humano demais para o entendimento, o fenômeno foi definido pela própria Joelma, assim que pegou no microfone, à meia-noite: Força estranha. A de Caetano Veloso, no caso, canção com que ela abriu o show.

Fabio Nunes
(foto: Fabio Nunes)
Quem porventura insistir e tentar buscar explicações junto aos fãs, só encontrará… amor. Derramado como o do consultor de atendimento Willliam Pereira da Silva, de 18  anos, que descolou um cartão de crédito emprestado para adquirir um ingresso para a gravação do DVD da diva nortista. Ao som de Game over, segunda canção do setlist de Joelma, ele dá pouca ou nenhuma confiança às polêmicas declarações que ela deu no passado. “Olha, Joelma pra mim é tudo. Tudo abaixo de Deus e da minha mãe! Essas coisas que ela falou, é uma questão de interpretação. Muitas coisas que saem na mídia são coisas cortadas”, diz.

Do mesmo sentimento compartilha Rafaela Ribeiro, mulher trans de 34 anos que é dona de casa e ganhou um “vale night” do marido ciumento para curtir  a “ídola”. “Na maioria das vezes, é mídia, não é isso? As vezes o pessoal não entende a maneira como ela pode ter falado aquelas coisas. Mas devido a eu ser trans há muitos anos, eu tiro de letra qualquer tipo de preconceito. E até hoje, pra ser bem sincera, eu não tenho certeza se aquilo foi verdade mesmo”, defende.

Dor de cotovelo

 

Fabio Nunes
(foto: Fabio Nunes)
Já Chimbinha- o ex-marido e companheiro profissional dos tempos da banda Calypso de quem Joelma se separou recentemente - ninguém perdoa. Numa espécie de catarse de quem está se curando de profundas dores de cotovelo, a paraense puxou, emocionada, os inflamados hits Não teve amor (tem coisas na vida que a gente não perde, a gente se livra) e A página virou (Pra frente é que se anda / Pra frente se deve andar). Nas duas músicas, contou com o coro entregue e solidário dos fãs, que aproveitaram para expurgar as próprias dores de amor. Comovida, agradeceu o apoio: “Obrigada por transformarem minha tristeza em alegria”.

No embalo de Ivete Sangalo, pessoalmente convidada pela nortista, o clima foi de delírio. A canção Amor novo, que as amigas não ensaiaram previamente, teve que ser repetida três vezes até que o tom fosse acertado. A impressão foi de que o público teria aplaudido outras 30 tentativas.

Solange Almeida coroou o momento “sororidade feminina”, ao entoar ao lado da colega a música Mulher não chora. “Vim prestigiar essa mulher batalhadora. Porque nós somos dessas e quem quiser amar a gente que sofra.”

 

Três trocas de roupa depois, a passarela em formato de bota (marca registrada de Joelma), iluminada sem economia com luzes de led, recebia os três filhos da ex-vocalista do Calypso: Yago, Nathália e Iasmin. Era hora do momento gospel. Com lágrimas nos olhos e mãos erguidas para o céu, a família cantou o faixa O amor de Deus.

Com uma das mãos para cima, outra no peito, a plateia orou junto.

Quarto e último bloco da gravação, momento do amém final, ao som de antigos sucessos do Calypso.

Cinco da manhã: bis e fim de culto.

 

 

*A repórter viajou a São Paulo a convite da Universal Music

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