Zé Miguel Wisnik e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais mostram novos arranjos para canções de Beethoven

Apresentações acontecem na sexta, sábado e domingo no Palácio das artes

por Walter Sebastião 06/10/2016 10:30
Renato Stockler/Divulgação
O cantor e compositor Zé Miguel Wisnik fará três apresentações no Grande Teatro do Palácio das Artes, sexta, sábado e domingo (foto: Renato Stockler/Divulgação )

“Estou chegando a Minas Gerais para mergulhar num mar sinfônico”, brinca o compositor José Miguel Wisnik. O cantor e compositor é o convidado do projeto Sinfônica Pop, em que a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG) apresenta peças de música popular com arranjos próprios.

 

Nas apresentações de amanhã a domingo no Palácio das Artes, figuram obras criadas por alguém tem formação em piano clássico, que se dedica a canção popular e é professor de literatura. São canções escritas entre 1993 e 2011, escolhidas por terem vocação orquestral.


Para Wisnik, orquestras expandem composições, devolvendo ao autor uma visão de si mesmo. “Eu me pergunto e fico esperando que alguém me diga o que o essencial a minha composição. Quando a gente compõe, está dentro da música e é dificil ouvir o que fez como ouve a musica de outra pessoa. O que dizem é que é possível reconhecer certas músicas como sendo minhas”, conta.

O compositor considera música de concerto e canção popular campos diferentes que, no Brasil, se cruzam de modo muito frequente. “No fundo, nos dois campos, quando a composição te surpreende, o que se ouve é a essência da música, algo que te conduz, faz você voar com ela”, garante, “esse é o mistério da música”.

 

“O Brasil tem vocação para criar dialogos, aproximações, entre a musica popular e a de concerto, entre a poesia de livro e letra de canção. É namoro importante para nossa música”, afirma. O músico elogia o projeto exatamente por abrir espaços para que este encontro aconteça. “O que é importante porque temos história de encontros assim muito ricos e felizes”, explica.

“A música de qualidade se direciona a várias roupagens”, afirma o maestro Sílvio Viegas, que faz sua estreia no Sinfônica Pop. Ele acredita que o projeto pode ser a porta de entrada para a música clássica para um público que não está acostumado a ir ao teatro escutar uma orquestra, mas é atraído pelos grandes nomes da música popular brasileira. “Tem qualidades em todos os gêneros”, lembra.

Fazer a transição entre músicas populares e a música erudita não é fácil. Quem afirma é Fred Natalino, um dos arranjadores das canções de Wisnik para a OSMG. “O desafio é conseguir o ponto de equilíbrio”, diz o pianista, que já enfrentou essa tarefa ao adaptar para a série músicas de João Bosco, Milton Nascimento, Lenine, entre outros.

 

Faz cerca de um mês e meio que, em permanente contato com Wisnik, Natalino trabalha em novos arranjos para as canções do paulistano. “Vira uma parceria entre o arranjador e o compositor”, defende.

Natalino conta que a peça mais trabalhosa do repertório é a abertura, que será interpretada antes de Wisnik entrar no palco e pretende percorrer vários pontos da carreira do artista, combinando 29 canções – entre elas, a 5ª sinfonia, de Beethoven, e o Concerto Nº 2, do francês Camille Saint-Saëns, obra simbólica para Wisnik, pois foi tocando-a ao piano que o músico estreou nos palcos.

 

Nessa homenagem, erudito e popular se fundem e Beethoven se mescla com baião. Anoitecer, Saudade da saudade e Xique-xique são algumas das obras que integram o repertório.

“Canção para mim é encontro da palavra com a música”, atesta Wisnik, observando que chegar a este ponto é o desafio de quem investe na área.  “Adoro cantar. E acho que um compositor de canções tem sempre um testemunho a dar sobre o que ele fez. Tem intenções da obra que ele passa no canto e assim dá o seu recado”, conta.

Wisnik também considera campos distintos poesia e letra de música. “Mas são caminhos que, na música brasileira, se cruzam defazendo fonteiras. Quem, no país, abriu este caminho foi Vinícius de Moraes”, observa. “E quem vai dizer que Vinícius de Moraes é mais poeta no livro do que na música? Eu não digo isso, apesar de considerar que são campos difentes”, avisa. Trata-se de “gaia ciencia”, ou seja um “saber alegre”, “que só existe no Brasil”.

SINFÔNICA POP  – ZÉ MIGUEL WISNIK
Grande Teatro do Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Amanhã e sábado, às 20h30; e domingo, às 19h. R$ 50 (inteira)  e R$ 25 (meia).

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