Paulo Santos, ex-Uakti, lança disco com Hurtmold

Em 'Curado', o veterano mineiro contribui com composições, arranjos e improvisos, conferindo novos climas à música da banda paullistana

por Kiko Ferreira 21/09/2016 09:20
Alexandre Nunis/divulgação
(foto: Alexandre Nunis/divulgação)
Um poema do curitibano Paulo Leminski esclarece: “Nem toda hora é obra/ nem toda obra é prima/ algumas são mães/ outras irmãs/ algumas/ clima”. O clima é um dos elementos fundamentais na música de bandas como Pink Floyd, Radiohead, Sonic Youth, Sigur Rós e da brasileira Hurtmold, que agora dialoga com o percussionista mineiro Paulo Santos (ex-Uakti) no álbum Curado, lançamento do selo Sesc.

Formado por Guilherme Granado (teclados, vibrafone e percussão), Marcos Gerez (baixo e sintetizador), Mauricio Takara (bateria, percussão, vibrafone, guitarra e sintetizador), Fernando Cappi (guitarra, vibrafone e percussão), Mário Cappi (guitarra) e Rogério Martins (percussão, clarinete, clarone e teclado), o Hurtmold foi formado em 1998, em São Paulo. Tem seis discos instigantes no catálogo e ganhou projeção nacional ao acompanhar Marcelo Camelo no lançamento de sua carreira solo.

Em 2008, nos palcos do festival mineiro Eletronika, Hurtmold se encontrou com Paulinho Santos. E andaram pelo mundo tocando juntos, até chegar ao estúdio paulista El Rocha, de fevereiro a abril deste ano, para gravar Curado.

O arsenal do percussionista mineiro dá ideia de como sua contribuição, seja na coautoria, nos arranjos e nas improvisações, ajudou na criação e variação dos climas. Paulinho usa darbuka, saxtubo, cacho de PVC, trimi, berimcéu, kalimba elétrica, flauta de PVC, tubo em lá, erhu e flauta de bambu. Tudo na melhor tradição Uakti de inventar instrumentos e sonoridades.

As trilhas que Paulo Santos vem criando, algumas registradas no instigante álbum Músicas para performances de Éder Santos, reforçam o acerto da parceria com o Hurtmold. Tanto que, das 10 faixas, apenas uma, Bulamayo, não traz seu nome como autor. A composição já havia sido registrada no CD Cozido, de 2002. Aliás, a analogia com a culinária é oportuna. A versão original é mais simples, direta e objetiva. Como o queijo ou o presunto que ganham sabores com o tempo e a maturidade, a música ganha corpo, novos odores, sabores, significados. E climas.

Art-rock, post-rock, math-rock, pós-progressivo, música experimental… Seja o rótulo que o especialista da vez quiser adotar, a música do Hurtmold é coerente, consistente e desafiadora. E o diálogo com Paulo Santos amplia geografias, cartela de timbres e elenco de ousadias. Um disco para ouvidos de fino trato com disposição para surpresas e aventuras.

CLIMA EXPERIMENTAL
Hurtmold e Paulo Santos
Selo Sesc
Preço sugerido: R$ 20

MAIS SOBRE MÚSICA